Identificar, traduzir e expressar emoções difíceis

As emoções difíceis, que são a maioria, combinam sentimentos que parecem contraditórios entre si. No entanto, ao identificá-las e expressá-las, fomentamos a boa comunicação com nós mesmos e com os demais.
Identificar, traduzir e expressar emoções difíceis
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 09 julho, 2020

Quando falamos de emoções difíceis nos referimos àquelas que não se apresentam em estado puro, ou seja, a maioria. Como quando você sente ódio e amor ao mesmo tempo (coisa que acontece quase sempre), ou quando a compaixão se mistura com a ira, ou a raiva com a tristeza.

Às vezes tudo é sentido globalmente como um mal-estar, mas não se sabe precisar quais são as emoções que desencadeiam um determinado estado emocional.

Em algumas ocasiões, sobretudo se não tivermos o costume, é preciso fazer um árduo trabalho até identificá-las, traduzi-las em pensamentos e expressá-las em voz alta. Cada um destes passos pode ser muito complexo, mas todos são necessários para sair de um estado emocional que não desejamos.

No sentido estrito, não há palavras suficientes ou exatas para expressar as emoções difíceis. Talvez por isso mesmo exista a poesia: uma linguagem polissêmica que reflete a imprecisão própria dos sentimentos e emoções que nos habitam. Muito além das manifestações artísticas, às vezes precisamos buscar meios para nos comunicarmos.

“Sua inteligência pode ser confusa, mas seus sentimentos nunca vão mentir”.
-Roger Ebert-

Mulher com um bom pressentimento

As emoções difíceis e suas expressões

Um reflexo do quanto o processo de calibrar e expressar as emoções pode ser complicado é encontrado no fato de que algumas palavras não têm tradução de um idioma ao outro. Não há maneira de levar seu significado de uma língua à outra, precisamente porque elas têm uma marca de complexidade ou estão muito associadas a um determinado contexto social. Vejamos alguns exemplos:

  • Freizeitstress: é uma palavra alemã que faz referência ao estresse sentido quando fazemos atividades simplesmente para preencher o tempo livre.
  • Lítost: uma palavra tcheca que tem a ver com a sensação que surge quando nos damos conta de que somos miseráveis, e parece que isso é irremediável.
  • Gigil: um termo filipino que significa querer “apertar” algo por causa da ternura que desperta em nós.
  • Sukha: uma expressão em sânscrito para definir o tipo de felicidade que não é sentida como passageira, e sim transcendental. Uma felicidade profundamente feliz e duradoura.

Muitas vezes, no exercício da tradução, não temos como transportar estes termos estranhos de um idioma ao outro sem aumentar o tamanho do texto. Não encontramos uma forma de identificar, nem de traduzir, nem de expressar as emoções difíceis. Não conhecemos a palavra que consiga identificá-las. Isso nos causa inquietação porque a impossibilidade de nomear algo também nos impede de lidar com este algo.

O caminho para identificar as emoções difíceis

Basicamente, estamos acostumados a encapsular nossas emoções em cinco grupos fundamentais: alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. Às vezes o que sentimos corresponde exatamente a uma destas emoções básicas. No entanto, também há momentos em que todas elas são globais demais para nos permitir ser precisos. Nosso medo envolve nojo ou nossa raiva é medrosa.

O que configura as emoções difíceis é o fato de que elas se misturam com outras emoções, aparentemente muitas diferentes entre si. Para poder identificá-las, a primeira capacidade que entra em jogo é a de flexibilizar nosso pensamento. Devemos compreender que não podemos encontrar uma forma de nomeá-las, já que não correspondem a sentimentos categóricos.

Também devemos nos despojar da tentação de avaliar as emoções a partir de um plano ético: não há emoções ruins nem boas. No entanto, em relação a suas consequências, uma emoção pode ser muito boa ou muito ruim.

O que vai decidir isso, em última instância, é nossa gestão desta emoção e da energia associada a ela. Dito de outra forma, uma emoção não pode ser um antecedente de nossos atos, nunca pode justificá-los. Por outro lado, é importante abandonar a ideia de reconciliar o irreconciliável. A alegria triste é alegria triste, e não é obrigatório que uma das duas predomine sobre a outra.

Expressar as emoções

A importância de definir e expressar

A expressão liberta, assim como a impossibilidade de dizer comprime e estressa. Assim, dizer com palavras o que sentimos enriquece a comunicação com os demais, melhorando também a qualidade do nosso diálogo interno. Além disso, fomenta a compreensão, o entendimento, a empatia e a paz interior e exterior.

Para dar voz a estas emoções, é necessário fazer um exercício de análise que nos permita separar as emoções que deram lugar ao estado global, bem como a influência de cada uma.

Se se trata de uma alegria irritada, então falamos de alegria e de ira. Quando se trata de uma tristeza enojada e medrosa, há três emoções básicas envolvidas. Certamente, cada um destes conceitos pode ser mais preciso. A ira pode ser irritação, fúria, aborrecimento e mil outras coisas. É importante encontrar a palavra que melhor se adapta ao que estamos sentindo.

Um exercício que ajuda a completar esse processo de identificar, traduzir e expressar emoções difíceis é o seguinte: tente construir uma frase com o início “Me sinto… quando…” Procure aplicar esta frase a todas as emoções que estão envolvidas. No fim, releia o que escreveu e integre-o no seu interior. É um exercício interessante que pode dar como resultado uma poesia, juntamente com uma melhor compreensão do nosso estado emocional.


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  • Montañés, M. C. (2005). Psicología de la emoción: el proceso emocional. Universidad de Valencia.

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