Combater a depressão é uma forma de superar a pobreza

Combater a depressão é uma forma de superar a pobreza

Última atualização: 06 maio, 2017

É curioso que esta pesquisa, relacionada à felicidade, à pobreza, à depressão e à ansiedade, não tenha sido elaborada por psicólogos. Foi um grupo de economistas que assumiu a tarefa de investigar como estas variáveis influenciam a qualidade de vida. Além disso, detectaram o vínculo que existe entre diferentes condições mentais e a pobreza.

A pesquisa foi realizada pela London School of Economics (LSE), na Inglaterra. Pegou-se como base um grupo de 200 mil pessoas em todo o mundo. O trabalho foi dirigido por Richard Layard, uma autoridade em questão de qualidade de vida e felicidade. Uma de suas hipóteses era que a felicidade está mais relacionada com os fatores psicossociais do que com ganhos financeiros. A pesquisa mostrou que isso era verdade.

“A pobreza não vem pela diminuição das riquezas, mas sim pela multiplicação dos desejos.”
-Platão-

Mas além disso, a pesquisa no seu todo provou uma coisa que Layard resumiu em uma única frase: “Cuidar da depressão e da ansiedade é quatro vezes mais eficaz do que lutar contra a pobreza”. Esta afirmação lhe valeu muitas críticas. Um setor pensou que simplesmente advogava pela redução da luta contra a pobreza. Contudo, também pode se interpretar que a pobreza é filha de certas condições mentais como a depressão.

A relação entre depressão e pobreza

As cifras sobre depressão no mundo são alarmantes. A Organização Mundial da Saúde afirmou que 1 em cada 10 pessoas no mundo padecem de uma depressão maior, e que 1 em cada 5 indivíduos já a sofreram alguma vez ao longo de suas vidas. Mas de que forma podemos relacionar a depressão com a pobreza?

Tradicionalmente enxergamos o esquema desta forma: a pobreza traz consigo uma tendência à depressão. Parte-se do princípio de que não ter dinheiro suficiente para subsistir sem carências é, por si só, uma circunstância que leva à depressão. Isto parece muito lógico a princípio.

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Contudo, pesquisas como a de Layard demonstram que existem pessoas que duplicaram seus ganhos e que, apesar disso, não aumentaram seu grau de felicidade. Também é fácil observar que países com altos índices de capacidade de consumo, como o Japão, por exemplo, também têm altos índices de depressão. Ao contrário, países latino-americanos que possuem índices de pobreza significativos aparecem nas melhores posições nas listas que organizam os países em função do grau de felicidade percebida pela população.

O que se sabe é que a aparição da depressão demanda grandes despesas para a pessoa, as famílias e os países. Uma pessoa deprimida é menos produtiva e tem um índice mais alto de absenteísmo trabalhista. Também, eventualmente, precisa depender da assistência social para suportar a sua condição ou resolver a impossibilidade de trabalhar. O Banco Interamericano de Desenvolvimento apontou que até 4% do PIB dos países é gasto para cuidar de problemas mentais e emocionais.

Investir em saúde mental é investir em riqueza

Podemos entender que a precariedade na qual vivem algumas pessoas implica para elas um profundo impacto emocional. Nessas condições é fácil cair em depressão. Contudo, segundo a pesquisa do BID, não é a pobreza em si mesma que origina a depressão. O que leva à tristeza é a desigualdade. Entristece viver em uma realidade na qual outros tem de sobra, enquanto alguns vivem na absoluta carência.

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Também influencia, obviamente, o fato de que vivemos em sociedades consumistas. A capacidade de compra é vista em muitos casos como uma fonte de felicidade. Normalmente achamos que poder comprar sem medo de gastar demais traz paz interior e bem-estar. Contudo, existem milhares de pessoas que têm grandes fortunas, compram quando querem e, apesar disso, estão deprimidas.

Parece ser muito mais óbvio o caminho que vai da depressão à pobreza do que o oposto. Uma pessoa mentalmente saudável e motivada pode enfrentar as carências de uma forma assertiva e com energia. Procura e encontra trabalho com mais facilidade e não toma decisões que sejam sementes de pobreza a longo prazo.

Por isso, os próprios economistas dão destaque à importância de investir em saúde mental de forma paralela aos investimentos para lutar contra a pobreza.

Nem a saúde mental se alcança com o dinheiro, nem se perde pela falta dele. O assunto vai mais além. Tem a ver com as imposições de uma sociedade ávida pelo consumo, onde para ser, é preciso ter. O investimento em saúde mental não consiste em formar mais psicólogos nem em abrir mais hospitais. Refere-se muito mais a promover momentos e locais para que o ser humano possa escolher e ganhar ciência da realidade de verdade, não a que as telas infiltram e angustiam. E, obviamente, construir o seu próprio projeto de vida de uma forma mais sadia para nós mesmos.

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