Você é de plástico, de vidro ou de aço? Como desenvolver resistência

Você é de plástico, de vidro ou de aço? Como desenvolver resistência
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Você é de plástico, de vidro ou de aço? O modo como enfrentamos as dificuldades cotidianas determina o material de que somos feitos. O que se sabe hoje sobre como enfrentamos os problemas é que nunca é tarde para alterar o elemento que determina nossas reações, ou seja, para nos tornarmos mais fortes, de um material ainda melhor e capaz de resistir às intempéries. Nunca é tarde para desenvolver resistência.

Se há um aspecto decisivo para aproveitar um bem-estar mental e emocional adequado, esse é compreender que tipo de mecanismos utilizamos perante os obstáculos da vida. Nesse contexto, dois dos comportamentos mais comuns que costumamos ter no nosso dia a dia são, por um lado, a evitação, e por outro a quietude ou “não resistência”.

“A medida mais segura de toda força é a resistência que vence.”
-Stephan Zweig-

Longe de nos culpabilizarmos por não sabermos emitir uma alternativa a esses comportamentos quando sofremos de estresse, quando uma terceira pessoa nos destrói ou quando nos vemos em um túnel sem saída, o que temos que fazer é prestar atenção aos aspectos mais relevantes nesses momentos. A necessidade de fugir ou de ficarmos quietos são respostas pré programadas em nosso cérebro.  São mecanismo de defesa que já vieram conosco de fábrica, e que se não atualizarmos o sistema ficaremos com essas resistências que são, na verdade, desenhadas para a nossa sobrevivência, mas que não contribuem para a nossa felicidade.

Nesse sentido, desenvolver a resistência de cada um é um aspecto diretamente relacionado com nosso nível de bem-estar. Entendê-la pode nos ajudar, e muito, nesse objetivo.

Cérebro florido

Cérebros mais e menos resistentes ao estresse emocional

A maioria de nós já se fez essa pergunta alguma vez: “Por que há pessoas capazes de enfrentar a adversidade de um modo tão tranquilo?”. Ficamos admirados com sua serenidade, seu otimismo e seu olhar capaz de enxergar possibilidade onde os outros conseguem ver apenas muros e grades. Essas pessoas se prepararam previamente para o problema? Fizeram cursos, têm talvez uma sabedoria inata, ou seu cérebro é simplesmente diferente?

Bom, ficaremos com a última opção: a resposta está em seus cérebros. Desse modo, e por mais estranho que possa nos parecer, há pessoas com cérebros muito mais resistentes ao estresse. Há personalidades com mais recursos emocionais para acalmar a ansiedade, para evitar discursos mentais irracionais em situações limitantes, etc. A faculdade de medicina Weill Corner, em Nova York, realizou um trabalho bem interessante em que o resultado determinou, entre outras coisas, uma relação direta entre uma criança possuidora de um apego saudável e uma resposta mais hábil diante do estresse e da ansiedade.

Menino pequeno diante da lua cheia

Uma atenção inadequada ou uma educação repleta de carências afetivas altera o desenvolvimento cerebral das crianças. A estrutura específica que mais é afetada é a amígdala, um centro de controle neurológico tão antigo evolutivamente e tão sofisticado que se encarrega justamente de regular o medo e nossas emoções. Desse modo, uma criança que tenha experimentado uma infância deficitária em x aspectos apresentará mais dificuldades para gerir suas emoções, tanto na própria infância quanto mais tarde na vida adulta.

Você é de plástico, vidro ou aço?

Conforme falamos no início do texto, não importa o tipo de mecanismo que utilizamos hoje para responder a dificuldades que surgem, para lidar com o estresse e com a adversidade. Não importa se somos o tipo de pessoa que foge, ou o tipo que fica parada como uma torre de madeira no meio da tempestade, até que esta se quebra e desmorona. Todos podemos aprender novas estratégias e, dessa forma, modificar o nosso cérebro. Isso é possível por causa da plasticidade cerebral – a capacidade do nosso cérebro de sofrer mudanças, de ser plástico.

Treinar e estimular o cérebro para que ele tenha novas formas de olhar e novas estratégias o torna uma máquina mais resistente, mais habilidosa e mais sofisticada. O objetivo é alcançar o ponto em que nosso cérebro não nos ajude apenas a sobreviver, ligando o interruptor do medo perante situações que nossa mente interpreta como perigosas. O que queremos no fundo é que ele nos acompanhe, que seja nosso cúmplice no caminho da felicidade.

Vamos então ver a seguir quais são os três tipos de resposta perante o estresse, e como desenvolver resistência em relação a cada uma delas.

A resposta do aço

O estresse bate e volta nas pessoas de aço. Esse tipo de resposta, longe de ser saudável, traz muitos riscos. Ser completamente impermeável ao estresse tirará todas as chances de aprender algo com as situações que se colocam e o causam. Além disso, de certo modo ninguém consegue ser completamente impermeável, ninguém é de aço de verdade, porque nosso revestimento é feito de algo muito mais sutil, que são as emoções.

Mulher tomando soco de flores

O que se pode fazer nesse sentido é entender que longe de sermos um muro diante dos problemas, e conseguir a façanha de fazê-los rebater em nossa couraça, devemos nos dotar de habilidades para gerir melhor o que chega diante de nós: o objetivo é filtrar, manejar, entender e transformar a situação.

A resposta do plástico

Dentre os modos de lidar com a resistência, é interessante o fato de que a maioria de nós aplica essa estratégia. Suas características são as seguintes:

  • Temos diversos pontos remendados em nós, efeitos do estresse e da adversidade.
  • Somos flexíveis e temos alguma resistência. No entanto, muitas vezes temos a clara sensação de que vamos quebrar. É como viver se equilibrando na corda bamba.

A resposta do vidro

Conforme podemos imaginar se pensarmos em um vidro, a resposta dessas pessoas não é a mais adequada. Na verdade, é a pior de todas. Essa é a pessoa que dispõe de menos recursos para lidar com o estresse, é aquela que, depois de fazer um grande esforço para ceder, para se adaptar, termina quebrando. Dessa forma, o que chega até ela a deixa em pedaços.

Controle emocional saudável: como desenvolver resistência

As dicas para ter uma resistência mais saudável nos dizem o seguinte: temos que criar um ponto intermediário entre a força e a flexibilidade, um espaço de maturidade em que sabemos gerir, priorizar e transformar. Se deixarmos que nossas defesas psicológicas inatas falem mais alto, estaremos optando pelo material de menor resistência: o vidro.

Por outro lado, se escolhermos o material de maior resistência estaremos fazendo uso de toda a nossa energia para nos opormos a algo, para construirmos um muro que nos proteja da vida. Essa sem dúvida é a estratégia do aço.

Mulher no mar

Então nenhuma dessas respostas é boa? O que devemos fazer então, como lidar? A chave para desenvolver uma resistência mais saudável está em empoderar nossa autoconfiança para sabermos que podemos ter algo melhor. Por isso, não deixaremos que aquele momento nos destrua, que nos quebre, nem colocaremos uma armadura e ficaremos esperando o impacto da tormenta.

É preciso construir um material no meio do caminho. Com características de um diamante e também de um bambu. Um material flexível, mas forte, que permita que nos movamos com as dificuldades para aprender com elas. Um material que ainda que se dobre, volte para sua posição original tendo aprendido algum ensinamento importante da situação, para avançar com ainda mais fluidez.

Comecemos hoje mesmo a trabalhar para o bem da nossa energia vital.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.