Como falar com alguém sobre nossos problemas

Você tem que falar sobre o que dói para que doa menos, mas como? Como começar? O mais importante é escolher bem a pessoa a quem vamos revelar nossos problemas.

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Quando nosso carro quebra, sabemos onde ir para consertá-lo. Quando uma parte do corpo dói, sabemos dizer para o nosso médico exatamente onde dói e detalhar como é essa dor. Agora, quando estamos preocupados com algo, as coisas mudam. Não só temos que pensar com quem compartilhar, mas às vezes não sabemos como falar sobre nossos problemas ou como começar.

Colocar em palavras o que dói, incomoda, gera ansiedade, medo ou angústia, não é uma tarefa fácil. Há sensações tão avassaladoras que não cabem em um adjetivo. Há emoções tão dolorosas que são imensuráveis e dificilmente podem ser traduzidas em uma ou dez frases. Da mesma forma, há também a vergonha e o medo inevitável de ser julgado quando detalhamos o que nos acontece.

Isso explica a importância de saber escolher com quem vamos compartilhar nossos problemas. Porque na maioria das vezes não buscamos conselhos ou que outros se preocupem com o que nos acontece. O que mais desejamos quando a vida nos sobrecarrega é que nos ouçam, nos compreendam e saibam nos acompanhar. Nada mais.

Vamos nos aprofundar nas ferramentas que facilitam que nos expressemos com mais facilidade nessas situações.

Dicas para saber expressar nossos problemas

Se queremos cuidar da nossa saúde mental com a mesma diligência que cuidamos do nosso corpo, devemos falar sobre o que dói. Como diz umm velho ditado, um problema compartilhado é um problema dividido pela metade. No entanto, algumas pessoas não estão acostumadas a compartilhar com alguém o que as mantêm acordadas à noite, o que está diminuindo seu equilíbrio e bem-estar.

Sabemos que, em média, os homens têm um pouco mais de dificuldade em se abrir e especificar o que os deixa ansiosos, com medo ou preocupados. De alguma forma, uma parte deles ainda acha que se abrir emocionalmente é sinônimo de fragilidade. Eles foram ensinados que se espera que eles mesmos resolvam os problemas sem pedir ajuda.

Esse lastro cultural tão distorcido sobre a masculinidade ainda é um problema. A taxa de suicídio no sexo masculino está aumentando. É necessário implantar uma cultura baseada naqueles primeiros socorros emocionais que resultam quando compartilhamos as preocupações com pessoas de apoio válidas.

1. Escolha bem com quem você vai se abrir

Nem todas as pessoas ao seu redor são adequadas para ouvir e entender seus problemas. Você pode amar muito seu melhor amigo ou irmão, mas nem sempre eles se destacam como os melhores confidentes.

Encontre alguém que, acima de tudo, saiba ouvir e se conectar emocionalmente com você. Sem julgar, sabendo ser refúgio e amparo.

2. Conte sua história desde o início

Algo curioso acontece com os problemas: eles nunca vêm sozinhos e às vezes têm ramificações e muitas extensões. Quase sem saber como, alguns contratempos levam a outros e a vida se torna infinitamente complicada para você. Isso significa que, quando se trata de falar sobre o que acontece com você, você nunca sabe como começar. A única coisa que você pode pensar em dizer em voz alta são frases como “é tudo muito complicado”.

Pense que você é um narrador que vai detalhar uma história que tem começo, meio e fim e que o levou à situação em que se encontra. Deixe-se levar e se em algum momento precisar desabafar e chorar, não hesite em fazê-lo.

3. Use rotulagem emocional

Essa é a parte mais complicada. Toda emoção sentida deve ser expressa em palavras, ou seja , você deve fazer uso de rotulagem emocional. Isso é relevante. Além disso, um estudo feito na Universidade da Califórnia revela que esse recurso gera grande alívio mental.

Tanto que se observou que quem desabafa o que sente em palavras apresenta uma redução da atividade da amígdala cerebral. Ou seja, essa região ligada ao estresse e ao processamento de emoções de valência negativa, diminui sua intensidade para nos dar certa sensação de calma.

4. Pratique a autocompaixão

Para saber como falar sobre nossos problemas com alguém, há uma série de crenças errôneas que você deve desinfetar de sua mente. Fazer isso permitirá que você se abra muito melhor para os outros.

• Ninguém vai te julgar ou criticar. Antes de falar com essa pessoa, fale consigo mesmo com respeito e compaixão: você merece se sentir melhor, você merece apoio, compreensão e carinho. Ninguém precisa menosprezar ou penalizar sua realidade pessoal.
• Nada do que acontece com você é censurável e você não deve se envergonhar disso. No momento em que você colocar em voz alta o que o prende e o preocupa, você encontrará alívio.
• Você não é falível, nem fraco, nem há nada de errado com você. Você é uma pessoa que está passando por um momento ruim e que vai conseguir resolver esse contratempo. Nada dura para sempre. Tudo ficará melhor assim que você realizar o melhor ato de coragem: compartilhar com alguém o que acontece com você.

Falar sobre nossos problemas não resolve, mas é o melhor ponto de partida

É claro que apenas falar sobre nossos problemas não vai resolvê-los, no entanto, é assim que começa. A primeira coisa que notamos ao compartilhar, desabafar e conversar com alguém é o alívio. Vamos descarregar muitos pesos, para nos sentirmos protegidos e validados. Entenderemos que é hora de focar no que podemos fazer e em quais aspectos estão sob nosso controle.

Falar sobre o que nos dói faz com que tudo doa um pouco menos e isso não tem preço. Vamos fazê-lo, não hesitemos em procurar aquela pessoa especial ou um profissional especializado para colocar em palavras o que hoje nos tira o sono. A vida pode nos mudar a partir desse momento.