Como lidar com um parceiro que aplica a lei do gelo

A lei do gelo representa a reação internalizada de boa parte da população diante de um conflito. Falamos sobre suas consequências desastrosas para o casal e quais medidas podemos tomar para eliminá-la.
Como lidar com um parceiro que aplica a lei do gelo
Andres Camilo Espinosa Poveda

Escrito e verificado por o psicólogo Andres Camilo Espinosa Poveda.

Última atualização: 12 novembro, 2023

Todos nós já passamos por isso em algum momento. Depois de uma briga, a outra pessoa para de falar conosco, não responde às nossas tentativas de interação, ignorando completamente nossa presença: nos aplicaram a lei do gelo. A experiência pode ser frustrante, desgastante e desmotivadora, causando danos irreparáveis ao relacionamento.

A lei do gelo pode ser aplicada em qualquer relacionamento: família, amigos, colegas de trabalho ou de escola, mas nos relacionamentos amorosos é ainda mais prejudicial, dado o lugar especial que o parceiro ocupa em nossas vidas. Embora não seja uma tarefa fácil, hoje veremos algumas diretrizes que podem ser utilizadas quando enfrentamos a lei do gelo nesse âmbito.

Identificar os padrões

A lei do gelo é fácil de identificar: nosso parceiro para de responder ou o faz com uma frieza impenetrável. A marca desse comportamento (e o que o torna tão perigoso) é que ele bloqueia a comunicação e qualquer esforço para restaurá-la. Quase todos nós já fomos vítimas da lei do gelo (e podemos até ter sido vitimizadores), então este artigo pode ter resgatado da sua memória algumas etapas da sua vida. A questão é que nem em todos os casos a lei do gelo ocupa o mesmo lugar na relação, e esse elemento é fundamental.

Quando o parceiro aplica a lei do gelo, é importante não recompensá-lo.

1. Um marco anedótico

Nesse caso, a lei do gelo não é um padrão de relacionamento, mas um marco anedótica. Em todos os relacionamentos há divergências e mal-entendidos. Pode ser que alguma discussão intensa tenha feito o outro se afastar, para se recuperar ou se proteger. Nesses casos, à frustração produzida pela lei do gelo deve somar-se a surpresa, pois não é um comportamento frequente.

Quando ocorre dessa forma, a lei do gelo é uma resposta à intensidade emocional do momento, portanto não é necessariamente um sinal de alarme. É importante reconhecer que, nesse momento, a discussão saiu do controle e que o tempo a longo prazo pode ser positivo. Uma vez que a calma voltou, é essencial falar sobre o que aconteceu.

Como o momento mais difícil passou, é tentador deixar as coisas como estão e seguir em frente, mas isso pode ser contraproducente. É melhor reservar um tempo para conversar com calma sobre o que aconteceu. Assim, da próxima vez que uma discussão se tornar muito forte, em vez de cair na lei do gelo como forma de fuga, os dois entenderão que se abriu um tempo de reflexão com o qual ninguém quer castigar ninguém.

2. Quando todas as discussões terminam na lei do gelo

Torna-se um problema quando um dos membros do casal usa a lei do gelo como estratégia para fugir do conflito. Assim, em cada discussão ou desacordo, a pessoa simplesmente bloqueia a comunicação e deixa de responder. Isso pode ser porque a lei do gelo funcionou no passado para acabar com as discussões, então o casal aprende a usá-lo cada vez mais.

Para não chegar a esse ponto, é importante não deixar discussões sem solução, como vimos na seção anterior; mas se já é um padrão consolidado, para reverter é preciso fortalecer a comunicação do casal. É importante que os membros reconheçam sua responsabilidade nas divergências, que evitem o mau hábito de atribuir responsabilidade apenas ao outro e que concordem em não cair no gelo como forma de resolver os problemas.

Acordos podem ser estabelecidos como “se você está com tanta raiva que não quer falar comigo, pode me dizer e eu prometo lhe dar espaço para se acalmar”. A ideia é não deixar que emoções como a raiva marquem a forma como nos comunicamos.

3. Quando a lei do gelo é uma forma de manipulação

Estamos falando de um problema de maior escala. Nesse caso, um dos parceiros usa a lei do gelo intencionalmente como forma de manipular o outro. Não é mais uma resposta emocional, mas uma ação planejada e voluntária. Isso pode acontecer porque a pessoa aprendeu, no relacionamento atual ou em um anterior, que a partir da lei do gelo pode obter benefícios muito interessantes, como a atenção do outro.

É importante reconhecer quando isso acontece, pois a pessoa que usa a lei do gelo recorrerá a ela sempre que achar conveniente, e a utilizará para manipular a outra pessoa, trazendo sentimentos de culpa e insatisfação. É muito perigoso porque essa estratégia insidiosa pode agir de forma oculta: a vítima não percebe que está sendo manipulada, acaba cedendo aos desejos do parceiro e pode até afetar relacionamentos posteriores.

Uma comunicação bem-sucedida pode ajudar a pessoa a reconhecer que está usando a lei do gelo para conseguir o que deseja e desistir de usá-la, mas lembre-se de que, como é uma estratégia que ela usa voluntariamente, pode não querer deixá-la de lado, e até mesmo que finja mudar como parte de sua manipulação. Nesse caso, o mais saudável pode ser se afastar.

A lei do gelo pode ser usado para manipular o parceiro.

O que fazer no momento da lei do gelo

Depois de rever os possíveis padrões em que a lei do gelo pode ser apresentada, veremos algumas dicas sobre o que fazer no momento que ocorre. Normalmente, quando ela surge, as emoções são muito alteradas, por isso é importante internalizar essas orientações e, assim, poder usá-las no momento certo.

  • Mantenha a calma. A frieza do nosso parceiro pode nos causar frustração e raiva, mas é importante não se deixar levar por essas emoções. Regule sua respiração e evite linguagem ofensiva. Se você achar difícil se acalmar, fique distante enquanto a tensão emocional se dissipa.
  • Reconheça os sinais que seu parceiro lhe dá. Há gestos, atitudes e ações que revelam quando a parede de gelo que seu parceiro colocou está derretendo. É quando você pode restabelecer os canais de comunicação. Se a outra pessoa não estiver disposta a falar, é melhor esperar um pouco mais.
  • Use uma linguagem conciliadora. Evite palavras agressivas e assuma sua parte de responsabilidade como membro do relacionamento. Reconheça as emoções do outro, deixe-o saber que você se preocupa com o bem-estar dele e que quer fazer a sua parte para que tudo melhore.
  • Não recompense a lei do gelo. Evite a todo custo qualquer recompensa por esse comportamento. Continuar discutindo, mesmo que a pessoa não responda, mostrando culpa excessiva, cedendo aos desejos do outro para que ele volte a prestar atenção em nós, são formas de recompensar a lei do gelo. Em vez disso, espere até que a outra pessoa esteja pronta para falar e abordar os problemas de forma assertiva.

Você terá um grande progresso se aplicar o que vimos, mas lembre-se de que, se as coisas não melhorarem, você sempre poderá procurar a ajuda de um terapeuta, com quem construir novas e melhores formas de comunicação e uma boa comunicação é a chave para o sucesso de um casal.


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