Como o locus de controle afeta o bem-estar psicológico
Você dirige seus passos ou o acaso o faz? A resposta a essa pergunta tem a ver com o locus de controle, um conceito que se refere aos fatores ou causas a que recorremos para explicar o que nos acontece no dia-a-dia.
Se nosso locus for externo, tendemos a atribuir a “culpa” (ou a responsabilidade) pelo que acontece conosco, aos outros ou às circunstâncias. Se, ao contrário, é interno, significa que tendemos a acreditar que o que nos acontece depende de nós e, portanto, está em nossas mãos mudá-lo. Mas que consequências o locus de controle interno e externo tem em nosso bem-estar psicológico? Como veremos, nenhum dos extremos é bom!
O que é o locus de controle?
A que causas você atribui as coisas que acontecem com você no seu dia a dia? Quem ou o que está no controle da sua vida? Você, os outros, as circunstâncias…? É com isso que o locus de controle tem a ver, um mecanismo que se refere ao que acreditamos estar no controle de nossas vidas. Quando, de forma genérica, atribuímos a nós mesmos o que acontece, significa que nosso locus de controle é interno.
Por outro lado, quando atribuímos à sorte, ao ambiente, aos outros, às circunstâncias… então, nosso locus de controle é externo. A realidade é que, em geral, ninguém tem um locus de controle 100% interno ou externo, mas sim variamos dependendo da situação. Mas podemos dizer que cada pessoa tende mais a um ou a outro.
O conceito de locus de controle foi definido em 1954 pelo psicólogo Julian B. Rotter. É um mecanismo que está integrado à nossa personalidade e, segundo um estudo realizado em 2020 por pesquisadores da Victoria University of Wellington, estaria correlacionado com certos padrões comportamentais. Por exemplo, e de acordo com o estudo, um locus de controle externo está associado a uma maior tendência criminosa.
Um exemplo para entender esse fenômeno psicológico
Diante de um problema no trabalho (“meus alunos não prestaram atenção na aula hoje”), uma pessoa com locus de controle interno diria que a “culpa” é dele, que não explicou com suficiente convicção, que ele não preparou bem a aula… Ou seja, ele atribuiria a causa da situação a si mesmo (algo interno).
Por outro lado, uma pessoa com locus de controle externo diria que naquele dia os alunos estavam mais sonolentos, que já estão no final do curso e estão cansados, etc. Assim, atribuiria a causa da situação a fatores externos e circunstanciais.
Para descobrir qual é o nosso locus de controle, devemos pensar sobre nossa tendência, em várias situações e áreas (vida pessoal, trabalho, acadêmico…), não em momentos específicos.
Locus de controle: como influencia em nosso bem-estar psicológico
O locus de controle, tanto interno quanto externo, afeta nosso bem-estar psicológico, as decisões que tomamos, como nos sentimos e até nossos pensamentos. O locus de controle interno nos torna mais conscientes de nossas possibilidades de melhoria e, mais importante, nos faz desenvolver e executar planos para alcançar essas melhorias.
Em vez disso, um forte locus de controle externo muitas vezes nos torna agentes passivos ou espectadores do que nos acontece. Nossa esperança tem mais a ver com a fé do que com uma atitude proativa.
Assim, generalizando muito, podemos dizer que, dado o que podemos controlar, o locus de controle interno nos leva à proatividade e o locus de controle externo à passividade. No entanto, nem sempre será assim, pois haverá situações em que devemos adotar um locus externo para não sofrer (em situações que não dependem de nós) e nas quais deveremos trabalhar a aceitação.
“Existem duas escolhas principais na vida: aceitar as condições como elas existem ou aceitar a responsabilidade de mudá-las.”
-Denis Waitley-
Desamparo aprendido e locus externo
Podemos vincular a questão da passividade e do locus de controle externo a um conceito muito interessante em psicologia: o desamparo aprendido. E é que, em certas situações, ter um locus de controle externo pode nos levar ao desamparo aprendido, quando nos leva à passividade. Seria pensar: “já que não posso fazer mais nada, já que a situação não depende de mim, mas das circunstâncias, eu me abandono”.
Excesso de responsabilidade, exigência e locus interno
E, por outro lado, quando somos muito exigentes e tendemos a pensar que “tudo depende de nós”, que “tudo está nas nossas mãos”, também corremos o risco de assumir demasiada responsabilidade pelas coisas, pelos outros… E isso pode nos fazer sofrer, nos deixando sobrecarregados porque, obviamente, não podemos dar conta de tudo (pelo menos, não tudo ao mesmo tempo), e muito menos tudo depende de nós.
Não há necessidade! Não precisamos disso para sermos felizes. Não precisamos controlar tudo, embora às vezes pensemos que precisamos (especialmente pessoas com um locus interno rígido). Por fim, outra consequência de um alto locus de controle interno (quando é rígido e é difícil mudá-lo) é o fato de atribuirmos a nós mesmos tudo o que nos acontece (e até o que acontece com os outros), o que às vezes pode intensificar o sentimento de culpa. Culpado, por exemplo, quando não podemos mudar algo que achamos que depende de nós (quando, na verdade, não é).
Equilíbrio e flexibilidade: as chaves para ter um bom locus de controle
A verdade é que não há locus de controle melhor que o outro, pois, quer tenhamos um locus de controle interno ou externo, podemos sofrer e também desfrutar ou tomar as decisões certas. Mas se formos rígidos nesses papéis, provavelmente sofreremos muito com:
- As coisas que não podemos mudar ou controlar.
- Os imprevistos.
Portanto, a chave é tentar encontrar equilíbrio e flexibilidade, dois elementos que nos aproximarão de uma visão mais realista das coisas e de sermos mais compassivos conosco. Em outras palavras, trata-se de tentar adaptar nosso locus de controle à situação e tentar ser realista com o que nos acontece.
“Mantenha-se comprometido com suas decisões, mas permaneça flexível em sua abordagem.”
-Anthony Robbins-
Um exercício para alcançar o equilíbrio em nosso locus
Um pequeno truque para começar a trabalhar em um locus de controle adequado (o flexível que nos leva a ser críticos e realistas com as situações): faça duas colunas em uma folha de papel; na primeira, anote as coisas que dependem de você e que você pode mudar e na segunda, as que você não pode.
Com as informações da primeira coluna, você pode começar a definir os comportamentos que pode realizar para mudar o que não gosta. E com as informações da segunda coluna, você terá que trabalhar para aceitar o que não depende de você. Concentre-se em aceitá-lo, mesmo que isso o incomode ou machuque. E valide suas emoções também. Com esse exercício simples, você estará um pouco mais perto de se conhecer e encontrar seu próprio bem-estar.
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- Tyler, N., Heffernan, R. & Fortune, C. (2020). Reorienting Locus of Control in Individuals Who Have Offended Through Strengths-Based Interventions: Personal Agency and the Good Lives Model, Front. Psychol. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.553240