Como a preocupação afeta o cérebro?

Estresse, ansiedade, cansaço permanente, falta de energia, pessimismo... a forma como a preocupação afeta o cérebro é tóxica; levamos todos os nossos recursos emocionais ao limite até sentirmos uma ameaça constante.
Como a preocupação afeta o cérebro?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O modo como a preocupação afeta o cérebro pode ser resumido em uma palavra: toxicamente. Embora essa realidade psicológica não seja mais do que uma emoção natural quando percebemos uma ameaça, muitas de nossas preocupações são infundadas e até obsessivas, levando-nos a estados de grande exaustão nos quais perdemos energia e motivação.

Algo que sabemos bem do ponto de vista psicológico é que os efeitos de se preocupar demais podem inclusive ser mais perigosos do que o que realmente nos preocupa. Parece um jogo de palavras, mas vai além disso.

Quando estamos nesses estados em que o estresse se intensifica e distorce até o mínimo detalhe, tudo acaba fora de controle, tomamos as piores decisões e o desconforto emocional aumenta.

Por exemplo, quanto mais obcecados ficamos com a nossa má qualidade de sono, mais insônia temos. Quanto mais nos preocupamos em nos mostrarmos eficazes e perfeitos em nosso trabalho, mais cometemos erros.

Além disso, se nos preocupamos demais com a possibilidade de nosso parceiro nos deixar, criamos situações em que a outra pessoa se sente mais pressionada e desconfortável.

Assim, quanto mais pressão gerarmos em nossa mente, pior nosso cérebro responderá. Esgotaremos todos os seus recursos, teremos mais lapsos de memória e nos sentiremos exaustos. Devido à biologia do estresse, a lista de efeitos associados à preocupação excessiva é imensa.

“O amanhã tem duas alças; podemos segurá-lo com a alça da ansiedade ou com a alça da calma”.
-Henry Ward Beeche-

Solidão em meio à multidão

Como a preocupação afeta o cérebro?

O modo como a preocupação afeta o cérebro é mais intenso do que pensamos.

Neurocientistas como o Dr. Joseph LeDoux, da Universidade de Nova York, destacam que o impacto dessa dimensão é tão grave porque as pessoas, em geral, não sabem se preocupar de maneira saudável. Temos a curiosa tendência de levar quase tudo ao extremo.

No entanto, também apontam outro fator que talvez nos isente de uma parte da culpa. Nosso cérebro está programado para se preocupar primeiro e pensar depois. Ou seja, nosso sistema emocional, e em particular nossa amígdala cerebral, são os primeiros a detectar uma ameaça e a ativar uma emoção em nós.

Instantaneamente, neurotransmissores como a dopamina são liberados para gerar a ativação e o nervosismo. Posteriormente, o sistema límbico estimula o córtex cerebral para notificar as estruturas mentais superiores.

A finalidade disso? Incentivá-lo a assumir o controle, a usar o raciocínio lógico para regular esse medo, essa sensação de alerta.

O Dr. LeDoux nos lembra que, no ser humano, as emoções têm mais poder que a razão. Algo assim faz com que as preocupações e o labirinto de ansiedade que enfrentamos comumente assumam o controle de nossas mentes.

O modo como a preocupação afeta o cérebro é, portanto, muito intenso, e os efeitos são os seguintes:

A preocupação excessiva gera dor psicológica

O que entendemos por dor psicológica? Ela é diferente da dor física? Efetivamente sim, mas na verdade esta diferença é bem limitada. A dor psicológica é basicamente sofrimento, esgotamento, negatividade, desânimo…

Em um cérebro ansioso dominado por preocupações constantes, quem nos controla é a amígdala. Ela nos faz ver perigos onde não há nenhum. Tudo é ameaça, desconfiamos de tudo e tudo gera medo.

Sua hiperestimulação afeta o córtex cerebral, reduzindo sua atividade. Portanto, deixamos de ver as coisas com mais calma e equilíbrio.

Além disso, a amígdala ativa várias  áreas da dor cerebral, como o córtex cingulado anterior. Desta forma, o desconforto se intensifica.

Mulher estressada e preocupada

Quando a preocupação afeta o cérebro, seus processos cognitivos falham

A que nos referimos quando falamos de processos cognitivos? Quando a preocupação afeta o cérebro de maneira intensa porque estamos há semanas ou meses presos a certos pensamentos, podemos começar a notar o seguinte:

  • Lapsos de memória.
  • Problemas de concentração.
  • Dificuldade para tomar decisões.
  • Problemas para entender mensagens, textos, etc.

Qual é a solução para parar de se preocupar?

Na verdade, a chave não está em parar de se preocupar. A resposta está em aprender a se preocupar melhor. Caso contrário, como explica um estudo realizado na Universidade de Cambridge pelo Dr. Ernest Paulesu, corremos o risco de desenvolver um transtorno de ansiedade generalizada.

Para conseguir isso, para aprender a se preocupar melhor, é apropriado lembrar dos conselhos do proeminente psicólogo Albert Ellis. Vamos refletir sobre eles por um momento:

  • Analise seus pensamentos irracionais. Mesmo que você não acredite, cerca de 80% das suas preocupações são desproporcionais e não têm uma base lógica.
  • Fale sobre suas emoções, nomeie-as, desvincule-as, leve-as à luz. É possível que você esteja se preocupando em excesso com o seu trabalho porque, na verdade, você se sente insatisfeito, porque não está feliz, porque ele não o satisfaz. Aprofunde-se nessas ideias.
  • Não tome decisões baseadas apenas no seu humor. Antes de decidir e agir, mantenha a calma e passe cada pensamento pelo filtro da razão. As emoções são importantes, mas se combinadas com o raciocínio pausado e focado, você sempre agirá melhor.
Como a preocupação afeta o cérebro?

Para concluir, sabendo como a preocupação afeta o cérebro, aprendemos a ser mais proativos. Evitemos cair nesses ciclos de sofrimento e façamos uso de abordagens mais saudáveis ​​e razoáveis. No caso de não conseguirmos, não hesitemos em contatar profissionais especializados.


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  • Paulesu, E., Sambugaro, E., Torti, T., Danelli, L., Ferri, F., Scialfa, G., … Sassaroli, S. (2010). Neural correlates of worry in generalized anxiety disorder and in normal controls: A functional MRI study. Psychological Medicine40(1), 117–124. https://doi.org/10.1017/S0033291709005649

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