Como se perdoar e superar o passado
Perdoar a si mesmo e superar o passado requer uma habilidade psicoemocional delicada. A dor de um ontem pelo qual nos sentimos culpados é como um fio solto em nosso tecido existencial. Se o puxarmos, temos a sensação de que tudo pode desmoronar. Não é bom viver com aquela angústia permanente, com aquele peso interior que não nos deixa seguir em frente.
O compositor Frédéric Chopin costumava dizer que é inútil voltar ao que era e não é mais. É verdade, todos sabemos que não convém olhar constantemente pelo retrovisor do passado, aquela dimensão que já não existe. No entanto, a mente é tortuosa e gosta de colocar o dedo na ferida e o olhar no olho mágico do fracasso.
O que podemos fazer nessas circunstâncias? O primeiro passo será, sem dúvida, recusar-se a ficar preso naquele padrão debilitante orquestrado pela autopunição. Podemos e devemos desenvolver recursos adequados para lidar com essa realidade psicológica.
Junto com a culpa, muitas vezes é adicionada a emoção da vergonha. É muito difícil separar uma da outra e, portanto, diante do nosso passado, devemos saber lidar com essas duas dimensões.
Conselhos para perdoar a si mesmo
Desde que éramos crianças, aprendemos a importância de não odiar e de sermos capazes de perdoar os outros. E, de fato, nós aprendemos. Mais cedo ou mais tarde, tomamos consciência de que parar de projetar desprezo ou ressentimento nos outros cura, alivia e permite que avancemos em todos os sentidos. Agora, algo que ninguém nunca nos disse é que também é preciso saber se perdoar.
E por que deveríamos fazer isso? A resposta é simples: pela nossa saúde mental. Todos, em algum momento, podemos cometer erros, falhar, ferir outras pessoas com nossas decisões e também levar a situações das quais nos arrependeremos mais tarde. Cometer erros é humano, mas culpar-se constantemente por isso é loucura.
Trabalhos de pesquisa, como os realizados no King’s College London e na University of Manchester, apontam para algo importante. Em muitos casos, a culpa está por trás da depressão maior.
Assim, entender como se perdoar e superar o passado é uma das melhores ferramentas para prevenir esse transtorno de humor.
Aceitação e responsabilidade: você é o dono de si mesmo, tanto para errar quanto para curar
Quando se trata de superar um ontem traumático que arrastamos como uma pedra, devemos ter um aspecto em mente. O que aconteceu foi ruim, mas você não sabia o que ia acontecer e não tinha a experiência que tem agora. Portanto, é fundamental entender que todos temos o pleno direito de errar, mas também temos a obrigação de curar a ferida.
Pare de ter vergonha desse erro ou falha, não alimente mais a autoaversão e as críticas. Em vez disso, tente entender o que aconteceu, colocando-o em seu quadro de referência correspondente. O que motivou essa decisão? O que estava acontecendo naquele momento para você agir daquela forma?
Tudo tem uma explicação, e a compreensão nos permitirá ver a situação a partir de uma outra perspectiva mais lógica e não tão emocional. Lembre-se de que a autocompreensão facilita o autoperdão.
Seu eu passado não é o mesmo que seu eu presente. Você não sabia o que iria acontecer, você não tinha a perspectiva e a experiência atuais. Perdoe sua versão antiga porque ela permitirá que você crie uma versão atual mais sábia e madura.
Examine a sua resistência: é hora de deixar o passado para trás
Quando se trata de perdoar a si mesmo e de superar o passado, é preciso tomar consciência da nossa resistência. Todos a temos. São obstáculos mentais que nos impedem de seguir em frente, que atuam como âncoras psicológicas. Por exemplo, existem aqueles que não param de alimentar a culpa dia após dia. Por outro lado, alguns podem ter comportamentos relacionados a vícios.
Fazer um “inventário” dos pensamentos, emoções e comportamentos que nos impedem de virar a página também é uma prioridade.
Abrace a sua fragilidade e aprenda com a experiência
Você tem o direito de falhar, de cometer pequenos e grandes erros. Nesta existência, como parte da sua humanidade, você pode ser falível e vulnerável, pode até mostrar ao mundo sua pior versão e depois se arrepender.
Viver é mudar, ir do pior ao melhor, explorando com inteligência os pontos fortes e fracos, mas acima de tudo, aproveitar oportunidades de aprendizagem. Tire vantagem delas.
Seu passado ajudou a moldar a pessoa que você é hoje. Cada entalhe, fenda e pequena saliência traçam uma beleza incomum que você deve apreciar. Você não é perfeito, então comece a perdoar a si mesmo aceitando todas as nuances da sua experiência passada e presente.
Quando se trata de perdoar a si mesmo e superar o passado, busque uma compensação
Todo exercício de perdão requer um exercício de compensação. O que queremos dizer com este termo? É fácil de entender. Se você acredita que seu comportamento causou dor a alguém e se sente culpado por isso, não arraste mais esse sofrimento e peça perdão.
Além disso, se você carrega consigo a névoa do ressentimento e do arrependimento, pense em ações que lhe permitam obter uma sensação de reparação. Mostre a si mesmo que aprendeu com a experiência e que pode se aprimorar.
Assim, quando se trata de se perdoar e superar o passado, o ideal é nos projetarmos em novos comportamentos e metas para descobrir que somos pessoas melhores do que pensamos.
Celebre um momento de despedida, é hora de iniciar uma nova etapa
Existem rituais terapêuticos muito interessantes que facilitam o autoperdão e o início de uma nova etapa. Um exemplo disso é dizer frases como “Eu me perdôo e me dou uma nova oportunidade de ser feliz” em voz alta. Fazer uma viagem curta ou se dar um tempo para o descanso e a introspecção costuma ajudar nesses casos.
Nessa pequena cerimônia ou ritual de despedida, deixaremos de lado a nossa velha versão (aquela que se culpa pelo passado) para acolher o eu futuro (aquele que aprendeu com ontem e espera o amanhã com esperança). Vamos tentar.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Wohl, M. J. A., Pychyl, T.A., & Bennett, S.H. (2010) I forgive myself, now I can study: How self-forgiveness for procrastinating can reduce future procrastination. Personality and Individual Differences (2010), doi:10.1016/j.paid.2010.01.029
- Zahn, R., Lythe, K. E., Gethin, J. A., Green, S., Deakin, J. F., Young, A. H., & Moll, J. (2015). The role of self-blame and worthlessness in the psychopathology of major depressive disorder. Journal of affective disorders, 186, 337–341. https://doi.org/10.1016/j.jad.2015.08.001