Como se relacionar com uma pessoa autista 

Como se relacionar com uma pessoa autista 
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Se pensarmos em uma criança com autismo, talvez nos deixemos levar pelo traço mais comum deste transtorno: a timidez. Pensamos logo em uma pessoa excêntrica, imersa em sua realidade, que não brinca nem fala com ninguém. Imaginamos que essa pessoa ignora o resto do mundo, incluindo seus pais e familiares mais próximos. No entanto, é muito importante saber se relacionar com uma pessoa autista.

O autismo é um transtorno generalizado do desenvolvimento. Ele afeta a pessoa durante toda a sua vida e se manifesta antes dos 3 anos de idade. De acordo com o DSM-5, caracteriza-se por diferenças na comunicação e nas relações sociais, pela alteração dos padrões de comportamento e por interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados.

Conselhos para se relacionar com uma pessoa autista

Explique as suas emoções para a pessoa

As pessoas com este tipo de transtorno do espectro autista (TEA) sofrem da conhecida cegueira mental. Um termo baseado na Teoria da Mente, que se refere à incapacidade de atribuir estados mentais a si mesmo e aos demais. Isso está muito relacionado com a falta de empatia. Ou seja, estas pessoas não sabem ler, nem expressar suas próprias emoções.

Por essa razão, para se relacionar com uma pessoa autista, é essencial ter paciência e compreensão. Para socializar com uma pessoa assim, é fundamental que você explique como se sente e o porquê de suas emoções.

Se você for capaz de estabelecer uma boa conexão com a criança ou adulto autista, sua introversão, ausência de reciprocidade social e de suas respostas emocionais podem ser diminuídas e favorecer uma interação.

Como se relacionar com uma criança autista

Adeque as regras sociais aos seus valores

Muitas vezes os autistas têm um forte senso de justiça. Podem até mesmo levar isso ao extremo. Observemos um exemplo. Levamos um adolescente que sofre deste transtorno ao show de seu artista favorito. No entanto, há uma longa fila de espera para entrar no local do show.

Este adolescente pode pensar que está no começo da fila, e não no final, mesmo tendo chegado por último. Isso acontece porque ele “é o fã número 1”. Sua convicção pode fazer com que ele empurre as pessoas que já estavam esperando na fila e a fure sem pensar duas vezes, sem arrependimento. Mas é preciso ter em conta que, para ele, isso não é furar fila… é apenas o mais justo.

Por isso, a pessoa que estiver acompanhando o adolescente precisa de muita tolerância e paciência para explicar a ele que, quando se chega a um lugar novo, é preciso ir para o fim da fila. Explicando a ele como encaixar esta regra social a seus valores, ele pode fazer grandes avanços.

Faça mudanças graduais

Outra peculiaridade do autismo é a preocupação em preservar a invariabilidade do meio. Devido a sua hipersensibilidade à mudança, a pessoa pode apresentar desconforto diante de modificações simples.

São modificações irrelevantes ou muito sutis para a maioria das pessoas, mas não para a pessoa autista. Por exemplo, podem ficar desconfortáveis se as cortinas forem abertas ou quando sua cadeira encontra-se afastada da mesa.

A introdução ou explicação destas pequenas alterações em seu entorno é fundamental. Se não for avisada ou perguntada sobre as mudanças, a pessoa pode reagir de forma exagerada, e pode até causar lesões em si mesma.

Rotina e comportamentos estereotipados

Esta hipersensibilidade está muito relacionada com a importância que a rotina tem para estas pessoas.

Na verdade, este costuma ser um aspecto crucial em suas vidas. Sem esse aspecto, a dificuldade para se relacionar socialmente aumenta exponencialmente. Por essa razão, ao se relacionar com uma pessoa autista, é preciso ter em conta seus costumes e as atividades realizadas por ela. Deve-se respeitar seu tempo, seu espaço e sua forma de executá-las.

Leve as suas habilidades em conta

Aproximadamente 60% das pessoas autistas apresentam um quociente intelectual abaixo de 50. Isso evidencia um déficit intelectual relevante.

Entretanto, também é verdade que estas crianças obtêm melhores resultados em testes que medem habilidades de manipulação ou visuoespaciais, e também possuem uma memória automática.

Professora interagindo com aluno autista

Não corte sua autoestimulação

A realização de comportamentos autoestimuladores (repetitivos e estereotipados) é um sintoma característico deste tipo de transtorno. Por exemplo, o balançar ou sacudir das mãos, dar voltas em objetos, usar sempre a mesma roupa, manifestar uma obsessão constante em falar sobre o mesmo assunto ou repetir palavras que ouviu (ecolalia).

Estes comportamentos são persistentes e, com o tempo, costumam se agravar. Sua função é proporcionar à criança uma retroalimentação sensorial ou cinestésica. Mas, cuidado! Porque para se relacionar com uma pessoa autista de forma adequada, é preciso ter em conta que cortar ou interferir nestes momentos de automatismo pode causar um efeito contrário.

É mais conveniente ignorá-los sistematicamente ou reforçar outros tipos de comportamento que motivem a pessoa.

Como pudemos observar neste artigo, manter uma interação social adequada com uma pessoa autista é difícil. Por isso, conhecer profundamente este transtorno é o primeiro requisito desejável para todos aqueles que desejam estabelecer um vínculo afetivo ou uma boa conexão com uma pessoa autista.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.