Quais são as consequências de dormir pouco?

O hábito de dormir pouco tem sido associado a problemas cognitivos, emocionais e físicos. Dormir a quantidade de horas necessárias deveria ser uma prioridade para todos.
Quais são as consequências de dormir pouco?
María Paula Rojas

Escrito e verificado por a psicóloga María Paula Rojas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Neste artigo, falaremos sobre as consequências de dormir pouco, algo que, infelizmente, se tornou um hábito para muitos adolescentes e adultos. Em um mundo saturado pelo imediatismo, pela estimulação e pela ausência de paciência, algumas necessidades básicas, como o sono, têm sofrido alterações.

Ao mesmo tempo, as mudanças constantes no horário de trabalho, a mudança da luz ambiente e o acesso a tecnologias em qualquer lugar fez com que esse costume se acentuasse.

As consequências dessas mudanças se manifestam em diferentes planos, como o cognitivo, o emocional e o biológico. Chegamos ao ponto em que novas síndromes foram criadas, como a do sono insuficiente. Nela, outros cuidados têm prioridade em relação ao sono.

Homem cansado

Processo do sono

O sono é um estado fisiológico imprescindível. Implica uma diminuição do estado de alerta e da consciência com o objetivo de desenvolver processos de integração da atividade cerebral e modificar processos fisiológicos no organismo. É regido pelo ritmo circadiano, de acordo com o qual alterna-se um estado de vigília e um estado de sono.

Ao mesmo tempo, é importante indicar que existem duas grandes etapas do sono que devem ocorrer sempre na mesma ordem.

A primeira etapa é o sono não REM, em que não há movimentos oculares rápidos. Ela é subdividida em 4 fases:

  • Não REM 1: o sono é leve, a pessoa pode acordar com facilidade e ainda há a percepção de estímulos internos e externos.
  • Não REM 2: ocorre o bloqueio do acesso sensorial no corpo, diminui o tônus muscular e o ritmo cardíaco. As ondas cerebrais começam a diminuir para que o cérebro calibre sua atividade.
  • Não REM 3: as ondas cerebrais continuam diminuindo, o bloqueio sensorial fica maior e a produção dos hormônios do crescimento aumenta.
  • Não REM 4: junto com a etapa anterior, são as fases em que o sono é mais profundo. Há predomínio das ondas delta.

Em segundo lugar, temos a etapa de sono REM. Esta se caracteriza pela presença de movimentos oculares rápidos.

Nela, o tônus muscular diminui e os ritmos respiratório e cardíaco são irregulares. É o momento do sono em que o cérebro está mais ativo e são produzidos os sonhos mais lúcidos com um fio condutor.

Ativação cerebral e dormir pouco

Em pesquisas por meio de imagiologia cerebral, foi encontrada uma redução global da atividade cerebral quando se reduz o tempo de sono.

Contudo, foi especificado que a maior diminuição dessa atividade ocorre no córtex pré-frontal e no lobo parietal. Essa medição foi feita especialmente com atividades verbais, e acredita-se que seja a consequência que o cérebro sofre por tentar se manter acordado e alerta.

Consequências de dormir pouco nas funções cognitivas

Hoje em dia, sabemos que o sono é fundamental para desenvolver um adequado funcionamento cognitivo diurno.

Estudos comprovaram que a diminuição de 1,3 horas diárias de sono por uma semana causa uma redução de 32% do nível de alerta. Isso tem repercussões tanto em atividades físicas quanto cognitivas.

Memória e aprendizagem

A memória e a aprendizagem são aspectos relacionados com a boa qualidade do sono. Foi descoberto que, no sono, a informação que adquirimos durante o dia é consolidada, o que o torna vital para a aprendizagem.

Por essa razão, a diminuição na quantidade de sono diário vai repercutir nessas funções. Nas pesquisas, descobrimos que diferentes aspectos da memória se relacionam com diferentes fases do sono.

Por exemplo, a consolidação e a codificação de informações novas na memória dependem do sono REM e da fase não REM 2. Portanto, não poder completar todas essas fases cria problemas para a consolidação de lembranças. Os efeitos podem ser transferidos, por exemplo, ao rendimento acadêmico.

Ao mesmo tempo, há uma relação com a aprendizagem de novas informações. Nesse caso, dormir pouco diminui a atividade do hipocampo, estrutura fundamental para a codificação da memória, também sendo um obstáculo para a retenção da informação.

Atenção

Foi descoberto que dormir pouco cria uma sonolência diurna que afeta diretamente a atenção da pessoa. Nesse caso, diminui a capacidade de vigilância, fazendo com que a pessoa, geralmente, perca ou omita elementos relevantes para desenvolver uma atividade.

Ao mesmo tempo, é difícil, para ela, manter-se concentrada em uma mesma atividade por muito tempo. Se somarmos a isso o aumento do tempo de reação, podem ocorrer problemas como um acidente de trânsito ou a perda de uma prova por falta de tempo.

Tempos de reação

No caso de dormir pouco, os tempos de reação costumam aumentar significativamente. Paralelamente, a pessoa fica mais propensa a cometer erros no momento de realizar atividades. Portanto, precisa de mais tempo para realizá-las e, mesmo assim, pode ser que tenha problemas para resolvê-las adequadamente.

Isso afeta múltiplos aspectos da vida, como a parte acadêmica, já que pode fazer com que a pessoa não entenda ou não realize adequadamente o que é pedido. Também podem ser observados problemas em atividades automáticas, como dirigir um carro, visto que a pessoa pode reagir de maneira tardia em uma situação cotidiana.

A esfera emocional é afetada ao dormir pouco?

Esse é outro aspecto significativo que é observado quando dormimos pouco. Foi descoberto que o déficit de sono provoca mudanças temporárias do humor, criando sensações de depressão e ansiedade na pessoa.

Da mesma maneira, dormir pouco afeta a nossa inteligência emocional e o pensamento construtivo. Isso tem consequência em vários fatores, como o funcionamento intrapessoal. Dormir pouco diminui a assertividade, a noção de independência e a atualização pessoal.

Em segundo lugar, afeta o funcionamento interpessoal, no qual se reduz a empatia pelos outros e a qualidade das relações. Foi observada uma diminuição específica da capacidade de reconhecer os gestos emocionais relacionados com a alegria e a raiva. Como consequência, a relação com os outros é significativamente afetada.

Por fim, surgem problemas para lidar adequadamente com o estresse. Portanto, a pessoa mostra dificuldades para controlar alguns dos seus impulsos. Também há um atraso na ativação do sistema de gratificação, o que pode aumentar o estresse no desenvolvimento de algumas situações.

Relação entre dormir pouco e as atividades fisiológicas

O sono tem uma relação muito estreita com as atividades fisiológicas, sendo vital para regular nossa atividade cognitiva, emocional e física. Entre os principais sistemas, encontramos:

  • Imunológico: a diminuição no sono debilita o sistema imunológico, forçando os órgãos na sua atividade e aumentando o risco de contrair alguma doença.
  • Cardiovascular: foi descoberto que as pessoas que têm problemas de sono apresentam um risco maior de sofrer problemas como hipertensão, cardiopatias ou insuficiências cardíacas.
  • Endócrino: dormir pouco aumenta os níveis de cortisol e diminui o hormônio da tireoide. Por fim, há um risco maior de sofrer de obesidade, diabetes e fadiga crônica.
Mulher com insônia

Síndrome do sono insuficiente

Esse é um transtorno em que a pessoa, de maneira persistente, não obtém a quantidade e a qualidade de sono noturno necessários para manter um bom estado de alerta no dia. Sua origem não é orgânica, ela reside em fatores externos. Ocorre principalmente por uma restrição voluntária do sono motivada por outros interesses que competem com ele, como se divertir ou trabalhar.

Costuma ocorrer principalmente em adolescentes e jovens em idade escolar. Neles, observa-se uma sonolência diurna frequente, além de uma sensação de sono não reparador. Também vemos a necessidade de uma ajuda externa pela manhã para não acordar muito tarde: a mãe ou o pai agem como despertadores.

Entre os fatores que se relacionam com essa síndrome, temos:

  • Mudanças da adolescência.
  • Aparelhos eletrônicos.
  • Horários e carga acadêmica.
  • Uso de substâncias estimulantes.
  • Fatores emocionais ou de estresse.

Conclusão sobre as consequências de dormir pouco

Para terminar, é preciso destacar a necessidade de dormir certa quantidade de horas. Como vimos, não fazer isso tem consequências emocionais, cognitivas e físicas negativas. Portanto, o sono é fundamental para o nosso rendimento em diferentes planos, como o físico e o mental.

Por fim, é importante pensar nos riscos decorrentes de dormir pouco. Muitas vezes, é preferível dar prioridade ao sono antes de outras atividades. A longo prazo, nosso corpo vai nos agradecer.


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