Quais são as consequências de crescer vendo histórias de princesa?
A literatura infantil tradicional sempre se caracterizou por difundir uma imagem sexista da realidade. Os contos de fadas estão muito presente nos filmes e contos tradicionais infantis, e entre eles encontramos as histórias de princesa. Geralmente com uma protagonista mulher, essas histórias envolvem um príncipe que salvará uma princesa que passa a vida esperando por ele.
Nesse exemplo, os meninos e as meninas se identificam com os personagens de forma bastante significativa. Há inclusive uma identificação emocional, com atribuição de uma enorme importância para as mensagens transmitidas.
Em alguns casos mais recentes, as histórias incorporam as mudanças sociais que aconteceram nas últimas décadas, mas no geral elas se mostram ultrapassadas, sexistas, discriminatórias e conservadoras. Vejamos a seguir.
Qual é o impacto de crescer vendo histórias de princesa?
Os contos de uma sociedade são um espelho da mentalidade desta, e através dos contos de fadas diversas histórias de princesa são difundidas dentro da sociedade. Isso ilustra uma ideologia que impera, que é a da mulher vivendo para o homem. Nesse tipo de conto o papel que cada sexo possui é muito claro, e isso influencia a noção de gênero que vai se formando ao longo da infância de nossas crianças.
As histórias de princesa fazem referência a um personagem feminino representado por uma bela moça. Geralmente, há também um personagem do mal, uma bruxa por exemplo, que muitas vezes possui poderes mágicos. A princesa é sempre caracterizada por ser bela e bondosa, e por sofrer pelas ações de algum personagem do mal. Ela será salva desse contexto por um homem, um príncipe, e viverá feliz para sempre.
O papel que uma mulher tem nesse tipo de conto de fadas gira em torno de cuidar do lar, das crianças, e talvez também de alguma outra pessoa ou animal. A meta principal de uma mulher em uma história de princesa é se dedicar ao matrimônio, muitas vezes essa sendo seu único objetivo.
Símbolos representativos
Temos alguns símbolos quanto à caracterização que distingue as personagens femininas desses contos dos personagens masculinos.
Os valores que são transmitidos nas histórias de princesa constroem uma imagem de papéis diferentes para cada sexo, que muitas vezes são totalmente opostos. Um estudo realizado pela escritora Turín (1995) analisou alguns dos símbolos mais representativos nos contos de fadas:
- Os óculos: não costumam ser usados pelas personagens, sendo geralmente um símbolo de sabedoria, não de beleza.
- Os utensílios domésticos (panos, avental, vassoura, etc…): simbolizam a dona de casa e mãe de família que se dedica exclusivamente aos seus afazeres do lar e não se desliga deles jamais.
- As janelas: as princesas e fadas costumam se ocultar do mundo que as rodeia, o que significa apatia ou passividade.
Ao contrário, os personagens masculinos que aparecem nas histórias de princesas sempre são representados como homens fortes, valentes, lutadores. Pode acontecer também de estarem em uma posição de submissão, como no caso de um mordomo ou servente. Mesmo nesse caso, nunca aparecem fazendo uma tarefa do lar, muito menos aqueles representados como fortes e inteligentes.
Os contos de fadas
Contos clássicos como Branca de Neve, A Bela Adormecida, Cinderela e A Bela e a Fera são alguns exemplos de contos de princesa e de fadas em que as princesas são belas e charmosas. Elas se dedicam exclusivamente ao seu lar, e se encontram reclusas e excluídas de uma esfera privada e social.
Nessas histórias, os personagens feios são sempre associados à maldade, e a maioria dos conflitos acontece por inveja ou rivalidade em relação à beleza da princesa ou o amor do príncipe.
O papel da mulher é sempre o mesmo, a de uma perfeita dona de casa, como se fosse um dom ou uma capacidade que só as mulheres conseguissem desempenhar. Esses valores estereotipados desvalorizam a autonomia e o trabalho da mulher e dificultam uma educação igual para ambos os sexos.
Como conclusão, as histórias de princesas e os contos de fadas da literatura infantil tradicional acabam sendo uma ferramenta que perpetua os papéis sexuais estereotipados. Alguns comportamentos são reforçados, enquanto outros são reprimidos.
Felizmente, hoje em dia esses valores e normas que são transmitidos de geração para geração já estão começando a ser vistos como algo defasado e obsoleto. No entanto, temos que continuar trabalhando com outros aspectos atemporais que também são abordados nesses contos, como o bem e o mal, o valor do esforço, o valor do respeito, da amizade, etc.
Referências bibliográficas:
- Laínez, C.M. (2016). Los estereotipos sociales de la mujer y la familia durante el franquismo.
- López, A. (s.f). Coeducación y estereotipos de género en la literatura infantil.