O conteúdo do estereótipo: sociabilidade e competência

Nossos comportamentos serão diferentes de acordo com a sociabilidade e a competência que atribuirmos aos grupos. Quer saber como eles variam?
O conteúdo do estereótipo: sociabilidade e competência
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Os estereótipos que mantemos estão muito associados à imagem que temos dos grupos. Uma imagem simplificada, com poucos detalhes. Usamos essa imagem para avaliar igualmente todos os membros do mesmo grupo, e ela também serve para justificar certos comportamentos. No entanto, cada estereótipo é diferente e é composto por diferentes características. Além disso, o estereótipo normalmente inclui duas características: sociabilidade e competência.

Alguns exemplos de estereótipos comuns são que os espanhóis gostam de festa e de flamenco, mas uma boa soneca também é necessária. Os italianos são mafiosos e todos os latinos sabem dançar muito bem. Da mesma forma, todos os árabes são terroristas e os asiáticos são todos iguais. Sem esquecer que as mulheres seriam mais carinhosas e mais sensíveis que os homens. Estes e muitos outros são estereótipos muito populares.

Estereótipos

O conteúdo do estereótipo

O modelo do conteúdo do estereótipo afirma que todos os estereótipos dos grupos são formados em duas dimensões: sociabilidade e competência. 

O modelo se baseia na noção de que as pessoas estão mais predispostas evolutivamente a avaliar, em primeiro lugar, as intenções de estranhos, se são focadas em prejudicar ou em ajudar (dimensão de sociabilidade, embora também seja conhecida como afeto) e, em segundo lugar, a julgar a capacidade da pessoa estranha de agir sobre essa intenção percebida (dimensão de competência).

Desta forma, as pessoas atribuem pouca sociabilidade aos grupos com os quais estão competindo e os tratam com hostilidade e desdém. Por outro lado, os grupos sociais e os indivíduos com um alto status social (por exemplo, bem-sucedidos a nível econômico ou educacional) são considerados muito competentes.

Desta forma, quando não existe uma ameaça eles são considerados sociáveis, enquanto os símbolos de status vão determinar a competência.

“Quando eu ia à escola, lembro que existiam vários estereótipos. Se você gostava de Rolling Stones, você era um maricas, porque uma vez Mick Jagger beijou Keith Richards em Saturday Night Live. Se você gostava de The Grateful Dead, era um hippie. Se gostava de Sex Pistols, era um punk rocker. Eu quis ser um maricas hippie punk rocker”.
-Axl Rose-

Dimensões de sociabilidade e competência

O modelo do conteúdo do estereótipo, como vimos anteriormente, conta com duas dimensões (sociabilidade e competência) nas quais os diferentes grupos são avaliados. Desta forma, os grupos e seus membros podem pontuar mais alto ou mais baixo em cada dimensão, dando lugar a quatro condições. Vamos analisar cada dimensão separadamente:

  • Sociabilidade: a sociabilidade é primordial, visto que vai determinar as relações. Se for considerado que uma pessoa tem pouca sociabilidade, não é provável que tentemos nos relacionar com ela. Como vimos anteriormente, a sociabilidade (percebida) vai depender em parte do grau de ameaça que representar. Além disso, a sociabilidade tem um componente de moralidade. Uma pessoa mais sociável é considerada, em geral, mais moral.
  • Competência: as pessoas que têm um status alto são julgadas como mais competentes do que aqueles que têm um status baixo. No entanto, esta dimensão é menos importante do que a sociabilidade.
Modelo do conteúdo do estereótipo

Os comportamentos e as emoções segundo o conteúdo do estereótipo

A este modelo dos estereótipos formado pela sociabilidade e a competência foram adicionados comportamentos e emoções que se correspondiam com cada uma das dimensões que formava o modelo. Desta forma, aqueles que eram considerados de alta sociabilidade e competência eram considerados mais propensos a despertar admiração.

Por outro lado, são mais propensos a receber um tratamento paternalista aqueles que são julgados com alta sociabilidade e baixa competência. Por exemplo, os idosos.

Do outro lado estão aqueles que são vistos como pouco sociáveis e altamente competentes. Eles despertariam inveja e seriam os candidatos perfeitos para serem utilizados como bodes expiatórios quando as coisas dão errado. Alguns grupos historicamente classificados dessa maneira são os judeus, os asiáticos e as feministas.

Por fim, os que têm um baixo nível de sociabilidade e competência provocariam desprezo e ação para com eles é a rejeição, a desumanização. Comumente, neste grupo estão as pessoas sem-teto.

Desta forma, agrupamos os diferentes grupos sociais e seus membros. Evidentemente, os grupos que estão em pior situação são considerados baixos tanto na competência quanto na sociabilidade. Os estudos sociais nos dizem que tentamos evitar as pessoas desses grupos. Em oposição, as pessoas com  altos níveis de sociabilidade e competência são geralmente os membros do nosso grupo. Em parte, daí vem o favoritismo do grupo ou viés endogrupal.

“O estereótipos são verdades cansadas”.
-George Steiner-


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