O que se esconde por trás de uma criança desanimada?
A criança desanimada que não faz suas tarefas e que responde com apatia ou desinteresse a pedidos nem sempre é compreendida. É fácil reprimi-la pelo seu comportamento, mas lembre-se de que por trás do desânimo pode haver uma realidade negligenciada, emoções negativas e questões subjacentes que precisam ser abordadas.
Sejamos realistas: de uma forma ou de outra, muitas crianças e adolescentes desanimados acabam se tornando adultos desanimados também. Se desde cedo elas se habituam a conviver com essa frustração constante e seu entorno também se limita a respondê-los com críticas e ameaças, eles acabam tornando crônica essa sensação de fracasso. A autoestima é prejudicada desde o início e de forma quase irreversível.
O desânimo é apenas uma máscara, uma atitude em relação ao mundo que esconde outra coisa. É o relevo de um problema interno que precisa de atenção. Porque não há nada mais perigoso e devastador do que o desânimo, do que a falta de motivação capaz de relegar a criança ao canto do desinteresse e de um comportamento quase sempre objeto de repreensão, e não de compreensão.
“Se bem me lembro, a infância consistia em querer o que não se podia conseguir.”
-Audur Ava Ólafsdóttir-
Criança desanimada: o que explica essa atitude?
Se há algo de que todos nós gostamos é ver uma criança curiosa, que se relaciona com os que estão à sua volta, que faz perguntas, que brinca e que se mantém ativa. A infância é movimento e energia. Essa etapa é marcada pelo desejo de se entender e se posicionar em uma realidade onde é possível sentir aceitação e carinho em todos os momentos.
É provavelmente por este motivo que ficamos tão surpresos ao ver uma criança desanimada, uma criança que opta não só pela quietude, mas pela recusa desafiadora de realizar qualquer tarefa.
Diante destas situações recorrentes, você deve entender um primeiro aspecto. Conforme explicado em um artigo de Adele Gottfried publicado no Journal of Educational Psychology, a motivação é impulsionada pela emoção.
Se uma criança, adolescente ou adulto mostra desânimo, é provável que haja uma realidade emocional subjacente complexa por trás dessa situação. Portanto, se você se limitar a punir a criança pela sua atitude, você estará apenas alimentando ainda mais o seu desconforto.
O que pode estar por trás de uma criança desanimada?
Pode haver infinitas realidades por trás de uma criança desanimada. As crianças nem sempre têm recursos para explicar exatamente o que está acontecendo com elas. Você deve, portanto, estar próximo e facilitar uma abertura adequada. Veja o que pode estar por trás de uma criança desanimada:
- Problemas de aprendizagem e frustração. Às vezes as salas de aula incluem um grande número de crianças com necessidades educacionais especiais não detectadas. Assim, problemas como desatenção, superdotação ou dislexia costumam levar ao desânimo.
- Bullying. Algumas famílias desconhecem o cotidiano traumático de muitas crianças na escola. Portanto, não descarte essa possibilidade.
- A frustração constante é outra ocorrência comum. Algumas crianças e adolescentes vão de “não consigo fazer” a “não quero fazer” em um piscar de olhos. Ensiná-las desde cedo a tolerar e lidar com a frustração, a ansiedade e o sentimento de fracasso permitirá que amadureçam nesse aspecto.
- Muitas crianças se sentem estressadas. E não apenas isso, elas exigem a atenção dos pais. Oferecer tempo a elas para brincar, para partilhar com a família momentos em que se sintam acolhidas, ouvidas e validadas, proporciona uma dose adequada de emoções positivas que são ideais para recuperar a motivação.
Como tratar o desânimo de crianças e jovens?
A criança desanimada não precisa ser reprimida pelo seu comportamento, ela precisa de atenção. Tente por um momento se colocar no lugar dela e lembrar como é sentir desânimo e apatia; não é uma sensação agradável.
Embora seja verdade que a experiência como adultos nos ajude a decidir o que fazer nestas situações, a criança não tem os recursos nem a nossa experiência para saber como reagir. Portanto, você deve considerar as seguintes estratégias:
- Seja empático. A proximidade sem julgamento é o melhor mecanismo que permite à criança falar sobre suas emoções e o que lhe acontece.
- Estabeleça um diálogo positivo. Usar uma comunicação emocionalmente positiva também facilitará a conexão com a criança. Devemos tentar focar em promover a sua motivação, em lembrá-la de coisas boas sobre si mesma, seu potencial e possibilidades. A ideia é criar um refúgio emocional para a criança se sentir confortável em se comunicar e ver novas perspectivas sobre seus problemas.
- Reinicie. Às vezes, é necessário começar do zero para recuperar a motivação perdida. Algo tão simples como mudar a rotina e oferecer novos estímulos, desafios e propostas, pode fazer com que a criança deixe de lado a frustração ou a negatividade ao encontrar novos interesses. Encontrar algo que ela goste (esporte, música, qualquer hobby…) pode funcionar como um gatilho e também como uma nova estratégia para se conectar com a criança através de uma atividade.
Para finalizar, a criança desanimada não precisa ser reprimida, ela precisa de atenção. Não ignore aquele olhar monótono, comportamento impróprio, palavra indevida ou quando ela falar “não consigo”. A motivação dá impulso à vida. Portanto, não deixe que a criança perca um pingo dessa força.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Gottfried, A. E. (1990). Academic Intrinsic Motivation in Young Elementary School Children. Journal of Educational Psychology, 82(3), 525–538. https://doi.org/10.1037/0022-0663.82.3.525
- Isenman, L. (2018). Emotion and Motivation. In Understanding Intuition (pp. 111–132). Elsevier. https://doi.org/10.1016/b978-0-12-814108-3.00005-1