Por que as crianças não deveriam assistir Round 6?
Por que as crianças não deveriam assistir Round 6? A resposta não poderia ser mais simples: pelo seu conteúdo altamente violento. No entanto, não basta ficar com a conjectura óbvia. É necessário argumentar por que os menores não deveriam ser expostos a esse tipo de produção que ainda não são capazes de processar.
O fenômeno social desta série da Netflix é bem conhecido de todos. Ela já tem milhões de visualizações e não há um dia em que não se fale dela. Agora, não podemos ignorar o impacto que está tendo sobre as crianças. No último mês, professores do jardim de infância e do ensino fundamental assistiram, chocados, seus alunos recriarem os jogos nos pátios das escolas.
É um fato generalizado. Está acontecendo nos Estados Unidos, Europa, Ásia, etc. Os educadores deram o alarme para um fato inegável: a permissividade dos pais que não controlam nem filtram o que seus filhos veem. Round 6 é uma produção não recomendada para menores de 16 anos, mas, apesar disso, já foi visto por crianças a partir dos 3 anos.
A série Round 6 só pode ser vista e compreendida pelos olhos de um adulto. Esta é a única maneira de entender a pressão social da Coréia do Sul, a luta de classes, a competitividade, a frustração de quem não tem nada e anseia pelo prêmio do jogo, etc.
Razões pelas quais as crianças não deveriam assistir Round 6
Desde que a televisão apareceu na casa das famílias, a psicologia tem se interessado em compreender o impacto de certos conteúdos na mente das crianças. Essa preocupação aumentou desde que o psicólogo Albert Bandura nos mostrou, em 1970, como o aprendizado social e a imitação são fundamentais para que as crianças desenvolvam ou não comportamentos agressivos.
O que eles virem vai acabar sendo colocado em prática. Eles vão imitar o que está na tela. O trabalho de pesquisa realizado pelos psicólogos L. Rowell Huesmann e Leonard Eron na década de 1980 também merece destaque.
Eles descobriram que quanto maior a exposição a conteúdo violento na escola primária, maior a probabilidade de que comportamentos agressivos se desenvolvam na escola secundária. Poderíamos dizer, portanto, que nenhum conteúdo audiovisual orquestrado pela violência é inteiramente inócuo na mente da criança.
Isso nos convida a fazer uma reflexão adequada a respeito de por que as crianças não deveriam assistir Round 6.
Estética infantil em que a violência é normalizada
A série apresenta uma estética e iconografia marcantes aos olhos de uma criança. É muito fácil para eles mergulharem naquele universo de jogos, em um cenário onde os personagens vestem cores vivas, usam máscaras de figuras geométricas, etc. Não é difícil se deixarem levar pelo visual, embora as imagens sejam acompanhadas de atos violentos.
O familiar (os jogos) se combina com o diferente (a violência), fazendo com que ambos se diluam e se tornem a mesma coisa. Isso fez com que educadores testemunhassem cenas preocupantes. Na Bélgica, por exemplo, eles viram como crianças que brincavam de esconde-esconde batiam nos perdedores em grupo.
No Reino Unido, na Escola Primária Sir Francis Hill em Lincoln, crianças de 6 anos reencenavam cenas e as discutiam. Os pré-adolescentes de 9, 10 e 11 anos se familiarizaram com a série por meio do Tik Tok, onde está em alta, e também no YouTube.
A mente da criança não entende o contexto social da série
Se nos perguntarmos por que as crianças não deveriam ver Round 6, a chave está basicamente no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Nem mesmo os pré-adolescentes estão preparados para essa produção, pois ainda não possuem um senso crítico adequado.
Suas mentes apreciam apenas a violência, não o drama pessoal dos personagens, seus relacionamentos ou as cordas que se movem por trás desses jogos sangrentos. Estamos diante de uma produção que não é confortável para todos; na verdade, muitos adultos se sentem incapazes de vê-la devido à sua crueza.
Por que as crianças não deveriam assistir Round 6? A imitação comportamental
As crianças imitam o que veem nas suas brincadeiras. De repente, passam a ter um conteúdo que lhes é familiar e que podem representar nos pátios de suas escolas. Além disso, a estética é tão elementar quanto enigmática, e isso levou muitas crianças a pedirem aos pais para irem vestidos no Halloween com roupas de Round 6.
Como se não bastasse, outro elemento é adicionado: o dos desafios no Tik Tok. Crianças do ensino fundamental e pré-adolescentes desafiam uns aos outros a imitar certas cenas da série, como o jogo sugar honeycomb. O problema é que eles próprios têm que fazer os biscoitos com açúcar caramelizado, e já houve diversos acidentes.
As escolas enviaram notificações aos pais para não permitirem que seus filhos assistissem Round 6. No entanto, a verdade é que será inevitável que eles sejam expostos a esse conteúdo.
A necessidade de iniciar um diálogo com as crianças que viram a série
Os pais ainda se perguntam por que os filhos não deveriam assistir Round 6. Para muitos, é mais um conteúdo do catálogo da Netflix. No final das contas, se seus filhos de 7 ou 11 anos passam horas com Fortnite ou videogames violentos, qual é o problema de assistirem essa série?
Talvez o problema esteja aí, na falta de filtros e na incapacidade de entender que tudo a que uma criança está exposta tem um impacto psicológico. Round 6 não é um programa adequado ou recomendado para crianças menores de 16 anos. Porém, o problema já está nas salas de aula e nos pátios: muitos já viram a série.
Isso obriga os educadores a fazerem com eles uma leitura mais aprofundada dessa produção. É preciso conversar com eles, reformular alguns aspectos, dar um contexto e algumas lições. A violência nunca deve ser um instrumento para um fim. A violência não é permitida e nunca deve ser parte de um jogo.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Huesmann, L. R., & Eron, L. D. (1986). Television and the aggressive child: A cross-national comparison. Hillsdale, NJ: Erlbaum.
- Huesmann, L. R., Moise-Titus, J., Podolski, C. L., & Eron, L. D. (2003). Longitudinal relations between children’s exposure to TV violence and their aggressive and violent behavior in young adulthood: 1977–1992. Developmental Psychology, Vol. 39, No. 2, 201–221.
- Huston, A. C., Donnerstein, E., Fairchild, H., Feshbach, N. D., Katz, P. A., Murray, J. P., Rubinstein, E. A., Wilcox, B. & Zuckerman, D. (1992). Big world, small screen: The role of television in American society. Lincoln, NE: University of Nebraska Press.