Por que as crianças não deveriam assistir Round 6?

As crianças do jardim de infância e do ensino fundamental estão imitando cenas que aparecem em Round 6. Apesar de os conteúdos violentos serem muitos, os pais não colocam filtros no que os seus filhos veem.
Por que as crianças não deveriam assistir Round 6?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Por que as crianças não deveriam assistir Round 6? A resposta não poderia ser mais simples: pelo seu conteúdo altamente violento. No entanto, não basta ficar com a conjectura óbvia. É necessário argumentar por que os menores não deveriam ser expostos a esse tipo de produção que ainda não são capazes de processar.

O fenômeno social desta série da Netflix é bem conhecido de todos. Ela já tem milhões de visualizações e não há um dia em que não se fale dela. Agora, não podemos ignorar o impacto que está tendo sobre as crianças. No último mês, professores do jardim de infância e do ensino fundamental assistiram, chocados, seus alunos recriarem os jogos nos pátios das escolas.

É um fato generalizado. Está acontecendo nos Estados Unidos, Europa, Ásia, etc. Os educadores deram o alarme para um fato inegável: a permissividade dos pais que não controlam nem filtram o que seus filhos veem. Round 6 é uma produção não recomendada para menores de 16 anos, mas, apesar disso, já foi visto por crianças a partir dos 3 anos.

A série Round 6 só pode ser vista e compreendida pelos olhos de um adulto. Esta é a única maneira de entender a pressão social da Coréia do Sul, a luta de classes, a competitividade, a frustração de quem não tem nada e anseia pelo prêmio do jogo, etc.

Menina com um celular

Razões pelas quais as crianças não deveriam assistir Round 6

Desde que a televisão apareceu na casa das famílias, a psicologia tem se interessado em compreender o impacto de certos conteúdos na mente das crianças. Essa preocupação aumentou desde que o psicólogo Albert Bandura nos mostrou, em 1970, como o aprendizado social e a imitação são fundamentais para que as crianças desenvolvam ou não comportamentos agressivos.

O que eles virem vai acabar sendo colocado em prática. Eles vão imitar o que está na tela. O trabalho de pesquisa realizado pelos psicólogos L. Rowell Huesmann e Leonard Eron na década de 1980 também merece destaque.

Eles descobriram que quanto maior a exposição a conteúdo violento na escola primária, maior a probabilidade de que comportamentos agressivos se desenvolvam na escola secundária. Poderíamos dizer, portanto, que nenhum conteúdo audiovisual orquestrado pela violência é inteiramente inócuo na mente da criança.

Isso nos convida a fazer uma reflexão adequada a respeito de por que as crianças não deveriam assistir Round 6.

Estética infantil em que a violência é normalizada

A série apresenta uma estética e iconografia marcantes aos olhos de uma criança. É muito fácil para eles mergulharem naquele universo de jogos, em um cenário onde os personagens vestem cores vivas, usam máscaras de figuras geométricas, etc. Não é difícil se deixarem levar pelo visual, embora as imagens sejam acompanhadas de atos violentos.

O familiar (os jogos) se combina com o diferente (a violência), fazendo com que ambos se diluam e se tornem a mesma coisa. Isso fez com que educadores testemunhassem cenas preocupantes. Na Bélgica, por exemplo, eles viram como crianças que brincavam de esconde-esconde batiam nos perdedores em grupo.

No Reino Unido, na Escola Primária Sir Francis Hill em Lincoln, crianças de 6 anos reencenavam cenas e as discutiam. Os pré-adolescentes de 9, 10 e 11 anos se familiarizaram com a série por meio do Tik Tok, onde está em alta, e também no YouTube.

A mente da criança não entende o contexto social da série

Se nos perguntarmos por que as crianças não deveriam ver Round 6, a chave está basicamente no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Nem mesmo os pré-adolescentes estão preparados para essa produção, pois ainda não possuem um senso crítico adequado.

Suas mentes apreciam apenas a violência, não o drama pessoal dos personagens, seus relacionamentos ou as cordas que se movem por trás desses jogos sangrentos. Estamos diante de uma produção que não é confortável para todos; na verdade, muitos adultos se sentem incapazes de vê-la devido à sua crueza.

Por que as crianças não deveriam assistir Round 6? A imitação comportamental

As crianças imitam o que veem nas suas brincadeiras. De repente, passam a ter um conteúdo que lhes é familiar e que podem representar nos pátios de suas escolas. Além disso, a estética é tão elementar quanto enigmática, e isso levou muitas crianças a pedirem aos pais para irem vestidos no Halloween com roupas de Round 6.

Como se não bastasse, outro elemento é adicionado: o dos desafios no Tik Tok. Crianças do ensino fundamental e pré-adolescentes desafiam uns aos outros a imitar certas cenas da série, como o jogo sugar honeycomb. O problema é que eles próprios têm que fazer os biscoitos com açúcar caramelizado, e já houve diversos acidentes.

As escolas enviaram notificações aos pais para não permitirem que seus filhos assistissem Round 6. No entanto, a verdade é que será inevitável que eles sejam expostos a esse conteúdo.

A série Round 6

A necessidade de iniciar um diálogo com as crianças que viram a série

Os pais ainda se perguntam por que os filhos não deveriam assistir Round 6. Para muitos, é mais um conteúdo do catálogo da Netflix. No final das contas, se seus filhos de 7 ou 11 anos passam horas com Fortnite ou videogames violentos, qual é o problema de assistirem essa série?

Talvez o problema esteja aí, na falta de filtros e na incapacidade de entender que tudo a que uma criança está exposta tem um impacto psicológico. Round 6 não é um programa adequado ou recomendado para crianças menores de 16 anos. Porém, o problema já está nas salas de aula e nos pátios: muitos já viram a série.

Isso obriga os educadores a fazerem com eles uma leitura mais aprofundada dessa produção. É preciso conversar com eles, reformular alguns aspectos, dar um contexto e algumas lições. A violência nunca deve ser um instrumento para um fim. A violência não é permitida e nunca deve ser parte de um jogo.


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  • Huesmann, L. R., Moise-Titus, J., Podolski, C. L., & Eron, L. D. (2003). Longitudinal relations between children’s exposure to TV violence and their aggressive and violent behavior in young adulthood: 1977–1992. Developmental Psychology, Vol. 39, No. 2, 201–221.
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