Crianças refugiadas: corações feridos em busca de esperança
O drama das crianças refugiadas e de suas famílias vai muito além de um desastre humanitário para qual não deveríamos virar o rosto. Seus corações feridos anseiam por esperança, sem dúvida, mas suas mentes infantis e os traumas psicológicos que terão que enfrentar deixarão marcas profundas que, provavelmente, jamais superarão.
É preciso pensar que no cérebro de toda criança está a ideia quase instintiva de que seus pais são capazes de protegê-las de todo mal. Quando isto não acontece, quando perdem membros da sua família e o mundo se desmorona diante delas sob a sombra da atrocidade e do desconsolo, alguma coisa se rompe na mente da criança.
Refugiados, forçados a abandonar seus países de origem, seu lar, suas raízes… Adultos que levam pela mão essas crianças que somente anseiam por ter um futuro, um alento de esperança nesses rostos que já se esqueceram de sorrir e que não se lembram do que é a felicidade.
O apoio psicológico também precisa fazer parte dessa ajuda humanitária imprescindível que todos os campos de refugiados requerem. Os adultos, mas em especial as crianças menores e os adolescentes, requerem um apoio mental com o qual poder restaurar feridas que não se veem na pele, mas que podem ficar para sempre nas suas mentes, nas suas almas…
O drama das crianças refugiadas
Não basta um minuto de telejornal para compreender a situação que estas crianças e suas famílias chegam a viver. Os refugiados sírios, por exemplo, carregam sobre suas costas mais peso do que os poucos pertences que conseguiram preservar. O seu é um lastro permanente de violência, bombas, franco atiradores e bairros inteiros transformados em escombros.
Muitas dessas crianças saem de seu pais de origem com seus familiares rumo ao mar Mediterrâneo. Uma balsa cheia de gente e um colete de má qualidade são seus únicos meios para encontrar esse mundo melhor do qual falam suas mães, seus pais ou seus irmãos. Mas o mar é traiçoeiro e, as vezes, terão de acrescentar outro trauma à sua mente infantil já fragmentada, habitada por incontáveis porões escuros.
Jan Kizilhan, especialista em psicologia infantil, declarou na “Sociedade Alemã de Medicina Infantil e Juvenil” de Munique que 1 em cada 5 crianças refugiadas padece de estresse pós-traumático e que a maioria delas sofrerá sequelas psicológicas para o resto da vida.
Os efeitos da guerra e o deslocamento nas crianças refugiadas
Entidades como a International Medical Corps aplicaram testes psicológicos em aproximadamente 8.000 refugiados sírios que estavam na fronteira da Jordânia já alguns meses. Os resultados foram os seguintes:
- Dos adultos, 28% estavam tão desesperados que se sentiam praticamente paralisados. 25% declararam que não desejavam mais continuar vivendo. O resto afirmou que toda a força que lhes restava tinha a sua origem na necessidade de oferecer um futuro a seus filhos.
- Por sua vez, as crianças que estavam nestes acampamentos de refugiados sofriam com enxaquecas, diarreias, incontinência urinária e pesadelos. Sintomas evidentes de um grave estresse pós-traumático e de dores psicossomáticas que seus pais e mães não sabiam como cuidar.
- O quadro clinico das crianças refugiadas é quase sempre o mesmo: retração, graves transtornos do sono, depressão e um estresse que as faz reviver os fatos traumáticos constantemente, ao ponto de não conseguir diferenciar o que é real do que não é.
Como podemos ver, a saúde mental de todas estas pessoas, e em especial dos menores, é uma coisa que vai mais além do frio e da fome. Falamos de feridas internas que persistirão na idade adulta, que constituirão uma personalidade baseada na falta de esperança; e não há nada mais desolador do que uma criança que não se lembre do que é um sorriso, e que não possa ver seu futuro com esperança.
Como encarar o apoio psicológico às crianças refugiadas
- A sociedade e os eixos da política internacional são os únicos que podem dar o primeiro passo para criar uma solução real e factível para este problema. O apoio psicológico que possa ser oferecido a uma criança e a sua família em um acampamento não terá suficiente impacto para conseguir uma melhora a longo prazo.
- É necessário lhes oferecer estabilidade, um entorno protegido, hábitos e um cotidiano no qual começarem a se sentir seguros.
- Uma coisa tão fundamental como poder frequentar uma escola de novo e restabelecer suas rotinas lhes permitirá deixar de se preocupar com suas famílias e consigo mesmos. Precisam recuperar a “sensação de segurança e de controle” sobre suas próprias vidas.
- Uma vez supridas estas necessidades essenciais, pode-se começar a trabalhar com eles os medos, suas lembranças e, obviamente, seus traumas. Estratégias como o desenho podem ajudar a canalizar muitos desses fatos horríveis alojados na sua mente.
Todas as crianças têm essa qualidade chamada resiliência, com a qual podem superar esse passado de horror. Por meio de uma psicoterapia adequada, unida ao carinho familiar e uma sociedade capaz de acolher, envolver e integrar, poderíamos sem dúvida lhes oferecer uma segunda oportunidade. Mas isto depende de todos.
Tomara que a política atual tome rumos mais adequados, de forma que a gestão de nossos recursos e do planeta foquem um bem-estar global, e não o de cada país, o de cada casa ou o de cada indivíduo de forma competitiva e feroz. Porque o horror não sabe de pátrias nem de bandeiras, e a dor de todas essas famílias e das suas crianças é um chamado que não deveríamos desprezar.