Criatividade tensa: quando somos forçados a inovar

O trabalho criativo requer muita emoção. Lidar com as pressões e frustrações que vêm com a obrigação de inovar pode levar à criatividade tensa, dolorosa e que precisa de atenção.
Criatividade tensa: quando somos forçados a inovar
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 21 fevereiro, 2023

Você já teve dificuldade em ter novas ideias? Todos nós passamos por momentos em que a inspiração insiste em nos virar as costas. Quando isso acontece, e as circunstâncias do trabalho ou da vida nos obrigam a inovar, surge uma criatividade tensa e inquieta.

A pressão para apresentar novas ideias que sejam revolucionárias e inovadoras, bem como benéficas e lucrativas, pode ser uma fonte potencial de desconforto. Uma nova investigação tentou lançar alguma luz sobre este assunto.

mulher pensando
“Associada ao sucesso, progresso, desempenho, eficiência, satisfação e sustentabilidade, a criatividade tem sido parte integrante de nossas vidas.” (Kristina Potocnik)

O que significa inovar?

Inovar é progredir. Sem inovação, não teríamos os avanços médicos ou tecnológicos de que desfrutamos. Por esse motivo, a inovação tem sido estudada com grande profundidade em diferentes ramos do conhecimento, desde a engenharia, passando pela antropologia até a psicologia.

A definição dada pela psicologia organizacional deste termo é a de “promover, propor e colocar em prática novas e melhores formas de um produto ou processo que resulta em um produto”.

Por outro lado, enquanto a criatividade consiste em pensar diferente e obter novas ideias, a inovação ocorre quando as colocamos em prática. Assim, inovação e criatividade estão longe de apontar apenas para a geração de novas ideias, mas também se referem a como elas podem ser implementadas e se são úteis ou inúteis.

“Aprenda as regras como um profissional, para que você possa quebrá-las como um artista.”

-Pablo Picasso-

Criatividade tensa: um paradoxo

Sempre se pensou que criatividade e inovação são duas características virtuosas. No entanto, as pesquisas realizadas a partir da psicologia das organizações sugerem que tanto a criatividade quanto a inovação funcionam como um paradoxo. Ambos podem produzir resultados ótimos, mas também indesejáveis. Por quê? A resposta pode ser encontrada nos processos de regulação emocional dos criativos.

A sacudida criativa

Criar algo novo é como um caminho. Na verdade, existem tantos caminhos quanto pessoas criativas. Para ser criativo, dois ingredientes são necessários: flexibilidade cognitiva e perseverança. Quando se apresentam em conjunto, a criatividade pode disparar.

No entanto, os trabalhos relacionados à criatividade muitas vezes são mal definidos. Isso significa que o ingrediente que chamamos de flexibilidade cognitiva é necessário em todas as etapas: geração, avaliação, implementação e resultados e, consequentemente, pode causar grande desgaste mental.

A criatividade tensa surge nos estágios iniciais. Quando os trabalhadores buscam uma nova ideia, eles podem experimentar o que Kristina Potocnik chama de “sacudida criativa”. Este abalo implica uma diminuição do afeto positivo, ao mesmo tempo que se experimentam emoções aversivas, como o medo ou a frustração.

Por outro lado, descobriu-se que as pessoas são mais criativas quando seu estado emocional muda. Ou seja, quando passam de um afeto de valência negativa para outro de valência positiva. Assim, dessa mudança afetiva, nascem as ideias criativas. No entanto, o custo dessas mudanças emocionais pode ser alto se ocorrerem com muita frequência, algo que é feito diariamente em profissões onde ser criativo faz parte do trabalho.

“A crise existencial leva as pessoas a se envolverem em uma exploração mais difícil que, em última análise, ajuda a criar uma ideia melhor”.

-Kristina Potocnik-

A mulher pensa em ideias criativas
A criatividade aumenta quando o estado emocional muda.

Regulação emocional e criatividade

Por outro lado, os trabalhadores devem identificar quais de suas características podem conflitar com as de seus colegas de trabalho. Durante um processo de geração de novas ideias, podem surgir tensões e divergências que turvam e atrapalham a criatividade.

Para lidar com tudo isso, eles devem ser capazes de regular suas emoções. Às vezes, até as emoções dos outros, como em cargos de supervisão. Regular as emoções implica poder detectá-las, avaliá-las e modificá-las. O objetivo é atingir o objetivo criativo.

Em trabalhos que exigem criatividade, antes de ter uma nova ideia, você pode passar por uma montanha-russa de emoções. A frustração de enfrentar um problema para o qual parece não haver solução pode vir a dominar os ânimos. A criatividade tensa é o processo no qual surgem novas ideias, e no qual a regulação das próprias emoções desempenha um papel fundamental para se chegar a uma conclusão bem-sucedida.

“Gerenciar as próprias emoções é crucial para persistir em ambos os estágios de criatividade e inovação.”

-Kristina Potocnick-


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