Declínio cognitivo em pessoas com enxaqueca
O comprometimento cognitivo em pessoas com enxaqueca é um fenômeno com uma boa base por trás dele. Durante esses ataques dolorosos e irritantes, ocorrem alterações no nível do cérebro que causam disfunções na atenção e concentração. O pensamento fica mais lento, causando falhas de memória.
São alterações leves e quase sempre temporárias, mas é comum que muitos pacientes que sofrem dessa condição neurológica se queixem de déficits cognitivos. Essa frequente realidade clínica estimula a adoção de mais estratégias terapêuticas, quando se trata de oferecer uma melhor qualidade de vida aos que a padecem.
A atenção e a função executiva são os dois processos mais afetados durante as enxaquecas.
Características do comprometimento cognitivo em pessoas com enxaqueca
Em geral, qualquer desconforto é uma distração que prejudica o desempenho cognitivo, dificultando tarefas cotidianas como estudar, concentrar-se ou resolver problemas. No entanto, trabalhos como os publicados na revista Dementia and Neuropsychologia destacam que os pacientes com enxaqueca apresentam ligeiras alterações em tarefas onde vários processos cognitivos entram em jogo.
Muitas vezes, as pessoas que vivenciam essa condição neurológica há muitos anos sofrem de falhas de memória e atenção. Quase sempre são episódios temporários e ligados às horas ou dias que duram esses ataques. No entanto, a ciência também está preocupada em determinar se eles podem ter um efeito de longo prazo. Nós o analisamos.
Pessoas com enxaqueca crônica e ataques frequentes correm maior risco de declínio cognitivo permanente.
Causas associadas: distúrbios elétricos na enxaqueca
O comprometimento cognitivo é mais comum em pacientes com curso crônico da doença. Assim, análises como as realizadas no Instituto de Neurologia Experimental, em Milão, destacam que essa condição apresenta alterações funcionais e estruturais em diversas áreas corticais e subcorticais do cérebro.
Da mesma forma, muitas vezes aparecem disfunções elétricas, por exemplo, o que é conhecido como “depressão cortical propagada (CSD)”. Isso causa grande sensibilidade a estímulos externos e problemas para focar a atenção.
Essa atividade elétrica anormal paralela à enxaqueca dificulta que o córtex cerebral realize tarefas como concentração e tomada de decisões, entre outras.
Quais funções cognitivas são afetadas?
Os processos cognitivos mais afetados durante uma crise de enxaqueca são a atenção e a função executiva. Estas são áreas muito críticas para o desempenho do dia a dia. Normalmente, uma pessoa em meio de uma crise de enxaqueca terá dificuldade nos seguintes processos:
- Aprendizado.
- Planejar.
- Memória verbal.
- Tomar decisões.
- Analisar informações.
- Solução de problemas.
- Regulação emocional.
- Processos de autocontrole.
Da mesma forma, em investigações como as realizadas na Universidade de Lisboa, foi possível verificar que, quando os pacientes experimentam uma crise de enxaqueca sem aura, essas alterações cognitivas são reversíveis. O problema está, sem dúvida, naquelas pessoas que lidam com uma enxaqueca crônica com aura.
Deficiência cognitiva: reversível ou permanente?
Os dados mostram que a maioria das pessoas apresenta disfunções temporárias e reversíveis. No entanto, aqueles pacientes com enxaqueca crônica que sofrem ataques frequentes teriam um risco maior de sofrer distúrbios de longo prazo.
Em um estudo de 2022 publicado na revista The Journal Pain and Pain, eles sugerem que existe uma associação significativa entre enxaqueca, comprometimento cognitivo e o risco de desenvolver algum tipo de demência no futuro.
É a primeira meta-análise que demonstrou esses dados e, portanto, mais trabalhos seriam necessários para ter evidências sólidas. No entanto, tal exploração reforça a necessidade de os departamentos de neurologia prestarem mais atenção ao aspecto cognitivo do paciente para evitar uma possível deterioração ao longo dos anos.
O que devemos fazer para prevenir alterações cognitivas nas enxaquecas?
A enxaqueca é uma realidade clínica muito complexa e com muitas necessidades. O objetivo não é apenas reduzir a dor, mas preservar a saúde do cérebro e a correta funcionalidade de seus processos. Nesse sentido, é pertinente que novos mecanismos terapêuticos e de abordagem sejam desenvolvidos.
Por sua vez, o comprometimento cognitivo em pessoas com enxaqueca crônica e ataques frequentes é mais preocupante. Nesses casos, avaliações psicológicas e neurológicas adequadas são recomendadas para detectar possível deterioração permanente. É preciso saber se essas falhas acontecem apenas durante os episódios ou se são diárias.
Outras considerações para pessoas que sofrem de ataques frequentes de enxaqueca
- Encontrar o melhor tratamento medicamentoso para reduzir a dor.
- Apresentar terapias psicológicas que melhorem a qualidade de vida, bem como técnicas para gerir o estresse, relaxar ou gerir as emoções.
- Programas de estimulação cognitiva seriam uma boa estratégia para pacientes com enxaqueca recorrente.
- Outras comorbidades também devem ser destacadas. Muitas vezes, um transtorno depressivo pode afetar o desempenho cognitivo de uma pessoa.
- Da mesma forma, foram observados benefícios claros quando se trata de cuidar da dieta. Os alimentos que são ricos em aminas geralmente desencadeiam enxaquecas. Nesse sentido, um estudo publicado pela Revista Espanhola de Nutrição Comunitária explica que as aminas biogênicas podem ter um efeito vasodilatador que causa desconforto.
Para concluir, se você perceber lapsos de memória e/ou problemas de atenção muito tempo depois de uma enxaqueca, consulte seu médico. Em geral, sentir esses inconvenientes apenas durante os ataques é completamente normal e não teria efeito a longo prazo.
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