De acordo com a ciência, a depressão é diferente em homens e mulheres

A prevalência da depressão é maior nas mulheres. No entanto, de acordo com vários estudos, nos homens essa condição psicológica pode ter consequências piores.
De acordo com a ciência, a depressão é diferente em homens e mulheres
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 16 novembro, 2021

A depressão é diferente em homens e mulheres. Embora o sofrimento, a angústia e a dor emocional sejam iguais em qualquer pessoa, a forma de manejar os sintomas, e até mesmo de agir diante desse quadro, costuma ser diferente. Sabemos, por exemplo, que a probabilidade de suicídio é maior nos homens.

Hoje, entendemos mais a respeito de como a depressão se desenvolve. O fato de ela estar associada a mulheres fez com que muitos homens relutassem em procurar ajuda. Na verdade, ainda existem muitos que internalizam o desconforto ou procuram camuflá-lo com comportamentos contraproducentes, como o consumo de álcool.

Atualmente, já podemos identificar os sintomas próprios de cada sexo, e isso nos permite entender melhor essa realidade para agirmos de forma mais eficaz. O mais importante, sem dúvida, é que a própria pessoa tome consciência do seu problema e dê o passo para buscar ajuda.

Em média, os homens apresentam sintomas de depressão através do aumento da irritabilidade e do mau humor. Eles também tendem a somatizar mais.

Mulher sofrendo de depressão

Como a depressão é diferente em homens e mulheres?

Em primeiro lugar, poderíamos dizer que o fator social e cultural fez com que a depressão fosse vivenciada de forma diferente em cada sexo. Embora seja verdade que a saúde mental está ganhando importância na nossa sociedade, há espaços em que ela continua sendo um assunto tabu. A vergonha e o medo de críticas ou mal-entendidos no entorno ainda estão muito presentes.

Agora, a segunda pergunta seria: se a depressão é diferente em homens e mulheres, a origem é sempre social? É a relutância dos homens em pedir ajuda que os diferencia? A resposta é não. Existem fatores biológicos que vale a pena conhecer.

A depressão é mais prevalente em mulheres

Trabalhos de pesquisa, como os realizados na Universidade de Ottawa, indicam que a incidência da depressão em mulheres é de 5,8%, contra 3,5% nos homens. A diferença é significativa. É importante ressaltar que, durante a infância, os transtornos depressivos são mais comuns em meninos do que em meninas e que, na velhice, a incidência é mais igual.

No entanto… o que explica essa taxa mais alta de depressão nas mulheres? As causas geralmente são as seguintes:

  • A maior prevalência de depressão em mulheres costuma estar relacionada a alterações hormonais.
  • Acredita-se que pode haver uma confluência de mudanças hormonais e neurodesenvolvimentais muito particulares durante a transição para a puberdade que podem influenciar a maior vulnerabilidade do gênero feminino à depressão.
  • Além disso, fatores como gravidez, aborto espontâneo, problemas de fertilidade, depressão pós-parto e alterações associadas à perimenopausa e à própria menopausa são muito relevantes.

Os gatilhos, outra peculiaridade

É importante esclarecer que cada pessoa é única e que os gatilhos da depressão nem sempre são claros. Normalmente existem variáveis sociais, ambientais, pessoais e genéticas. No entanto, em média, costuma-se observar que os fatores de internalização são mais comuns nas mulheres, enquanto os fatores de externalização são comuns nos homens.

O que queremos dizer com variáveis de internalização e externalização? Os primeiros estão ligados às relações interpessoais. Relações ruins com a família, parceiro, colegas de trabalho ou filhos costumam ser a causa da depressão nas mulheres. Por outro lado, fatores como a violência exercida na relação do casal é outro fato de grande impacto.

Em relação aos homens, um fator externalizante é a perda do emprego, problemas financeiros, não conseguir atingir os objetivos propostos ou não poder se desenvolver na carreira profissional.

Sintomas da depressão em homens e mulheres

Sabemos que, como indicam diversos estudos, como o realizado na University of Wisconsin, a depressão é diferente nos homens e nas mulheres. Conhecer os elementos que os diferenciam em termos de sintomas pode nos ajudar a entender essa particularidade em cada sexo.

São os seguintes:

  • Enquanto as mulheres tendem a apresentar mais apatia, angústia e tristeza, nos homens se sobressaem o mau humor e a irritabilidade.
  • Os homens apresentam maiores comportamentos “escapistas”. Ou seja, podem ir à academia para evitar pensar ou recorrer a comportamentos de risco para sentir emoções fortes.
  • Algo particular sobre as mulheres é que elas são mais propensas a buscar ajuda e apoio em seu ambiente. Eles, por outro lado, podem negar sua situação e as alterações em seu humor. Em muitos casos, é comum que homens com depressão apresentem comportamentos de dependência.

Ronald Levant, ex-presidente da American Psychological Association (APA), cunhou o termo alexitimia masculina para definir a dificuldade que alguns homens costumam ter quando se trata de compreender seu estado de espírito e expressá-lo. Esse fator pode ser um gatilho comum e denso na depressão.

Homem desperto por preocupações

Os homens têm maiores taxas de suicídio

O fator mais problemático que encontramos é, sem dúvida, a alta taxa de suicídio em homens. É uma evidência e uma realidade à qual devemos estar mais atentos. Normalmente, por trás dessas pessoas, está a depressão maior não tratada, não identificada ou mal assistida. Isso nos obriga a desenvolver medidas adequadas de conscientização e prevenção.

As campanhas de saúde mental também devem ser direcionadas aos homens, normalizando o fato e a importância de buscar ajuda especializada. Precisamos de profissionais da atenção básica para identificar precocemente essa realidade, aquela que muitas vezes se esconde por trás de dores de cabeça, problemas digestivos ou distúrbios do sono.

Os ambientes de trabalho também devem contemplar a necessidade de criação de departamentos e equipes multidisciplinares de saúde ocupacional. Em essência, sabemos que embora a depressão seja diferente em homens e mulheres, são os primeiros que chegam aos extremos mais problemáticos. A mulher, porém, também precisa de uma assistência mais destacada em tudo que se refere à gravidez, perdas gestacionais, pós-parto, etc.

Se soubermos como a depressão se manifesta na vida das pessoas e atendermos às particularidades de cada gênero, certamente desenvolveremos estratégias de cuidado mais eficazes. Esse é o objetivo.


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