Descubra seu estilo de enfrentamento de acordo com Jeffrey Young

Você desiste, evita ou enfrenta? Jeffrey Young desenvolveu a terapia focada em esquemas para ajudar pessoas com distúrbios emocionais crônicos e transtornos de personalidade a encontrar abordagens mais adaptativas para seu relacionamento com a experiência.
Descubra seu estilo de enfrentamento de acordo com Jeffrey Young
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 13 abril, 2023

O que fazer se um paciente tiver vários transtornos? Como intervir em ‘pacientes difíceis’? O que acontece se o problema se tornou crônico? Jeffrey Young, um psicólogo americano, passou 20 anos desenvolvendo a terapia de esquemas para fornecer uma solução para esses problemas. Neste artigo vamos nos concentrar em um dos pilares de seu método: o estilo de enfrentamento segundo Young.

A terapia de esquemas é integradora e combina elementos da escola cognitivo-comportamental, teoria do apego, gestalt, modelos construtivistas e psicodinâmicos. Tem sido aplicada principalmente em transtornos de personalidade, embora estejam sendo desenvolvidas linhas de pesquisa sobre sua eficácia em outros transtornos, como ansiedade, depressão ou transtornos alimentares.

“Às vezes, os pacientes têm dificuldade em acessar seus sentimentos, pensamentos e imagens.”

-Young-

paciente em terapia
Para a terapia de esquemas, o ser humano saudável do ponto de vista psicológico é aquele que é capaz de satisfazer de modo adaptativo essas necessidades.

Conceitos básicas da terapia

Antes de nos aprofundarmos nos estilos de enfrentamento propostos por Young, convém fazer um breve percurso pelos conceitos básicos que fundamentam a terapia, a fim de esclarecer suas abordagens e elementos terapêuticos.

1. Esquema disfuncional precoce

O modelo de Young coloca a lupa no esquema disfuncional precoce (EDT). Um esquema que funciona como um guia que nos diz como nos comportar, como pensar, sentir e perceber; se se desenvolve e é elaborada ao longo da vida da pessoa. As características dos EDT, segundo Young, são as seguintes:

  • São verdades a priori.
  • Se autoperpetuam.
  • São resistentes a mudanças.
  • São disfuncionais; ou seja, produzem desconforto.
  • Normalmente, são gerados e ativados por experiências ambientais.
  • Produzem estados afetivos intensos e elevados.
  • Eles surgem da interação entre temperamento e experiências evolutivas disfuncionais.

Os EDT são o reflexo de como as crenças que temos sobre nós mesmos se organizam em relação ao que nos cerca e são produto de eventos estressantes, por vezes traumáticos, com pessoas que foram significativas e importantes para nós quando éramos pequenos, fundamentalmente nossa família.

“Conhecer o esquema disfuncional precoce implica conhecer as origens, a infância dos pacientes e a influência de tudo isso em seus problemas.”

-Rodríguez-Vílchez-

2. Origem dos esquemas

Os EDT surgem como consequência da insatisfação de necessidades emocionais na infância que são básicas e nucleares:

  • A necessidade de estabelecer vínculos afetivos e seguros com outras pessoas.
  • Saber-se autônomo, competente e ter sentido de identidade.
  • Ser livre para expressar as próprias necessidades e emoções; e saber que são válidos.
  • Ser espontâneo e brincar.
  • Estabelecer limites realistas e desenvolver a capacidade de autocontrole.

3. Experiências vitais precoces e esquemas

Os esquemas que tendem a ter maior impacto na vida dos pacientes são aqueles que se originam na infância e no seio da família. 4 tipos de experiências no início da vida foram encontrados para predispor o desenvolvimento de EDT:

  • Frustração de necessidade tóxica. Ocorre quando a criança recebe “muito pouco de uma coisa boa”. Essa vivência favorece o desenvolvimento de esquemas como: carência emocional ou abandono/instabilidade. Eles surgem porque algo importante estava faltando no ambiente da criança, como amor, compreensão ou estabilidade.
  • Traumatização. Ocorre quando a criança é prejudicada, criticada ou humilhada. Como resultado, é provável que a criança desenvolva desconfiança/abuso, imperfeição ou vulnerabilidade a esquemas de perigo.
  • Experimentação de algo bom demais. É a contrapartida da frustração tóxica das necessidades. Nesse caso, os pais deram à criança algo que quando dado com moderação é saudável, mas deixa de ser quando dado em excesso. Gera esquemas do tipo dependência/incompetência.
  • Internalização seletiva ou identificação com outras pessoas significativas. Acontece quando o pequeno endossa e internaliza os esquemas dos próprios pais, tornando seus os medos e fobias de seus pais. Muitas vezes, o esquema gerado é o da vulnerabilidade.

“Acreditamos que o temperamento determina em grande parte se uma criança se identifica e internaliza uma característica específica de um dos pais”.

-Rodríguez-Vílchez-

Estilo de afrontamento segundo Young

A terapia de Young é muito extensa e é por esse motivo que acabamos de dar algumas pinceladas básicas nos conceitos mais relevantes para entender melhor o estilo de enfrentamento segundo Young.

Imagine que você está andando por uma trilha e aparece uma cobra. Você pode lidar com a situação de três maneiras: a primeira seria desistir, congelar e não fazer nada para se salvar, aceitar o fato de que ela vai te morder. A segunda forma seria evitar, ou seja, “nunca mais vou fazer trilha porque tem cobra”. A terceira forma é chamada de “supercompensação” e consiste basicamente em fazer o contrário do que o esquema dita. Se o esquema for “isolamento social”, a supercompensação será o padrão oposto: socializar.

O estilo de enfrentamento surge porque no passado nos permitiu reduzir a intensidade emocional que vivenciamos em uma ou mais situações. Embora no passado tivesse uma função, no presente produz desconforto: perpetua e mantém o problema.

1. Entregar-se ao esquema

Entregar-se a um esquema significa adiar a luta contra ele. Nem mesmo é evitado, mas o esquema é aceito como uma verdade absoluta, imutável, certa e verdadeira. A dor emocional é vivenciada diretamente e, por sua vez, reafirma o esquema.

“Sem perceber o que está fazendo, o paciente repete padrões que levam ao esquema, de modo que em sua vida adulta continua revivendo as experiências da infância que o criaram.”

-Rodríguez-Vílchez-

No começo da terapia de esquemas, o estilo de enfrentamento de “renúncia ao esquema” era chamado de “manutenção do esquema”. Por exemplo, uma mulher com um esquema de desconfiança-abuso pode apostar em relacionamentos amorosos com um homem que tende a ser infiel. Isso confirmaria as crenças da paciente de que, mais cedo ou mais tarde, a trairiam.

2. Evitar o esquema

Evitar o esquema significa ignorar conscientemente pensamentos, afetos e comportamentos para evitar a intensidade emocional que representa experimentá-lo.

“Através desse processo o indivíduo está tentando evitar o desconforto que aparece com a ativação do esquema”.

-Rodríguez-Vílchez-

Refere-se a qualquer atividade que façamos que impede a ativação de um esquema, desde pensar até bloquear pensamentos e imagens, ou nos distrair, ou evitar experimentar um sentimento, e também comer ou beber em excesso.

Mulher pensando sentada na janela
Para curar um esquema, é preciso diminuir sua intensidade, segundo Young.

3. Supercompensação do esquema

Imagine que você está em uma canoa no meio de um rio com uma cachoeira pela frente, o que você faria? A resposta mais adequada seria “remar contra a corrente para escapar da cachoeira”. Isso é supercompensação.

A supercompensação ocorre quando se decide lutar contra o esquema por meio de pensamentos, sentimentos, comportamentos e relacionamentos opostos com os outros. Como se o esquema estivesse mal.

A supercompensação é uma tentativa bastante saudável de combater o esquema, mesmo que isso signifique que o esquema continua a se perpetuar.

“Na verdade, alguns dos indivíduos mais admirados em nossa sociedade, por exemplo, líderes políticos, estrelas da mídia ou grandes empresários são, com muita frequência, supercompensadores.”

-Rodríguez-Vílchez-

Para Young, curar um esquema significa reduzir a intensidade, o volume, dos elementos que compõem um esquema: memórias, emoções, sensações corporais, pensamentos… Curar um esquema implica mudar nosso comportamento e aprender a substituir nosso estilo de enfrentamento de acordo com Young desadaptado, fundamentalmente a rendição e a evitação por outro mais saudável.


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