O desenho infantil e seus estágios

O desenho infantil e seus estágios
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O desenho infantil, além de ser uma atividade recreativa, é uma das maneiras por meio das quais as crianças podem traduzir a realidade em uma folha ou outro tipo de suporte, expressando sua imaginação ou sua visão particular do mundo em que vivem: suas construções de como o mundo é.

A relação existente entre as imagens mentais da criança e seus desenhos é muito próxima. Enquanto as imagens mentais são imitações internalizadas, o desenho é uma imitação exteriorizada. Assim, em muitos casos, investigar o desenvolvimento qualitativo do desenho infantil nos permite compreender, com certas reservas, a capacidade simbólica da criança.

Etapas do desenho infantil

Neste artigo, vamos falar sobre os vários estudos de Luquet sobre os estágios do desenho infantil. Neles, ele começou estabelecendo que a principal característica do desenho infantil é que este é realista. As crianças estão mais focadas em desenhar as características da realidade do que os aspectos relacionados à beleza artística. As etapas pelas quais o desenho das crianças evolui são: (a) realismo casual, (b) realismo frustrado, (c) realismo intelectual e (d) realismo visual.

Realismo casual

O desenho começa sendo uma extensão da atividade motora que é captada em um suporte. É por isso que as primeiras produções da criança vão ser o que conhecemos como rabiscos. Os rabiscos são, então, traços deixados pela criança a partir de suas primeiras investigações acerca de seus movimentos. Eles fornecem a base para as seguintes etapas.

Desenho infantil

Logo as crianças começam a encontrar semelhança entre seus desenhos e a realidade, ou mesmo tentam traduzi-la, mesmo que não tenham capacidade suficiente para fazê-lo. Se você perguntar o que estão desenhando, pode ser que a princípio não digam nada, mas, assim que encontrarem uma certa analogia entre o desenho e a realidade, vão considerá-lo como uma representação da mesma.

Esta etapa é chamada de realismo casual, já que a representação da realidade vem após ou enquanto o desenho é feito. Não há intenção prévia de desenhar um aspecto concreto da realidade. A semelhança é casual ou sem intenção, mas a criança a recebe com entusiasmo e às vezes, inclusive, uma vez vista a analogia, tenta melhorar o desenho.

Realismo frustrado

A criança tenta desenhar algo específico, mas sua intenção é frustrada devido a certos obstáculos e ela não consegue o resultado que deseja. O principal deles é o controle motor, que ainda não desenvolveu precisão suficiente para a exigência de seus desenhos. Outro dos problema é a natureza descontinuada e limitada da atenção infantil; ao não prestar atenção suficiente, certos detalhes que o desenho deve ter são ignorados.

Segundo Luquet, o aspecto mais importante desta etapa é a “incapacidade sintética”. Esta é a dificuldade da criança em organizar, dispor e orientar os diferentes elementos do desenho. Na hora de desenhar, é muito importante a relação existente entre os elementos, já que sua organização é a que configura o desenho. No entanto, as crianças nesta fase têm problemas com isso. Por exemplo, pode acontecer que ao desenhar rostos, a boca esteja acima dos olhos.

Realismo intelectual

Uma vez superados os obstáculos da etapa anterior e a “incapacidade sintética”, nada impede que o desenho da criança seja completamente realista. Mas um aspecto curioso é que o realismo infantil não se parece com o realismo adulto. A criança não traduz a realidade como a vê, mas como sabe que é. Estamos diante de um realismo intelectual.

É possivelmente a etapa que melhor representa os desenhos infantis e a mais interessante quando se trata de pesquisar e estudar. Ao longo desta etapa, veremos duas características essenciais apresentadas pelos desenhos da criança: a “transparência” e o “deslocamento”.

Elefante dentro de cobra

Quando falamos de “transparência”, queremos dizer que a criança desenha as coisas que estão escondidas, tornando transparente o que as obscurece. Por exemplo, desenha uma galinha dentro de um ovo ou pés dentro dos sapatos. O outro processo, o “deslocamento”, consiste na projeção do objeto no chão, ignorando a perspectiva; um exemplo é desenhar a fachada de uma casa em vertical e o interior dos quartos vistos de cima.

Essas duas características nos mostram como os fatores visuais não são relevantes na hora de expressar os desenhos. Em vez disso, a criança se fixa na sua representação mental e tenta representar o que ela sabe no que quer desenhar. E é por isso que aparecem “erros”, como a transparência das coisas opacas ou a pouca importância dada à manutenção da perspectiva.

Realismo visual

A partir dos oito ou nove anos, já aparece um desenho próximo do adulto, no qual a criança desenha a realidade como ela a vê. Para fazer isso, a criança segue duas regras: a perspectiva e a de aderir ao modelo visual. As características do realismo intelectual desaparecem completamente: eliminando objetos não visíveis, adotando uma perspectiva única e mantendo a proporção de dimensões. Ou seja, a criança adota um realismo visual.

Por isso, os desenhos das crianças perdem a característica própria que os definia. Além disso, muitas das crianças começam a perder o interesse em desenhar porque começam a ter a sensação de que sua habilidade não lhes permite fazer desenhos que se aproximem da realidade.

Como conclusão, é interessante mencionar que, embora possamos estabelecer um desenvolvimento do desenho em etapas, devemos ser cautelosos. Uma vez que este desenvolvimento não é tão linear quanto podemos imaginar, encontraremos avanços e retrocessos pelas diferentes fases. Assim, diante de uma tarefa mais difícil, pode ser que a criança adote a estratégia de uma etapa anterior.


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