No desenvolvimento cognitivo, o nível acadêmico da mãe e o trabalho do pai pesam mais

Uma mãe com estudos universitários e um pai com bom status social favorecem o desenvolvimento cognitivo dos filhos. A estratificação social continua a criar lacunas no desenvolvimento infantil. O que podemos fazer?
No desenvolvimento cognitivo, o nível acadêmico da mãe e o trabalho do pai pesam mais
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Sabemos que a estratificação social condiciona o desenvolvimento infantil. O respaldo de um entorno financeiro estável, como era de se esperar, é um fator que favorece o desenvolvimento das crianças. Agora, um estudo atual sugere que o nível acadêmico da mãe e o trabalho do pai pesam mais no desenvolvimento cognitivo.

A renda, a formação e a ocupação dos pais influenciam diretamente a evolução cognitiva dos filhos. Descobrir que existem diferenças na forma como as condições parentais nos influenciam é, para dizer o mínimo, interessante. Infelizmente, os lares menos favorecidos são um obstáculo para o desenvolvimento dos menores.

O nível socioeconômico continua sendo uma das variáveis mais estudadas para entender como as crianças se desenvolvem. Atualmente, temos mais dados para nos conscientizarmos da necessidade de desenvolver melhores mecanismos para promover a igualdade de oportunidades entre os alunos.

Vamos aprender mais sobre o assunto.

Embora a interação de fatores que favorecem o desenvolvimento dos filhos seja altamente variável, é evidente que o status dos pais sempre terá uma influência positiva.

Mãe trabalhando no desenvolvimento cognitivo de seus filhos

O desenvolvimento cognitivo das crianças depende da posição e dos estudos dos pais

É importante esclarecer primeiro que o desenvolvimento cognitivo e o desempenho acadêmico de uma criança dependem de múltiplos fatores. Existem famílias monoparentais, por exemplo, que, sem ter um status elevado, conseguiram levar seus filhos para a universidade. Com isso queremos dizer que o desenvolvimento das habilidades cognitivas é baseado em muitas variáveis, mas existem algumas que se correlacionam de forma mais significativa.

Agora, se até pouco tempo sabíamos que um ambiente financeiro em que as necessidades são atendidas favorece o desenvolvimento infantil, influenciando a quantidade e a qualidade das oportunidades de que os pequenos podem usufruir, existe uma variável que não conhecíamos. Um trabalho de pesquisa realizado pela Universidade Jaume I de Castellón e pela Universidade de Valência, na Espanha, aponta para uma ideia interessante.

A formação da mãe e o trabalho do pai melhoram o desenvolvimento cognitivo

A pesquisa foi publicada na Gaceta Sanitaria, gerando um impacto considerável na comunidade científica. Nela, foram acompanhadas 525 crianças de cinco a seis anos que pertenciam a diversos contextos sociais. Foi levado em consideração que existem três fatores decisivos no desenvolvimento cognitivo:

  • Renda familiar.
  • Nível educacional dos pais.
  • Status social.

Essas três variáveis estabelecem as bases de um maior interesse, tempo e recursos para que as crianças tenham melhores oportunidades acadêmicas. Pois bem, agora sabemos que, além desses fatores já conhecidos, outros pontos também são decisivos:

  • Um bom trabalho do pai (posição social) oferece segurança e estabilidade ao lar.
  • Em média, essa estabilidade financeira significa que a mãe tira uma licença maternidade mais longa e pode até optar por parar de trabalhar nos primeiros anos. Uma boa formação acadêmica por parte da mãe está associada a um bom desenvolvimento cognitivo dos filhos durante esse período.

A importância da estabilidade no emprego: menos estresse, mais tempo, melhor nutrição

Vamos nos lembrar, por um momento, da pirâmide de necessidades básicas de Abraham Maslow. Ele indicou que o bom desenvolvimento do ser humano atinge os níveis mais elevados quando são contemplados alguns princípios básicos (alimentação, segurança, trabalho, lar, afeto, etc.).

Esses princípios são essenciais, especialmente durante a educação dos filhos e até mesmo na gravidez.

  • A estabilidade econômica e de trabalho em uma casa favorece uma gravidez mais saudável. Na verdade, este estudo descobriu que famílias desfavorecidas tiveram bebês que eram menores e mais vulneráveis a potenciais agentes ameaçadores do ambiente.
  • Mães com bom status social também foram expostas a ambientes menos poluentes e tiveram menores níveis de estresse durante a gravidez.
  • Da mesma forma, este status somado a um alto nível educacional da mãe, favorece que as crianças tenham melhores habilidades psicomotoras, habilidades verbais e funções executivas (atenção, memória, resolução de problemas…).

Um fator importante no desenvolvimento cognitivo das crianças é que os pais têm mais tempo para os filhos. A estabilidade econômica significa menos preocupação e estresse. Desta forma, a atmosfera em casa é mais estimulante emocional e intelectualmente.

Criança triste olhando pela janela

Para reflexão: quando a desigualdade social cronifica a pobreza e até mesmo os déficits no desenvolvimento infantil

É um fato inegável. O impacto da estratificação social cronifica as desigualdades. Ou seja, as crianças que crescem em ambientes desfavorecidos têm menos oportunidades acadêmicas. A razão? É comum que abandonem os estudos mais cedo e o fracasso escolar seja maior nesse núcleo populacional. Sem contar como a alimentação inadequada dificulta o correto desenvolvimento cognitivo da criança.

Ressaltamos, mais uma vez, que pode haver exceções; no entanto, os dados estão lá. O peso que a pobreza tem no desempenho acadêmico é significativo. Que solução existe para isso? O problema, obviamente, é estrutural.

No entanto, nossos organismos sociais podem e devem buscar novos mecanismos. Não precisamos apenas de mais apoio ao mercado de trabalho para favorecer empregos mais estáveis para as famílias. É urgente que mais programas sejam desenvolvidos para compensar esse fator diferencial que causa tantas desigualdades.


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