Desintoxicação sentimental: superando o fim de um relacionamento

Continuar com a nossa vida de forma saudável depois do fim de um relacionamento passa por uma fase de desintoxicação sentimental que nos permite construir novas rotinas e reconstruir a nossa identidade.
Desintoxicação sentimental: superando o fim de um relacionamento
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Durante o nosso trajeto de vida, podemos enfrentar o fim de vários relacionamentos. Seja por decisão própria ou alheia, este é um processo que costuma gerar sentimentos muito díspares. Desse modo, podemos dizer que a desintoxicação sentimental é um passo imprescindível para curar as feridas causadas por esses términos.

Um término pode ser aquela gota que faz o copo d’água transbordar, pode causar uma ferida tão profunda que nos fará duvidar de tudo e de todos, pode gerar um grande acúmulo de rancor. Qualquer que seja o caso, não é um processo fácil. Requer uma aceitação, um entendimento do acontecido que não prejudique o futuro da pessoa afetada.

Esconder a dor e tentar ignorá-la pode funcionar durante algum tempo, mas a verdade é que encher a nossa bagagem vital com feridas sem cicatrização não é a melhor forma de avançar. Mais cedo ou mais tarde, essas feridas podem reabrir em circunstâncias e com pessoas que não têm nada a ver com a sua origem.

Sendo assim, a desintoxicação sentimental é fundamental para curar as feridas abertas após o fim de um relacionamento.

As diferentes respostas ao terminar uma relação

Existem diferenças individuais e circunstanciais que influenciam, e em muitos casos definem, a forma como enfrentamos o fim de um relacionamento. Idade, momento de vida, autoestima, personalidade ou implicação pessoal são somente algumas das variáveis moduladoras.

Por outro lado, se estiver tudo bem com o relacionamento e o término não for previsível, é muito provável que comecemos a nos sentir muito mal com nós mesmos e com as circunstâncias. No entanto, quando a relação foi abusiva, a pessoa que decidiu colocar um fim no relacionamento costuma ter sentimentos bastante positivos em relação ao término.

Além disso, as reações pessoais ao término podem levar a determinados comportamentos e estados mentais muito negativos, favorecendo estratégias de enfrentamento muito disfuncionais. Desde uma angústia emocional extrema, a comportamentos ilusórios de tentar retomar a relação de todos os jeitos, até tentativas de vingança.

Lidar com o fim do relacionamento

A ruptura da identidade

Nos términos sentimentais, encontramos dois grupos de emoções claramente diferenciadas. Por um lado, há pessoas que sentem angústia, confusão, tristeza e solidão, que podem derivar em frustração e até mesmo em raiva.

No outro extremo, outra parte das pessoas vive o término com emoções de liberdade, alívio, empoderamento e otimismo. Mesmo assim, na maioria dos casos, as pessoas possuem uma considerável capacidade de recuperação com o tempo.

No entanto, o que acontece em ambos os casos é uma ruptura de identidade. A reconstrução do “eu” sem a outra pessoa é necessária para as duas partes. Por isso, é errôneo pensar que o fim é mais fácil para a pessoa que tomou a decisão.

A ruptura de identidade é igual para ambos e, além disso, em muitos casos, a pessoa que decide colocar fim no relacionamento está tomando a decisão que a outra pessoa não quis ou não pôde tomar, e por isso carrega uma responsabilidade dupla.

Quem eu sou sem você?

Este é o primeiro passo do processo de superação de um término. O conceito de si mesmo é uma das construções que mais saem danificadas nestes casos.

Em uma relação de longo prazo, o sentimento do “eu” fica, em muitos casos, unido à outra pessoa. Isso é um erro de base das relações, inclusive quando parece que o relacionamento está funcionando.

Em todo caso, na hora de enfrentar um término sentimental, a primeira coisa a se fazer é aceitar que a situação mudou e que você também mudou com ela. Não interessa se foi uma mudança voluntária ou involuntária.

Enfrentar a mudança é o primeiro passo. Como em qualquer outro processo de luto, é necessário saber que as coisas nunca mais serão iguais e que você não será a mesma pessoa.

Em muitos relacionamentos que terminaram, além das conotações emocionais, o cenário passa por uma mudança drástica de rotina, e os seres humanos são animais de costumes. Ver-nos obrigados a substituir as rotinas mais básicas é um processo que requer uma inteligente combinação entre decisão e vontade.

O autoconceito danificado ou curado

Geralmente, na hora de enfrentar um término, convém analisar a relação em termos de criação de identidade e autoconceito.

O término tenderá a danificar seriamente o conceito de si mesmo caso a relação tenha ajudado a forjar um melhor conceito de nós mesmos, a crescer como pessoas, e revelado partes importantes da nossa própria natureza, gerando, nessa evolução, um tipo de independência latente.

Do contrário, caso o relacionamento que mantínhamos não nos tenha permitido viver plenamente como pessoas, não nos ajudou a crescer ou tenha nos impedido de expressar a nossa própria natureza, o término pode nos trazer sentimentos de redescoberta pessoal. Neste caso, o processo de desintoxicação sentimental pode ser vivido com um grande alívio.

Homem perdido com as mãos na cabeça

Escrever ajuda a assumir outra perspectiva

O Dr. Lewndowski realizou algumas pesquisas buscando formas efetivas de curar as feridas dos términos amorosos. Escrever sobre os nossos sentimentos enquanto passamos por um término revelou-se como uma grande estratégia de enfrentamento e de desintoxicação sentimental. Não se trata de manter um diário de tragédias, na verdade é mais simples.

Esta técnica passa por três fases:

  • A primeira é refletir sobre o papel dos fatores que acreditamos que levaram ao término do relacionamento. Depois, devemos analisar o que foi escrito e pontuar de que forma isso afetou a nossa identidade e o conceito de nós mesmos;
  • Em uma segunda fase, devemos escrever sobre as consequências do término alguns dias depois de ter ocorrido;
  • Na terceira fase, escrevemos sobre as consequências do término algumas semanas depois.

Trata-se, definitivamente, de focar em mais aspectos do que a simples tristeza e os sentimentos negativos. Escrever sobre os eventos ajuda as pessoas a entender o acontecido com mais clareza.

A síndrome de abstinência na desintoxicação sentimental

A transformação química que acontece no nosso cérebro com a dor de um término pode se assemelhar à forma como o cérebro de um viciado evolui ao ser impedido de consumir o objeto de seu vício.

As análises da antropóloga Hellen Fisher sugerem que, durante a paixão romântica, os sistemas de recompensa e sobrevicência mesolímbicos estão ativados. Este é outro dos segredos para a desintoxicação emocional.

Entender que há uma parte física que se ressentirá durante um tempo ajuda a lidar com outra forma de síndrome de abstinência emocional. Entender que estes são sintomas puramente físicos que se reduzem e são eliminados com o tempo também ajuda a superar esta fase.

A desintoxicação sentimental tem uma parte física e outra emocional. Compreender isso nos ajuda a superar, pouco a pouco, o término.

Mulher passando por desintoxicação sentimental

Quando é aconselhável começar um novo relacionamento?

Há uma ideia generalizada de que um novo relacionamento que começa após um término não é uma boa ideia, nem costuma dar certo.

No entanto, os resultados dos estudos que focaram nessa ideia mostram que se envolver, antes ou depois, em um novo relacionamento, tem mais a ver com a confiança em um novo parceiro do que com os sentimentos sobre o parceiro anterior.

Parece que o tempo transcorrido entre um relacionamento e o outro não prediz o sucesso ou fracasso do segundo. Às vezes, relacionamentos “rebote” ajudam a resolver os conflitos pessoais criados por um término doloroso da relação anterior. A verdade é que depende mais de como nos encontramos emocionalmente.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.