Distância emocional: quando os relacionamentos esfriam

Quando os relacionamentos esfriam e surge a distância, devemos ser conscientes. Às vezes, essa relação merece ser salva, mas em outros casos, devemos nos libertar com respeito e sabedoria emocional.
Distância emocional: quando os relacionamentos esfriam
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Quando os relacionamentos esfriam, geralmente surgem os comportamentos mais repreensíveis. Há aqueles que, depois da distância emocional, dão lugar à desconexão física para saírem sem dar uma explicação. Há também aqueles que fazem uso de falsas desculpas, e os que se recusam a assumir o vazio do vínculo, o frio de uma relação de casal ou de amizade que está chegando ao seu fim.

Os relacionamentos, assim como os ossos, também se quebram. No entanto, a maioria desses rompimentos ou desses distanciamentos nem sempre ocorrem abruptamente de um dia para o outro. Na maioria das vezes, os términos são precedidos por um distanciamento sutil e progressivo. A falta de cumplicidade, os olhares que não se cruzam mais e os risos que já não compartilham das mesmas coisas são geralmente as primeiras pistas.

A distância emocional sempre dói, e ainda mais se há uma parte que continua alimentando o vínculo e acreditando nele. No entanto, vale destacar que, muitas vezes, a outra parte também sofre ao acumular um certo sentimento de culpa ou remorso. Seja como for, em todas essas situações há algo que permanece em evidência: nossa capacidade deficiente de administrar os términos.

Uma resolução adequada sempre facilita o progresso em direção a essa nova etapa. Caso contrário, e especialmente se formos forçados a enfrentar o ghosting  (ser abandonados abruptamente e sem explicação), pode ser mais difícil superar essa experiência. No entanto, todos nós possuímos em nosso interior os recursos adequados para enfrentar essa situação.

“Sinto-me tão isolado que posso sentir a distância entre mim e a minha presença”.
-Fernando Pessoa-

Quando os relacionamentos esfriam e procuramos um porquê

Quando os relacionamentos esfriam e procuramos um porquê

Quando os relacionamentos esfriam, há sempre uma razão por trás, mesmo que não nos agrade. Falta de amor, falta de interesse, novas necessidades e interesses, visões opostas sobre determinadas coisas… Quando a chama de um laço emocional se apaga, sempre dá lugar a uma densa e ambígua escuridão na qual não sabemos realmente como nos mover.

Um estudo publicado por Charlene Belu e Brenda H. Lee, da Universidade de Cambridge, ressalta que poucas coisas são tão complexas para o ser humano quanto deixar um relacionamento. Algo que pôde ser demonstrado neste trabalho é que, muitas vezes, precisamos conhecer ou esclarecer bem a razão deste término, a fim de reconstruir nossas vidas.

Caso contrário, as pessoas não hesitam em tentar retomar o contato; em insistir repetidamente dificultando o processo de luto e a oportunidade de dar por encerrado uma etapa para iniciar uma nova com maior integridade.

Algo que os pesquisadores deste trabalho puderam verificar são as dinâmicas inadequadas que costumamos usar quando os relacionamentos esfriam. São as seguintes:

Maneiras negativas de terminar um relacionamento

Assim como indicamos no início, a dinâmica mais prejudicial e inadequada para enfrentar o fim do vínculo é desaparecer sem dizer nada. ghosting é, atualmente, uma prática recorrente experimentada tanto em relações amorosas quanto de amizade.

  • culpa não é sua, é “minha”. Com esta tão conhecida e recorrente frase escolhemos libertar a outra pessoa de toda a (suposta) responsabilidade para usar desculpas como “você merece algo melhor”, “acredito que não lhe dou o que você precisa”. Tudo isso é uma forma de camuflar uma evidência simples: que os nossos interesses são outros, que não amamos mais a outra pessoa.
  • O iceberg quebrado. O recurso do iceberg é outra das estratégias mais comuns. Trata-se simplesmente de permitir que o relacionamento esfrie cada vez mais a cada dia, negando evidências, dando desculpas, até que, finalmente, a relação congelada acaba afundando e se rompendo.
Distância emocional, uma difícil encruzilhada

Distância emocional, uma difícil encruzilhada

Quando os relacionamentos esfriam, nem sempre refletem o prelúdio de um término irremediável. Algo que deve ficar claro é que a distância emocional pode nos deixar à deriva por um tempo. No entanto, às vezes, se formos capazes de fazer uso de estratégias adequadas, podemos devolver o calor e o brilho para a relação (no caso da mesma merecer ser salva).

Algo que é visto com muita frequência nas consultas psicológicas são, sem dúvida, os transtornos de ansiedade e as depressões. Esses estados afetam diretamente a qualidade das relações sociais. Assim, quando uma pessoa passa por um período de estresse ou desânimo, geralmente não tem energia e impulso suficientes para desfrutar de seus relacionamentos.

Com tudo isso, queremos evidenciar algo muito simples: a distância emocional e essas relações que esfriam podem ser tratadas. Os vínculos, assim como as próprias pessoas, passam por diferentes etapas e precisam de atenção, de novos nutrientes, e nos permitem aprender com seus próprios conflitos e discrepâncias para crescer, avançar transformados em algo novo e mais forte.

Dente de leão se desfazendo

Em todos esses casos, tanto para avivar o vínculo e salvá-lo quanto para terminá-lo, precisamos ser pessoas emocionalmente competentes. E essa disciplina não é ensinada nas escolas. Devemos praticá-la diariamente nas pequenas coisas, na sensibilidade, na linha do respeito, no exercício da dignidade e da assertividade.

Porque cada vínculo, seja ele de casal ou de amizade, merece ser respeitado em qualquer uma de suas fases. Saber se libertar com integridade e respeito também diz muito sobre a nossa qualidade humana.


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  • Belu, C. F., Lee, B. H., & O’Sullivan, L. F. (2016). It hurts to let you go: Characteristics of romantic relationships, breakups and the aftermath among emerging adults. Journal of Relationships Researchdoi:10.1017/jrr.2016.11

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