Do que a condição humana precisa, segundo Erich Fromm

Segundo Erich Fromm, as pessoas precisam de doses mais elevadas de humildade e amor. Em uma sociedade cada vez mais narcisista, o egoísmo é um germe que deve ser combatido para ganharmos felicidade, harmonia e respeito.
Do que a condição humana precisa, segundo Erich Fromm
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

De acordo com Erich Fromm, a condição humana precisa de uma mudança. O psicanalista social e filósofo alemão que se atreveu, em sua época, a desafiar Sigmund Freud, reformulou o conceito de liberdade e se esforçou, inclusive, para enfatizar algo muito atual em uma sociedade cada vez mais técnica, fria e estruturada: estamos perdendo a nossa felicidade.

Em seu imprescindível livro Ter ou Ser?, ele nos deixou mensagens atemporais que continuam transmitindo ideias incrivelmente transformadoras. Entre elas, há uma que pode ser muito familiar: as pessoas se acostumaram a viver sob uma premissa que diz que quem não tem, não é.

No entanto, o verdadeiro bem-estar e a realização humana residem, precisamente, no ser, em nos definirmos acima dos nossos pertences.

Já faz trinta anos que Erich Fromm se foi, mas seus pensamentos, reflexões e legado continuam sendo imprescindíveis. Precisamos de uma mudança, de uma reformulação para podermos trabalhar em uma liberdade real, sem nos medirmos pelo que temos e valorizando-nos pelo que somos.

“A produção econômica não deve ser um fim em si mesmo, e sim um meio para uma vida humanamente mais rica. Será uma sociedade na qual o homem será muito, não uma sociedade na qual o homem terá muito, ou consumirá muito”.
-Erich Fromm-

Pássaros rumo à liberdade

Do que a condição humana precisa, segundo Erich Fromm?

Segundo Erich Fromm, a condição humana precisa de vários aspectos que iremos analisar a seguir. Para compreender o seu enfoque e perspectiva, devemos recordar primeiro que o centro da sua filosofia sempre se baseou em um humanismo quase radical.

O que isso significa? Significa que este psicólogo social buscava, acima de tudo, libertar a pessoa das suas correntes. Cada um de nós arrasta, quase sem perceber, diversos lastros.

A estrutura industrial, social e política coloca sobre nós uma infinidade de moldes e parafusos que impedem a nossa realização, capacidade de escolha, pensamentos e vontades. No entanto, nós também limitamos a nossa própria felicidade de diferentes maneiras.

Fazemos isso ao escolher o conflito e a violência em vez da paz, também o fazemos ao nos guiarmos pelos instintos, e não pela razão e a emoção e, sobretudo, ao não nos amarmos como merecemos.

Desse modo, em seu livro Anatomia da Destrutividade Humana, Fromm indica que a situação atual da humanidade é muito grave e que, por isso, é necessário criar novos marcos mentais, novos cenários de reflexão nos quais gerar mudanças.

Vejamos, portanto, do que a condição humana precisa para investir em bem-estar e liberdade.

Devemos ser mais espontâneos

Na obra O Medo à Liberdade (1941), Fromm falou sobre algo inspirador. Segundo eles, as pessoas dão importância demais ao pensamento racional. O ser humano é uma combinação perfeita entre emoção e razão, entre sentimento e autocontrole.

Portanto, na hora de expressar livremente a nossa verdadeira personalidade, precisamos ser mais espontâneos. É assim que quebramos correntes, deixamos ir toda a nossa essência para nos libertarmos do convencionalismo que a sociedade nos impõe.

“É através dos atos espontâneos que conseguimos ter uma visão do que a vida poderia ser se tais experiências não fossem acontecimentos tão raros e tão pouco cultivados”.
-Erich Fromm-

Uma aposta na solidariedade

Em seu livro Ter ou Ser?, Erich Fromm compartilhou diversas ideias que, segundo ele, eram fundamentais para evitar que a humanidade se precipitasse rumo a um destino catastrófico. 

Ele próprio não apenas teve que fazer frente à escuridão da Segunda Guerra Mundial, mas também foi testemunha da Guerra Fria e de todo o contexto no qual a corrida armamentista deixava o mundo inteiro em um cenário de angústia permanente.

Os tempos atuais são outros, mas as essências, de alguma forma, continuam semelhantes. É por isso que as sugestões que ele nos deixou em Ter ou Ser? continuam sendo válidas e inspiradoras. São as seguintes:

  • Ser mais solidário, amar e respeitar a vida em todas as suas manifestações.
  • Sentir alegria também pelo ato de dar, de compartilhar, e não apenas por ter e acumular pertences.
  • Diminuir a cobiça, o ódio e as mentiras.
Mulher com as mãos para o céu

Afastar-se do narcisismo

Para Fromm, a condição humana precisa, acima de tudo, se afastar do narcisismo. Esta premissa é tão recorrente em sua obra que ele introduziu um termo que é importante recordar: o narcisismo maligno.

Para ele, esta busca constante pela autogratificação, pelo reforço do ego e grandiloquência é a verdadeira essência do mal.

Devemos cultivar a humildade, o respeito pelo outro e também por nós mesmos, mas a partir de um ponto de vista saudável, afetuoso e em harmonia com a própria sociedade. O egoísmo seria o pior dos germes, algo que devemos evitar a todo custo porque perpetua a ignorância e a submissão.

Para concluir, independentemente das obras de Erich Fromm terem sido escritas há décadas, elas continuam sendo extremamente valiosas. Mergulhar nelas é um convite para refletir sobre aspectos nos quais vale a pena trabalhar.


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  • Fromm, Erich (1992) Del tener al ser. Barcelona. Paidos.
  • Fromm, Erich. (2007) El humanismo como utopía real,  la fe en el hombre. Buenos Aires. Paidos.
  • Fromm, Erich. (2002) Anatomía de la destructividad humana. Buenos Aires. Paidos.

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