Doença e culpa: qual é a sua relação? 

Doença e culpa: qual é a sua relação? 
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Doença e culpa, juntas, formam um terrível combo que afeta as pessoas. Assim, além de enfrentarem problemas de saúde, tanto físicos quanto psicológicos, elas têm que suportar o fato de estarem doentes.

Elas fazem perguntas como: “P or que isso aconteceu logo comigo? Será que eu vou ser forte o suficiente?” Isso ocupa a mente das pessoas afetadas originando problemas emocionais. Inclusive, também é comum a crença de que elas têm a doença porque são fracas.

A culpa é uma forma particular de medo. Se este medo for cultivado desde a infância, pode bloquear o nosso desenvolvimento emocional, provocando estragos na saúde. A culpabilização, a auto-invalidação e um sentimento de insuficiência habitam as pessoas que se culpam por suas doenças.

O sentimento de culpa costuma ser uma ação inconsciente que condiciona nossas vidas e nos faz viver situações de sofrimento. Ele está subjacente em comportamentos autodestrutivos, fracassos repentinos e inexplicáveis, na perda de relações valiosas e fontes de trabalho e conquistas. Além disso, se a pessoa sofrer de alguma doença, tudo isso pode se agravar.

“De noventa doenças, cinquenta são provocadas pela culpa e quarenta pela ignorância”.
-Paolo Mantegazza-

Doeça e culpa nos transtornos mentais

Se existem doenças que se relacionam especialmente com a culpa, são os transtornos mentais. Eles não recebem a compreensão e o apoio que as pessoas com problemas físicos recebem, como é o caso do câncer ou da esclerose múltipla.

Mulher sentindo culpa

Os transtornos mentais, assim como o resto das doenças, não são escolhas das pessoas. Além do sofrimento e da incompreensão de grande parte da população, somam-se o medo e o desprezo dos demais. Infelizmente, muitos não são capazes de entender o que acontece.

A dor psicológica e o sofrimento emocional são menos dramáticos que a dor física, mas são mais comuns e mais difíceis de suportar. É preciso entender que as pessoas com transtornos mentais não são monstros.

O estigma psiquiátrico é, talvez, o fator mais significativo que influencia negativamente o processo de busca terapêutica e reabilitação. Ele interfere no acesso ao tratamento e cumprimento das prescrições médicas, tornando muito difícil uma reintegração social eficaz e a volta a uma vida normal.

Além disso, o estigma e a exclusão social contribuem significativamente para o sofrimento individual. Isso pode piorar ainda mais a evolução e o prognóstico da doença.

Por um lado, tudo isso é feito como um atributo individual que vincula a pessoa com transtornos mentais a certas características indesejáveis ou estereótipos negativos. Por outro lado, como um produto socialmente construído pela concessão de estereótipos e de rejeição pelo grupo ou sociedade mais ampla.

“A saúde mental precisa de u ma grande quantidade de atenção. É um grande tabu que precisa ser encarado e resolvido”.
-Adam Ant-

Doença e culpa: por que os doentes se sentem culpados?

Como uma pessoa pode se sentir culpada por estar doente? Como uma pessoa com câncer pode se sentir culpada por não ser capaz de aguentar o tratamento? São perguntas de difícil resposta. Ainda assim, a explicação poderia estar no fato de que, em situações de alto conteúdo emocional, as emoções são mais persuasivas do que a lógica.

Às vezes estes sentimentos podem ser justificados, como a relação entre o câncer de pulmão e o tabagismo. No entanto, em muitas outras ocasiões, o que acontece é um excesso de tentativa de controle sobre nós mesmos e sobre tudo que nos cerca. Inclusive, nestes casos nós podemos ser vítimas da distorção de falso de controle, que faz com que nos sintamos responsáveis por questões que, na verdade, não estão em nossas mãos.

As pessoas que vivem este tipo de distorção acreditam ser responsáveis por tudo e todos. Consequentemente, se estressam quando acontece algo que não podem controlar, atribuindo erroneamente a si mesmas esta responsabilidade. Assim, o raciocínio destas pessoas é afetado, pois elas se sentem responsáveis e culpadas pelas suas doenças, ou por não poderem lutar contra elas. 

“Os sentimentos de culpa são muito repetitivos; repetem-se tanto na mente humana que chega um ponto em que nos cansamos deles.”
-Arthur Miller-

Homem se sentindo culpado

Como vimos, algumas doenças e culpas costumam andar de mãos dadas, especialmente no campo dos transtornos mentais. Portanto, combater o estigma associado às mesmas deve ser uma das primeiras prioridades dos especialistas em saúde e dos próprios afetados por elas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.