Meta-análise científica lança dúvidas sobre o mindfulness

O mindfulness é, basicamente, uma técnica de relaxamento criada para diminuir o estresse. No entanto, muitos o promovem como uma panaceia espiritual. Uma meta-análise científica revela que ele tem sérias limitações.
Meta-análise científica lança dúvidas sobre o mindfulness
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 07 maio, 2021

O mindfulness vem se tornando muito popular no Ocidente nos últimos anos, mas uma meta-análise científica apontou dúvidas e questionamentos a respeito dos benefícios que muitos atribuem a ele. A questão chama a atenção porque essa abordagem é considerada válida não apenas em muitos artigos, mas também na prática diária de psicólogos e outros profissionais.

Lembre-se de que o mindfulness é um tipo de adaptação da meditação transcendental que vem de religiões como o budismo e o hinduísmo. As pessoas começaram a falar sobre ele na década de 1970, quando o Dr. Jon Kabat-Zinn criou uma técnica chamada Redução de Estresse Baseada em Mindfulness.

A palavra mindfulness é um termo inglês arcaico que significa “atenção”. Tem sido entendida como “atenção plena”, pois se refere a esse princípio da filosofia zen. No entanto, seu criador nunca se definiu como budista ou como um praticante das tradições orientais. Pode-se dizer que o mindfulness é uma interpretação particular delas.

… “as conclusões da nossa pesquisa estão longe de validar muitas afirmações populares que meditadores e alguns psicólogos costumam fazer.”
-Miguel Farías e colaboradores-

Homem meditando na cama

O mindfulness e as tradições orientais

Religiões como o budismo, hinduísmo e práticas como o zen têm uma tradição milenar. O que mais se destaca no Ocidente é a prática da meditação, que, em todo caso, é muito diferente daquela realizada no mindfulness.

A verdade é que essas práticas têm um significado intimamente ligado às crenças religiosas e sagradas de quem as realiza, no contexto em que surgiram. O mindfulness, por outro lado, é simplesmente uma técnica, e muitas pessoas recorrem a ela para reduzir o estresse.

O próprio criador do mindfulness o definiu como uma técnica para reduzir o estresse. No entanto, essa prática assumiu múltiplas formas e foi intercalada com inúmeras outras técnicas e crenças, dando origem a uma enorme variedade. O que é comum em todas as suas formas é essa busca pela “paz interior” nas pessoas ansiosas.

As dúvidas e questionamentos relacionados ao mindfulness

Milhares de pessoas no mundo afirmam ter experimentado uma grande redução do estresse e “crescimento espiritual” devido ao mindfulness. Apesar disso, um grupo de neurocientistas da Nova Zelândia e do Reino Unido realizou uma meta-análise sobre o assunto. Os resultados foram publicados no Scientific Reports.

Uma meta-análise é um levantamento dos estudos disponíveis. Isso significa que todas as publicações de pesquisas sobre o tema são reunidas, sua validade é avaliada e suas conclusões são examinadas. Ao final, é feito um grande relato das descobertas e o que se pode aprender com todo esse material.

A meta-análise sobre o mindfulness expôs algumas dúvidas e revelou que muitos dos estudos a esse respeito apresentavam falhas graves. A mais recorrente delas foi o fato de quem elaborou o estudo ser uma parte interessada. Muitas dessas pesquisas foram feitas pelos próprios instrutores. Da mesma forma, havia vários que não partiram de um número representativo de casos.

Mulher meditando diante de lago

As limitações da técnica

Outra falha detectada é que muitas dessas pesquisas compararam o que aconteceu entre um grupo de pessoas que praticava o mindfulness e um grupo que não o praticava. O apropriado neste caso seria ter oferecido alguma alternativa de relaxamento a este último grupo para contrastar os resultados no final. No entanto, isso não foi feito em vários desses estudos.

O que os pesquisadores concluíram é que o mindfulness não oferece os benefícios que muitos atribuem a ele. Você não atinge uma espiritualidade ainda maior, nem desenvolve mais empatia ou compaixão com esta técnica. Na verdade, os neurocientistas disseram que a técnica não produzia mais bem-estar do que um documentário, exercício físico ou psicoterapia.

Um dos autores da meta-análise foi Miguel Farías, da Universidade de Coventry. Ele notou que o mindfulness está longe do budismo praticado no Oriente e que, no hemisfério ocidental, tem sido abordado como uma espécie de ginástica mental. Por esse motivo, não tem o escopo da meditação transcendental clássica.

Assim, o que é preocupante sobre a situação é que existem milhares de publicações que exaltam o mindfulness. Ao mesmo tempo, esta meta-análise fornece conclusões rigorosas que contradizem esses textos. No entanto, essa prática foi adotada por muitas pessoas e é provável que a crença prevaleça sobre a evidência.


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