Você conhece o efeito camaleão?

Você conhece o efeito camaleão?
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 07 outubro, 2022

Na psicologia existe uma grande variedade de síndromes e efeitos. Muitas delas utilizam a metáfora no nome para, de alguma maneira, tentar explicar os efeitos. Alguns exemplos são a síndrome de Peter Pan, a síndrome de Jerusalém, a síndrome de Otelo, o efeito Ben Franklin, o efeito Mandela, etc. Mas se tivermos que destacar um, esse será o efeito camaleão.

Os camaleões, pequenos répteis escamados com grandes olhos coloridos e línguas extensíveis, são caracterizados pelo público em geral pela capacidade para mudar a cor da pele. No entanto, a concepção popular de que mudam de cor para se camuflar não é completamente verdade. Como uma comparação, o efeito camaleão não indica como as pessoas mudam de cor, mas como mudam.

Os camaleões mudando de cor

Apenas algumas espécies de camaleão têm a capacidade de mudar de cor. Os camaleões não são incolores e suas mudanças de cor nem sempre ocorrem de acordo com o ambiente. A maioria das mudanças de cor se deve a uma condição fisiológica. Os camaleões reagem à temperatura e ao horário do dia com mudanças de cor.

A cor também muda em outras situações devido a fatores psicológicos. Por exemplo, na presença de um adversário ou de um parceiro. Nas lutas entre camaleões, eles também mudam de cor. A cor vai indicar se o camaleão está assustado ou furioso. Portanto, a mudança de cor, às vezes, também é uma forma de comunicação entre camaleões.

Efeito camaleão

As pessoas mudando de cor

Em um filme de Woody Allen há um personagem muito curioso: Zelig. Interpretado pelo diretor, o personagem principal, Leonard Zelig, aparece em diferentes lugares interagindo com diferentes pessoas. Até aqui tudo normal, mas Zelig cada vez tem uma aparência diferente. Na companhia de pessoas negras seu tom de pele e sua voz mudam. Quando encontra judeus, sua barba cresce. Quanto está com pessoas mais gordas, também fica mais gordo.

Esse estranho caso é estudado pela doutora Eudora Fletcher, interpretada por Mia Farrow. A doutora descobre em Zelig um caso extremo de insegurança que o leva a se camuflar entre as pessoas, adaptando sua aparência para poder ser aceito. Zelig tem a capacidade sobrenatural de mudar sua aparência se adaptando ao meio no qual está. Por isso, é conhecido como o homem camaleão. Depois de mentir sobre ter lido o livro Moby Dick para se sentir integrado, a necessidade de aceitação o leva a se transformar física e psicologicamente.

“Você é como um camaleão que muda de acordo com a situação.”

Filme de Woody Allen

Evidentemente o filme de Woody Allen é uma paródia. Mostra uma situação impossível, mas que, por meio da metáfora, pode levar a compreender melhor no que consiste o efeito camaleão. Esse efeito também é chamado de contágio emocional e consiste na tendência a sentir e interiorizar emoções parecidas com as que observamos e, da mesma maneira, condicionar as dos outros. É um processo no qual a pessoa é influenciada e, ao mesmo tempo, exerce influência sobre as emoções e os comportamentos de outras pessoas ou grupos.

O efeito camaleão

O efeito camaleão define uma realidade, a de que de certa maneira todos funcionamos como se fôssemos um espelho para os outros. Nós imitamos as emoções dos outros ou, pelo menos, as emoções que inconscientemente pensamos que os outros expressam. Mas esse efeito não para por aí. Nós também imitamos posturas e expressões faciais, a linguagem, o tom de voz, o sotaque e o vocabulário.

Nossa reação natural quando alguém sofre um ataque de riso é rir. Quando estamos rodeados por pessoas cujo sotaque é diferente, não costuma demorar muito tempo para começarmos a falar da mesma maneira. Se estamos sentados com alguém que cruza as pernas, provavelmente vamos sentar igual. Embora esse efeito nem sempre ocorra, ele aparece em muitas situações, tanto consciente quanto inconscientemente.

A função do efeito camaleão

A função do efeito camaleão, a partir de uma perspectiva evolutiva, já tinha sido intuída por Charles Darwin. A maneira como nos sentimos é determinada, em partes, pelos gestos que fazemos. Da mesma maneira, os sinais que outras pessoas emitem também vão nos influenciar. Isso faz com que o bem-estar pessoal aumente e que nos sintamos parte dos grupos. Sem perceber, pequenos sinais dos outros nos indicam como agir e nossos neurônios nos fazem imitá-los.

Talvez todos nós tenhamos um Zelig dentro de nós mesmos. Quando estamos com outras pessoas, nós nos adaptamos para ficar com o mesmo estado emocional. As emoções são como os vírus, se espalham ao nosso redor. Nós estamos programados para contagiar os outros e nos contagiar com as emoções desde o momento em que nascemos. Se você vive emoções positivas, os outros também vão senti-las. Se, pelo contrário, você sente emoções negativas, os outros também vão senti-las. Mesmo que esse processo seja, em boa parte, inconsciente, você pode dar o primeiro passo com sua emoção positiva.

“Eu sou um camaleão, influenciado pelo o que está acontecendo. Se Elvis pode fazer, eu também posso. Se os Everly Brothers podem fazer, Paul e eu também podemos. A mesma coisa acontece com Dylan.”
-John Lennon-


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