Em que consiste o efeito de mera exposição?

O simples fato de nos expormos de maneira repetitiva a um estímulo faz com que este se torne mais agradável. Falamos do efeito singular de mera exposição.
Em que consiste o efeito de mera exposição?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Já aconteceu de você ouvir uma música à qual era indiferente tantas vezes que acabou gostando dela? Você já sentiu que, quanto mais tempo passa com uma pessoa, mais agradável ela fica? No estudo das preferências humanas, o efeito de mera exposição tem adquirido cada vez mais relevância.

Também conhecido como princípio de familiaridade, este efeito explica por que, ao nos expormos várias vezes a um estímulo nervoso, nossa resposta a ele se torna mais positiva.

Em poucas palavras, reflete nossa predileção por aquelas situações, pessoas ou objetos mais conhecidos. Quais fatores influenciam o surgimento deste fenômeno? Vamos entender como ele funciona com mais profundidade a seguir.

Pesquisas sobre o efeito de mera exposição

Robert Zajonc é um dos autores que mais estudaram este efeito psicológico tão particular. Desde a primeira pesquisa sobre o tema, em 1876, foi comprovada a presença desta preferência diante de estímulos de diversas naturezas.

Palavras, sons, fotografias de rostos… em todos os casos, as pessoas parecem ter preferência pelas opções que são mais familiares.

Foi realizado um estudo para comprovar a influência deste efeito na predileção por certos alimentos. Para isso, foram dados a um grupo de estudantes vários sucos tropicais que, até o momento, eram desconhecidos. Alguns provaram cinco vezes, outros dez e outros 15. Quando perguntados sobre qual mais haviam gostado, houve uma clara tendência a julgar como mais positivos os que haviam provado mais vezes.

Foram obtidos os mesmos resultados em pesquisas sobre a atração interpessoal. Quanto maior a frequência com que vemos uma pessoa, mais simpática ela se torna e mais a sua presença nos agrada.

Um fenômeno inconsciente

Um dos aspectos mais interessantes deste efeito consiste no fato de que não é necessário que a pessoa perceba a familiaridade no estímulo. Além disso, o efeito parece ser potencializado sob “condições subliminares”.

Zajonc conduziu uma pesquisa em que mostrava aos participantes diversas imagens de caracteres chineses. O tempo de exposição a cada símbolo era tão curto que os observadores não tinham consciência do que estavam vendo.

Foi dito aos participantes que esses caracteres representavam adjetivos, e eles deveriam julgar se os mesmos tinham conotações positivas ou negativas. Invariavelmente, os participantes do grupo deram classificações melhores aos símbolos aos quais já haviam sido expostos.

Evidentemente, as marcas levam o efeito de mera exposição em consideração em suas campanhas de publicidade. Isso porque a familiaridade com uma logomarca, slogan ou uma imagem corporativa pode fazer com que nos encantemos por um determinado produto.

Esta forma mental de funcionamento explicaria por que, quando viajamos para novas cidades a turismo, nos sentimos tentados a procurar as franquias que conhecemos… apesar do nosso desejo de explorar o mercado local.

A que se deve o efeito de mera exposição?

Fechner foi o autor da primeira pesquisa conhecida sobre este fenômeno. O psicólogo alemão, pai das teorias psicofísicas atuais, oferece uma explicação para este efeito. As pessoas tendem a reagir com um certo medo ou ansiedade diante de elementos novos.

No entanto, esta “fobia” em relação ao novo vai se desfazendo à medida que nos expomos repetidamente a estes estímulos. Esta tendência natural de receio pelo desconhecido chega, inclusive, a se tornar uma sensação agradável de familiaridade quanto mais contato temos com o elemento.

Além disso, devemos levar em consideração que, se a exposição repetida ao estímulo ocorrer em excesso, podemos chegar ao tédio. A saciedade é uma condição que limita o impacto deste efeito. Se comermos a mesma coisa todos os dias, acabamos ficando enjoados, ou se assistirmos ao mesmo filme todos os dias, ele acaba se tornando entediante.

Portanto, na base de muitas de nossas preferências encontramos este princípio de familiaridade, mesmo que de maneira inconsciente. Independentemente do nosso gosto maior ou menor pela aventura ou pelo risco, muitas das decisões que tomamos diariamente são mediadas por este efeito.

Os objetos que adquirimos, os lugares que frequentamos e as pessoas que nos agradam podem ser afetados por este princípio. Por isso, é conveniente, ou ao menos interessante, ter consciência da sua influência em nossa mente.


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  • Pliner, P. (1982). The effects of mere exposure on liking for edible substances. Appetite3(3), 283-290.
  • Zajonc, R. B. (1968). Attitudinal effects of mere exposure. Journal of personality and social psychology9(2p2), 1.

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