Quais são os efeitos da religião no cérebro?
Independentemente das crenças religiosas (ou da falta delas) de cada pessoa, os efeitos da religião no cérebro são inegáveis. Efetivamente, algumas crenças religiosas são fatos científicos que podem ser medidos com exatidão.
Os efeitos que uma oração tem no bem-estar de uma pessoa estão devidamente documentados. A pesquisa no campo da neuroteologia (a neurociência da crença teológica) tem feito algumas descobertas surpreendentes que podem mudar a forma como entendemos a espiritualidade do ponto de vista da ciência.
Por exemplo, sabe-se que a crença religiosa pode aumentar a expectativa de vida e ajudar a enfrentar as doenças de uma forma mais positiva. Por outro lado, alguns cientistas sugerem que a experiência religiosa ativa os mesmos sistemas cerebrais que o sexo e as drogas.
Alguns efeitos da religião no cérebro podem ser medidos com exatidão. A neuroteologia tem feito descobertas surpreendentes a esse respeito.
Conflito entre duas redes no cérebro
O conflito verificado entre a religião e a ciência tem múltiplos pontos de ancoragem ao longo da história, desde conferências em antigos panteões gregos até discussões em fóruns da Internet.
Segundo um estudo do professor Jack e seus colaboradores realizado na Universidade de L’Aquila, a origem deste choque na realidade começa como um conflito entre duas redes no cérebro.
A pesquisa descobriu que aqueles que consideravam a religião como uma bússola da vida pareciam suprimir a rede cerebral utilizada para o pensamento analítico com o objetivo de envolver a rede no pensamento empático. Do mesmo modo, aqueles que não tinham qualquer tipo de ligação com a religião pareciam suprimir o pensamento empático a favor do pensamento analítico.
“Quando há uma questão de fé, do ponto de vista analítico, pode parecer absurdo”, explicam os pesquisadores. “Mas, pelo que entendemos sobre o cérebro, o salto de fé e a crença nos valores sobrenaturais deixam de lado a forma crítica/analítica de pensar e nos ajudam a alcançar um maior conhecimento social e emocional”.
Segundo o estudo, essas duas redes têm dificuldades para encontrar o equilíbrio entre si, já que frequentemente trabalham em sentidos opostos. No entanto, os pesquisadores afirmam que nenhuma dessas formas de pensamento têm o monopólio das respostas para as grandes questões do mundo.
A nossa própria natureza nos permitiu compreender e explorar as nossas experiências usando ambos os padrões de pensamento. Segundo os autores do estudo, entender a interação entre essas duas formas de pensamento poderia enriquecê-las.
A religião e os sistemas cerebrais de processamento de recompensas
Um estudo recente da Universidade de Utah informou que a religião pode ativar os mesmos sistemas de recompensa do cérebro que o sexo, as drogas e outras atividades viciantes.
O estudo analisou como as redes cerebrais são ativadas quando uma pessoa crente tem uma experiência profundamente espiritual.
Os pesquisadores examinaram o cérebro de 19 jovens mórmons usando um scanner de ressonância magnética funcional. Quando lhes perguntaram se, e até que ponto, os participantes estavam “sentindo o espírito”, aqueles que relataram sentimentos espirituais mais intensos mostraram uma maior atividade no núcleo accumbens bilateral.
Essas áreas cerebrais de prazer e recompensa também estão ativas quando participamos de atividades sexuais, ouvimos música, jogamos alguma coisa e quando fazemos uso de drogas. Os participantes também relataram sentimentos de paz e bem-estar físico.
Os efeitos da religião no cérebro
Andrew Newberg, professor de neurociências e diretor do Instituto de Investigação da Saúde Integrativa de Marcus na Universidade Thomas Jefferson, explica que os efeitos da religião no cérebro são diferentes dependendo da prática religiosa em questão.
Em outras palavras, religiões diferentes estimulam as áreas do cérebro de forma diferente. Por exemplo, segundo Newberg, tanto os budistas que meditam quanto as freiras católicas que rezam têm uma maior atividade nos lobos frontais do cérebro.
Outros dos efeitos da religião no cérebro podem ser observados na maior atividade dos lobos frontais apresentados nas pessoas que meditam.
Essas áreas estão vinculadas a um maior enfoque e atenção, a habilidades de planificação, à capacidade de planejar o futuro e à capacidade de construir argumentos complexos.
Além disso, tanto a oração quanto a meditação estão associadas a uma diminuição da atividade nos lobos parietais, que são responsáveis pelo processamento da orientação temporal e espacial.
No entanto, as freiras, que rezam usando palavras em vez de confiarem nas técnicas de visualização utilizadas na meditação, mostram uma maior atividade nas áreas do cérebro que processam a linguagem dos lobos parietais inferiores.
Por outro lado, outras práticas religiosas podem ter o efeito oposto nas mesmas áreas do cérebro. Por exemplo, um estudo recente que teve a colaboração do Dr. Newberg demonstra que a intensidade da oração que acontece no islã (que tem como ideia central a entrega de si mesmo a Deus) reduz a atividade no córtex pré-frontal e nos lobos frontais que estão conectados a ele, assim como a atividade nos lobos parietais.
Tendo em conta que o córtex pré-frontal participa do controle executivo, do comportamento intencional e da tomada de decisões, os pesquisadores criaram a hipótese de que uma prática que se concentre em delegar o controle acaba por resultar numa menor atividade nessa área do cérebro.
Os efeitos da religião no cérebro dependem das diferentes práticas religiosas.
Como a mente cria uma experiência espiritual?
Um estudo de veteranos do Vietnã mostra que aqueles que tiveram lesões no córtex pré-frontal dorsolateral do cérebro eram mais propensos a relatar experiências místicas.
Tal como explica James Giordano, essas partes do cérebro controlam o nosso senso de identidade em relação a outros objetos no mundo, assim como a nossa integridade física: daí vêm as sensações e percepções exteriores ao corpo e a dispersão do eu que muitas pessoas com fé na religião relatam.
Nesse sentido, disse Giordano, se os seres se unem à experiência mística, podemos dizer que existe uma troca na atividade da rede do lobo temporal esquerdo e direito. Convém destacar que os lobos parietais são as áreas onde os estudos de Newberg encontraram uma menor atividade cerebral durante a oração.
Referências bibliográficas
- Ferguson, MA, Nielsen, JA, King, JB, Dai, L., Giangrasso, DM, Holman, R. , … Anderson, JS (Aceito/imprensa). Recompensa, prominencia y redes de atención son activadas por la experiencia religiosa en devotos mormones . Neurociencia Social , 1-13. DOI: 10.1080 / 17470919.2016.1257437