Elã vital: a força que nos impulsiona
Quem nunca viu crescer as raízes das batatas armazenadas em casa? Elas não foram plantadas nem cultivadas, porém, mesmo sem condições mais favoráveis, continuam a lutar pela sua sobrevivência, pelo seu ciclo de vida, pelo seu desenvolvimento… Este é o impulso vital ou o elã vital, um conceito do filósofo francês Henri Bergson em sua obra “A evolução criativa”, da qual falaremos a seguir.
O elã vital é uma conceituação da força vital que permite que todos os organismos vivos se adaptem às situações que a vida coloca em seu caminho. Carl Rogers se referiu a isso como uma tendência de atualização, e Ralph Waldo Emerson a chamou de força vital. Como podemos ver, diferentes autores ao longo do tempo usaram diversos conceitos para falar sobre isso.
Percepção e Henri Bergson
O elã vital é o impulso que deu origem à evolução dos seres vivos e que forçou o seu desenvolvimento e evolução. Uma força que teria muito a ver com a nossa percepção do tempo, e especificamente, com a forma como percebemos o presente segundo Bergson.
Para este autor, o espaço não é externo nem objetivo, assim como o tempo também não é interno nem subjetivo. A única coisa que existe é o presente, que está unificado na percepção que vem da força vital de cada indivíduo. Além disso, essa ideia é usada no campo da psiquiatria para lidar com as distorções de percepção em alguns transtornos como a esquizofrenia, em que a unidade perceptiva é quebrada.
Bergson defendeu a ideia de que essa força vital não pode vir da razão. Na verdade, diz que a inteligência se desvia da visão do tempo e não permite criar. Pelo contrário, a razão estaria a serviço deste impulso vital ou elã vital. A razão está ligada à vida, mas não é a própria vida.
Carl Rogers e a tendência de atualização
Rogers argumentava que a motivação humana mais importante é a autorrealização. A motivação ou impulso é intrínseco a todo ser vivo e se manifesta através das emoções. Essa tendência inata de desenvolver todas as potencialidades ocorre para garantir a conservação e o enriquecimento de cada ser vivo.
Na realidade, é uma capacidade latente de compreender a si mesmo e desenvolver a eficiência de que necessitamos para agir de forma adequada e obter a satisfação que isso implica.
“Não se trata de uma compreensão completa e absolutamente correta, mas de uma compreensão imperfeita, suficiente em cada etapa do processo de adaptação e integração que é a existência humana”.
– Carl Rogers –
Segundo essa ideia, o ser humano está em um processo contínuo de melhoria, crescimento e mudança. O elã vital é o impulso que gera o esforço para que as pessoas se autorrealizem. Em suma, é a força que nos faz buscar a felicidade.
Somos nós que sabemos
Rogers também defendia que cada pessoa e cada organismo sabe o que lhe convém e os rumos do desenvolvimento de todas as suas potencialidades. É verdade que algumas condições favoráveis são necessárias para isso, mas não são as mesmas para todos. Desta forma, cada um de nós conheceria intuitivamente a maneira de nos desenvolvermos plenamente como pessoas.
A intervenção terapêutica que Rogers desenvolveu como resultado dessa teoria do elã vital ou tendência atualizadora foi ver o terapeuta como um acompanhante. Ele ajuda o indivíduo enquanto adapta os seus recursos para atender às necessidades que cada situação exige. Na verdade, seria um suporte para que cada um se organizasse e encontrasse o caminho para a sua realização.
“Se valorizamos a independência, se somos perturbados pela crescente conformidade do conhecimento, dos valores, das atitudes que o nosso sistema atual induz, podemos desejar estabelecer condições de aprendizagem que permitam a singularidade, a autodireção e o autodidatismo iniciado”.
– Carl Rogers –
Os potenciais são únicos
De acordo com tudo o que foi exposto, o ser humano estaria destinado a se desenvolver de maneiras diferentes de acordo com a sua própria natureza. Ao contrário de uma flor, o potencial de cada um de nós é único e singular.
Rogers acreditava que os seres humanos são basicamente bons e criativos. Eles se tornam destrutivos quando o seu autoconceito é deficiente ou alguma restrição externa interfere no processo de desenvolvimento.
Isso acontece porque, para que ocorra a autorrealização, a pessoa deve atingir um estado de coerência. Desse modo, a autorrealização para a qual essa força vital nos conduz ocorre quando o “eu ideal” é coerente com a sua autoimagem.
Todas essas teorias sobre o elã vital, a tendência atualizadora ou a força vital que alguns autores defenderam se refere ao fato de que é esse impulso que leva à construção da confiança no ser humano, e a base sobre a qual é construída, aos poucos, a educação emocional.
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