Emil Kraepelin, o pai da psiquiatria moderna

Emil Kraepelin, o pai da psiquiatria moderna
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 03 outubro, 2018

O nome de Emil Kraepelin é um dos mais importantes na história da medicina. Basicamente, ele é considerado o pai da psiquiatria moderna, bem como da genética psiquiátrica e da psicofarmacologia. Inclusive, foi o principal impulsor da chamada psiquiatria biológica, que vê as doenças mentais como um tema basicamente orgânico.

Apesar de Emil Kraepelin ter formulado suas teorias no início do século XX, todos esses postulados continuam vigentes para um número significativo de psiquiatras hoje em dia. É preciso ressaltar que ele também foi severamente questionado por seu “cientificismo” excessivo. No entanto, ninguém se atreve a ignorar suas contribuições.

“Quem procura um psiquiatra devido aos males que o afligem é um organismo doente, marcado pelo mau funcionamento de suas partes constituintes, ou é um indivíduo que habita o universo da linguagem e cujo corpo recebe deste universo suas marcas indeléveis?”
-Autor desconhecido-

Emil Kraepelin se opôs decididamente aos conceitos de Sigmund Freud e da psicanálise. Essa corrente estava na moda na mesma época em que ele realizou suas pesquisas. Ainda assim, ele também se interessou por temas tipicamente psicanalíticos, como a interpretação dos sonhos.

A psiquiatria moderna

A história de Emil Kraepelin

Emil Kraepelin nasceu em 15 de fevereiro de 1856 na Alemanha. Ele estudou medicina em várias instituições, principalmente em Leipzig. Desde que começou sua formação, demonstrou grande interesse pelos fenômenos da mente humana. Isso o levou a fazer um curso de psicologia experimental com Wilhelm Wundt, o criador dessa corrente. Posteriormente, ele se tornou assistente de psiquiatria.

Kraepelin se formou em 1874 com uma tese chamada ‘Sobre a influência das doenças agudas na gênese das doenças mentais’. Depois, estudou neuropatologia e começou a pesquisar sobre a psicofarmacologia e a psicofisiologia. Também trabalhou em várias instituições psiquiátricas da época e se tornou professor da Universidade de Dorpat (atual Estônia) em 1886.

Em 1922, assumiu a chefia do Instituto de Pesquisas Psiquiátricas da cidade de Munique. Nessa época, sua fama já era internacional. Havia evoluído muito em suas propostas, com pesquisas e exposições bastante minuciosas, que reuniam perspicazes observações sobre os chamados “doentes mentais”.

A obra de Kraepelin

A primeira grande obra publicada de Emil Kraepelin foi ‘Compêndio de Psiquiatria’. Nessa obra, ele fez centenas de observações clínicas a partir dos inúmeros casos que havia atendido em instituições psiquiátricas.

Essa foi uma obra pioneira na psiquiatria. Descrevia as sintomatologias com detalhes e buscava classificar as doenças mentais de acordo com suas manifestações observáveis. Ele tinha apenas 27 anos quando a produziu.

Emil Kraepelin

A segunda e terceira edições dessa obra deixaram de se chamar “compêndio” e passaram a se chamar “tratado”. Emil Kraepelin incluiu nessas edições o conceito de evolução da doença, um aspecto que se tornou decisivo para fazer diagnósticos diferenciais. Também introduziu um capítulo sobre a catatonia.

Entre a quarta e a sexta edições, também apareceu o conceito de processos psíquicos degenerativos. Estes incluíam a catatonia, a demência precoce e a demência paranoide.  Da mesma forma, introduziu o conceito de “insanidade maníaco-depressiva”.

A verdade é que, em cada edição, ele foi ampliando e especificando as diferentes doenças mentais. A oitava edição contava com mais de 2.500 páginas.

O legado de Emil Kraepelin

Um dos capítulos mais interessantes na história das ciências da mente foi quando Emil Kraepelin atendeu um paciente que se tornou famoso. Tratava-se de Sergei Pankejeff, a quem Kraepelin tratou sem sucesso, dando-lhe o diagnóstico de “maníaco-depressivo”. O mesmo paciente, mais tarde, foi atendido por Sigmund Freud. Este o consagrou na história da psicanálise com o apelido de “O homem dos lobos” e o diagnosticou como “neurótico obsessivo”.

A verdade é que as classificações de Kraepelin são a base da psiquiatria moderna. Durante sua época, prevaleceu sobre todas as outras teorias e adquiriu enorme prestígio. Emil Kraepelin queria, a todo custo, que a psiquiatria adquirisse um estatuto mais científico e sólido. Por isso, toda a sua obra possui um rigor impressionante.

Os enigmas do cérebro

Kraepelin também se interessou pelo estudo de doenças mentais em outras culturas. Dessa forma, lançou as bases do que seria a etnopsiquiatria e a psiquiatria cultural. De fato, viajou diversas vezes para o México, a Espanha, a Indonésia, a Índia e os Estados Unidos para colher informações. Ele chamou suas pesquisas de “psiquiatria comparada”.

Emil Kraepelin morreu aos 70 anos de idade em Munique, na Alemanha. Boa parte da psiquiatria moderna se baseia em sua obra. Apesar de essa perspectiva ter sido questionada por várias correntes do pensamento, ainda hoje muitos psiquiatras seguem zelosamente seus postulados.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.