Quando as emoções nos levam a perder dinheiro
As ações, como as de ganhar ou perder dinheiro, estão estreitamente relacionadas com as emoções. Na maioria dos casos, não se obtém ou se perde este recurso por razões objetivas.
Neste sentido, poderíamos dizer que o dinheiro é um objeto simbólico; como tal, origina em nossa mente diferentes maneiras de significá-lo e de administrá-lo, levando em consideração que é uma forma de troca praticamente universal.
O que nos leva a ganhar ou perder dinheiro são as decisões que tomamos. Muito além das eventuais faltas de recursos ou do seu excesso, o que define tudo é a forma como o administramos. O dinheiro adquiriu o status de fetiche; vivemos em um mundo em que tudo, pouco a pouco, vem se convertendo em objeto de comércio.
Muitas pessoas tem sido marcadas por uma combinação entre falta de dinheiro e carências afetivas. Talvez seus pais tenham tido que deixá-los sozinhos para ir trabalhar, com o objetivo de conseguir dinheiro para sobreviver. Também é provável que, em algum ponto, tenham se sentido humilhados pela falta de recursos. Nestes casos, particularmente, o dinheiro se torna um problema complexo que pode trazer diversos problemas.
“O cachorro que tem dinheiro é chamado de senhor cachorro”.
– Provérbio árabe –
Perder dinheiro e a simulação
Um dos fatores que nos leva a perder dinheiro é a rejeição ou o desprezo pela vida que levamos. De maneira equivocada, chega-se à convicção de que é a falta de recursos financeiros que dá origem à insatisfação vital.
Também aparece a fantasia de que o valor pessoal aumentaria se tivéssemos mais dinheiro. Disso se desprende uma forte tendência a associar o dinheiro com a satisfação. A pessoa se torna incapaz de imaginar situações boas que não impliquem um gasto de dinheiro. Como seus recursos são limitados, a insatisfação se converte em um modo de vida.
Muitas vezes “resolvem” o problema tentando simular uma vida sem carências. Sentem uma poderosa atração por todos aqueles objetos que são símbolo de status. Chegam a perder dinheiro gastando em objetos ou empresas desnecessárias. Seu objetivo é experimentar “o que se sente ao ter muito dinheiro” e se sentir, mesmo que seja por um momento, como alguém mais pleno.
A perda do dinheiro como compensação
É uma situação similar à anterior. A diferença está no fato de que, nesse caso, a frustração conduz a comportamentos impulsivos ou compulsivos. Sob esta categoria está quem não suporta, literalmente, ver um produto em promoção e não comprá-lo. Os acumuladores de objetos inúteis que são governados pela sensação de que têm que comprar.
Estão tratando, inconscientemente, de satisfazer outras carências mais profundas. No entanto, como não perceberam isso, a verdade é um poço sem fundo. Seu apetite por adquirir novos produtos, ou mais dinheiro, é insaciável.
Os supermercados adoram este tipo de consumidor e se esforçam para ajudá-lo a perder dinheiro com pequenos truques. Bombardeiam seu cliente com publicidade de promoções inexistentes (sobem o preço artificialmente, para depois retorná-lo ao valor normal como uma grande oferta), e oferecem facilidades para que adquiram tudo.
No fim, estes compradores conseguem pagar as contas, mas seguem se sentindo vazios. E voltam a recomeçar o ciclo perverso.
O retorno da carência
Existem muitos fatores inconscientes envolvidos na gestão do dinheiro. Hoje em dia, o dinheiro vem sendo cada vez mais relacionado ao conceito de felicidade através do consumo. Também prima a fantasia de que o dinheiro tem o poder de reparar uma autoestima rachada, o que permite outorgar significado a uma realidade que nos parece desanimadora.
Pelo que foi dito, perder dinheiro costuma ser a consequência de ter dado a ele um lugar de protagonista. É paradoxal, mas o desejo desmedido de ter dinheiro nos leva a perder dinheiro.
A diferença entre o valor real deste recurso e o significado que outorgamos a ele conduz a ações erradas ou pouco inteligentes. Nestes casos, o dinheiro, especialmente mediante o consumo, é usado como meio para resolver dificuldades de outra ordem.
No entanto, os assuntos econômicos são os menos indicados para que as emoções entrem em jogo. E quando se trata de emoções confusas e neuróticas, o perigo é ainda maior.
O problema é que quem é vítima destas lógicas não as percebe. Por isso, perder dinheiro acaba se convertendo em algo normal. Finalmente, isso reafirma a insatisfação e faz com que as carências voltem a ser sentidas com toda a sua crueza.
Pode ser que, no fundo, ganhar e perder dinheiro seja somente uma cortina de fumaça. Talvez o dinheiro não seja o problema, e sim o fato de que o desejo insatisfeito aumenta porque não consegue preencher o vazio. Precisamente o vazio que mantém o desejo insatisfeito. Assim, o dinheiro contribuiria, eventualmente, para encobrir dificuldades e sofrimentos que não sabemos encarar.
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