Entrevista com Rafael Santandreu: é possível eliminar os medos?

Com Rafael Santandreu, aprendemos um aspecto valioso para trabalhar a nossa felicidade e bem-estar: todos os nossos medos se devem a pensamentos que podemos transformar.
Entrevista com Rafael Santandreu: é possível eliminar os medos?
Rafael Santandreu

Escrito e verificado por o psicólogo Rafael Santandreu.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Nesta entrevista, Rafael Santandreu nos convida a refletir sobre os medos a partir da psicologia cognitiva. Ele fala sobre aqueles temores que nos acompanham dia após dia, e tem o objetivo de nos ajudar a desativar os padrões de pensamento que vão contra a nossa felicidade.

É preciso lembrar que essa abordagem, essa escola terapêutica, é das mais eficazes e de maior respaldo científico. Assim, um aspecto de grande interesse que este famoso psicólogo aponta em seu último livro, Nada é Tão Terrível, é que cada um de nós tem a oportunidade de se livrar dos nossos medos.

O propósito é elevado, e muitos dirão que impossível. No entanto, se tivéssemos que definir a felicidade de alguma forma, seria basicamente a “ausência de medos”. Os medos, as nossas angústias cotidianas, cortam os impulsos, desligam os potenciais e nos encurralam em espaços onde o sol da felicidade não chega.

“O que acontece conosco não nos afeta, mas sim o que dizemos a nós mesmos sobre o que aconteceu”.
– Rafael Santandreu –

Entrevista com Rafael Santandreu

Com esta entrevista, Rafael Santandreu nos convida a enfrentar os nossos medos para entender que eles são apenas pensamentos errados, ideias enviesadas que, às vezes, até se alimentam de necessidades inventadas.

Todos nós podemos remover esses incômodos clandestinos ​​de nossas mentes, e a psicologia cognitiva é a chave para fazer isso. Vamos começar?

Você comenta em seus livros que é possível eliminar todos os medos. Isso é verdade?

Sim. O medo é uma emoção que surge a partir de crenças, que podem ou não ser racionais, e que todos nós experimentamos.

A verdade é que há uma série de medos que nos impedem de ir mais longe, que atrapalham o nosso desenvolvimento pessoal e que, de alguma forma, nos limitam.

Esse tipo de medo é o resultado de ideias inadequadas ou crenças irracionais. A boa notícia é que, quando eliminamos essas ideias, os medos desaparecem. É assim que funciona a psicologia cognitiva ou do “pensamento”. Raciocinando bem, dizemos adeus aos medos para sempre!

Por exemplo?

O medo de falar em público. Muitas pessoas têm esse medo e isso se deve ao fato de acharmos que seria “terrível” fazer essa tarefa de maneira errada; é um sentimento de insegurança. Não acredito mais nisso e, portanto, não tenho mais esse medo.

Para mim está tudo bem se eu der uma palestra e “não me sair tão bem”. Absolutamente nada aconteceria. Eu permaneceria orgulhoso e feliz como sempre. Por incrível que pareça, agora não sinto estresse ou nervosismo antes de falar em público.

Mulher aflita

Tanto faz fazer certo ou errado?

Não. Prefiro que corra tudo bem, mas é algo que não me “preocupa”. Para suprimir qualquer medo, você precisa saber que o que você teme não é tão ruim assim: você poderia ser feliz mesmo que esse algo “tão horrível” acontecesse. Então, a pressão e o medo desaparecem.

É aí que entra o seu conceito de “necessitite”, certo?

Sim, a “necessitite” é a crença de que precisamos de muito para estar bem. Se você tirar essa ideia da cabeça, imediatamente perderá muitos medos porque não precisa mais ter dinheiro, status, fazer tudo certo, ser bem tratado, etc. E sem a pressão absurda de “ter que conseguir tudo isso”, você viverá muito mais relaxado.

Os budistas já tinham esse conceito de desapego…

Sim, compartilhamos a mesma ideia. A diferença é que a psicologia cognitiva ensina a abandonar as “necessidades inventadas” por meio de uma série de argumentos. No exemplo de falar em público, durante semanas me convenci de que não era importante fazer certo ou errado e usei dezenas de argumentos, até que finalmente ficou claro para mim. É um processo.

A terapia cognitiva é uma terapia argumentativa?

Sim, procuramos convencer a pessoa de que ela pode ser feliz, por exemplo, sem um companheiro ou sem um trabalho. Usamos muitos argumentos até que a pessoa se liberte da necessidade que a oprime e, portanto, do medo. É uma espécie de lavagem cerebral.

Mas muitas vezes não temos consciência do que nos causa este ou aquele medo…

Com certeza. Por exemplo, por trás do estresse no trabalho costuma haver uma necessidade exagerada de segurança financeira e status. Mas se você estudar psicologia cognitiva com algum manual ou fizer terapia com um psicólogo, descobrirá que essa necessidade exagerada está dentro de você.

Qual é o medo mais comum das pessoas que fazem terapia?

O medo das mudanças. Por exemplo, deixar o parceiro mesmo que não esteja mais apaixonado e o relacionamento não esteja tão bem. Nesses casos, as pessoas temem a solidão. Ou então o medo de mudar de emprego… Isso se deve a uma necessidade exagerada de segurança financeira. Depois de fazer uma terapia cognitiva, a mudança parecerá desejável e a coisa mais normal do mundo.

Homem preocupado

A psicologia cognitiva diminui esses medos ao trabalhar essas necessidades inventadas?

Exato. Quando você chega à profunda convicção de que não precisa “estar sempre acompanhado” ou “ter total segurança financeira”, esses dois medos desaparecem. Agora, essa mudança não é algo que acontece do dia para a noite, ela tem que ser trabalhada.

Há uma frase de São Francisco de Assis sobre as necessidades que você menciona muito…

Sim, eu gosto muito dela. Dizem que, no final da vida, São Francisco de Assis dizia: “Preciso cada vez mais de menos coisas para viver, e das poucas coisas de que preciso, preciso de muito pouco.” Tenho certeza de que ele era uma pessoa muito forte e muito feliz.

Não é preciso nem mesmo ter medo da morte?

Claro que não. A morte é algo natural e normal, inclusive boa. Todos os fatos naturais são bons. Portanto, não há necessidade de ter nenhum medo. Se você pensar a respeito e usar muitos argumentos, perderá o medo da morte e da doença. É mais fácil do que parece.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.