Entrevista com Raquel Marín: “O cérebro é um convidado exigente”

Nesta entrevista com a neurocientista Raquel Marín, vamos nos aprofundar em um tema do interesse de todos: a relação entre o cérebro e o intestino. Grande parte da nossa saúde parte do equilíbrio interno desse último órgão.
Entrevista com Raquel Marín: “O cérebro é um convidado exigente”
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Aprender um novo idioma, aprender a tocar um instrumento, socializar, manter uma postura curiosa, fazer exercício… Para deixar seu cérebro em forma, você pode colocar múltiplas estratégias em prática. No entanto, nos últimos anos, o foco tem se voltado a uma área muito especial: o intestino. Este é o foco da nossa entrevista com a neurocientista Raquel Marín.

Todos já ouvimos falar do vínculo existente entre a saúde intestinal e o cérebro. Os neurocientistas destacam, entre outras coisas, a comunicação entre esses órgãos e a sua relação com doenças como o Alzheimer, a fibromialgia e a depressão.

Nossa alimentação é, de certo modo, uma pedra angular que todos deveríamos ouvir com atenção, não apenas para cuidar da saúde física.

U m cérebro saudável, um cérebro ágil, jovem e preparado para se modificar e responder de maneira efetiva ao ambiente requer uma série de nutrientes básicos, como as vitaminas do complexo B e os antioxidantes naturais.

“O cérebro é como os músculos; de acordo com as suas ações, você vai desenvolver uma ou outra forma de utilizar o seu intelecto”.
-Raquel Marín-

Entrevista com Raquel Marín

Entrevista com Raquel Marín: cérebro em forma para ganhar qualidade de vida

Existe um modo específico de colocar seu cérebro em forma para chegar a uma idade avançada com as melhores faculdades mentais? Na verdade, não existe apenas uma estratégia, existem muitas, e a maioria passa por cuidar dos nossos hábitos de vida.

Assim, especialistas no tema, como Raquel Marín, facilitam as coisas para nós oferecendo toda a informação que precisamos conhecer sobre o assunto.

A Dra. Marín é neurocientista e professora de Fisiologia na Universidade de La Laguna. Destaca-se sobretudo seu trabalho como divulgadora e, em especial, publicações tão interessantes quanto seu último livro Pon em forma tu cerebro (Coloque seu cérebro em forma, sem tradução no Brasil).

Nele, ela nos dá dicas para manter um cérebro ativo e saudável em cada etapa do nosso ciclo de vida.

Como bem dizia Emily Dickinson, o cérebro é maior do que o próprio céu. Esse órgão fascinante que frequentemente comparamos com um computador tem uma magnitude em relação a recursos, processos e potencial que muitos de nós desconhecemos.

Somente os entendidos no tema nos oferecem essas respostas e dados objetivos que todos deveríamos conhecer e aplicar em nosso dia a dia.

Se você deseja descobrir como colocar seu cérebro em forma, a entrevista com Raquel Marín que expomos a seguir vai ajudá-lo.

P. Em seu livro, Pon em forma a tu cérebro, você afirma que o cérebro é um convidado exigente. Por quê?

Sempre pensamos no que comer para os músculos, o coração ou a pele, mas sempre nos esquecemos de que o cérebro não come de tudo.

Esse órgão é um dos mais exigentes com os nutrientes porque é metabolicamente hiperativo, consome muitas calorias e nutrientes variados que não produz. Sem eles, o cérebro não funciona bem, e nós sentimos as consequências.

P. O que você pode nos dizer sobre a comunicação entre o cérebro e o intestino?

Nos últimos anos, foram realizados estudos incríveis que constatam que o intestino pode ser o melhor aliado ou o pior inimigo do cérebro.

Doenças degenerativas, como o Alzheimer, o Parkinson, o autismo, a fibromialgia, a depressão, a ansiedade, a insônia, a esclerose múltipla, a longevidade, o rendimento físico, etc. estão associadas com desencadeadores prematuros em desequilíbrios das bactérias que vivem no intestino.

P. Qual é a importância da água para o cérebro?

Os dois componentes fundamentais do cérebro são a gordura e a água. O cérebro é muito sensível à desidratação. Por isso, às vezes, quando temos cefaleias, atordoamento ou fadiga cerebral, podemos simplesmente nos reidratar e notar, em poucos minutos, um bem-estar intelectual e cerebral.

P. Costumamos confundir a glicose com o açúcar. Você pode nos explicar a diferença?

A glicose é uma molécula simples que é encontrada em praticamente todos os alimentos naturais que consumimos diariamente.

Um açúcar pode definir moléculas muito variadas, algumas das quais foram fabricadas sinteticamente para poder adoçar, conservar e deixar os alimentos mais atrativos. Esses açúcares (não naturais) podem prejudicar o cérebro e causar inflamação.

P. Quais alimentos e atividades são necessários para melhorar a capacidade intelectual e criativa?

Dois dos parâmetros principais para ter um cérebro em forma e ganhar “músculo cerebral” são aqueles que nos ajudam na comunicação neuronal e a ter um fluxo sanguíneo ideal no cérebro.

Por isso, são essenciais as gorduras de peixes, as vitaminas dos grupos B, C, D e E, os antioxidantes naturais (nas frutas e nas verduras de cores vivas), o iodo (em fontes marinhas e lacustres) e a fibra (para a saúde do intestino) que é abundante nas leguminosas, nas sementes, nos cereais, nas verduras e nas frutas.

A dieta mediterrânea é considerada uma das mais neurossaudáveis do mundo exatamente por ser rica nesses alimentos.

P. E para melhorar a qualidade do sono?

Alimentos ricos em triptofano, como cereais, oleaginosas e sementes, carnes magras, peixes, frutas (banana, kiwi, ameixa, figo, toranja, melão, tomate) e chocolate amargo.

O triptofano contribui para a produção de melatonina, o hormônio que induz ao sono. Também é conveniente evitar usar o computador ou realizar atividades intelectualmente exigentes antes de dormir.

É adequado seguir padrões que nos permitam um relaxamento e uma preparação ao sono (músicas relaxantes, infusões calmantes, temperaturas amenas, atividades de baixa intensidade, etc).

Por exemplo, se você for à academia às dez horas da noite ou se jantar um bife com batatas fritas e meia garrafa de vinho, certamente terá mais dificuldade para conciliar o sono.

Mulher dormindo tranquilamente

P. Por fim, no seu livro, você dedica uma seção para falar sobre como conciliar a vida frenética e as refeições para o cérebro. O que podemos fazer a respeito?

Eu proponho uma combinação de orientações que combinem alimentação para seus “dois cérebros” (o principal e a microbiota do intestino), atividades físicas e que fomentem a atividade intelectual e o equilíbrio emocional.

O cérebro é como os músculos, de acordo com as suas ações, você vai desenvolver mais uma ou outra forma de utilizar o seu intelecto. Conhecê-los melhor significa aproveitá-los de maneira ideal.

Esperamos que você tenha gostado desta entrevista com Raquel Marín e que ela tenha sido útil para entender melhor a fascinante relação entre o cérebro e o intestino.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.