Entrincheiramento emocional no casal

Você tem um parceiro que tende a se firmar em uma posição e não aceita outra visão além da sua? Muitas vezes nos colocamos em barricadas emocionais que acabam colocando o relacionamento em xeque. O que podemos fazer nessas situações?
Entrincheiramento emocional no casal
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 setembro, 2022

Às vezes, as pessoas ficam entrincheiradas em suas perspectivas, crenças e posições como soldados em uma guerra. Isso, de forma pontual, pode ser bom. É lícito defender nossos valores e nossos limites, esses que ninguém deve cruzar ou violar em momento algum. Ora, a construção de barricadas na esfera afetiva é um tema recorrente e complexo.

Muitas vezes, no cenário dos laços afetivos, cada um se posiciona em sua “verdade”. Também na narrativa clássica de “tenho razão e você insiste em não ver”. Essas situações são muitas vezes trabalhadas por terapeutas de casais. Há muitas pessoas entrincheiradas que de repente percebem o ente querido como aquele inimigo incapaz de compreendê-la.

Pode nos parecer um comportamento infantil. No entanto, essas atitudes são motivadas por impulsos e necessidades soterradas. Estão os egos, mas também o desejo silencioso de que o parceiro veja, sinta e compreenda o mundo como nós mesmos o vemos. Essa ideia tendenciosa leva a grandes decepções e mais de um fracasso.

Os relacionamentos mais felizes são aqueles em que os parceiros podem ser eles mesmos a cada momento. E isso implica, às vezes, posicionar-se em uma ideia oposta à da pessoa amada. Isso não deve ser visto como uma ameaça ao vínculo, mas como uma oportunidade para se conhecerem melhor. Desde o respeito, da empatia e da compreensão.

Uma vida compartilhada não é suficiente para ter um relacionamento. A comunicação e a capacidade de chegar a acordos é o que constrói o verdadeiro vínculo entre duas pessoas.

casal falando sobre entrincheiramento emocional no casal
Discutir, e às vezes ter uma visão diferente sobre algo, não é uma ameaça. O perigo é não respeitar ou não saber chegar a acordos.

Entrincheiramento emocional no casal, um inimigo para o relacionamento

A Universidade do Tennessee realizou um estudo que mostrou algo que precisamos lembrar diariamente. Casais felizes discutem, têm diferenças e as resolvem através de uma boa comunicação. Algo que também foi visto é que quem está na meia-idade tende a enfrentar maiores problemas do que os casais mais velhos. Crianças ou questões financeiras, por exemplo, podem estar entre as discrepâncias mais comuns.

Porém, há um aspecto que acontece com frequência e que nem sempre sabemos como lidar. É tomar uma posição e fazer uma barricada com isso. Entendemos o entrincheiramento emocional no casal como aquela situação em que as duas pessoas se comprometem apenas a defender sua posição.

Fazem-no a ponto de se tornarem intolerantes. Ninguém cede, ninguém ouve, ambos erguem muros de defesa e surgem discussões eternas, a distância desconfortável… Muitas vezes, por trás dessa polarização, o que realmente existe é um conflito de raízes emocionais.

Sob essa disputa imatura em que, por exemplo, um quer ir de férias para o campo e outro quer ir à praia, encontra-se um problema não resolvido. Há negligência mútua e necessidades não atendidas, feridas que encontram sua má resolução nas disputas infantis sobre questões de pouca relevância.

As barricadas levam ao desprezo

Quando o entrincheiramento emocional no casal não é abordado adequadamente, leva ao desprezo. Como o terapeuta e especialista em relacionamentos John Gottman nos explicou, o desprezo é um dos 4 cavaleiros do apocalipse. Ou seja, um daqueles elementos que podem levar ao rompimento de um relacionamento.

Às vezes, quando o relacionamento se torna polarizado e cada parceiro defende uma ideia, posição ou perspectiva, o casal se concentra mais no que os diferencia do que em regular a agitação interna. Porque, insistimos, além da disputa e de uma visão oposta, há aquelas emoções negligenciadas que intensificam o conflito e as barricadas.

Para trabalhar as diferenças em um relacionamento, é preciso desconstruir os mecanismos de defesa de cada um.

Casal falando sobre o entrincheiramento emocional do casal
Ser casal implica, sobretudo, saber negociar.

Como resolver essas perspectivas entrincheiradas?

Ninguém gosta de ser desprezado, criticado ou atacado, e muito menos dentro de um relacionamento. Ver-nos numa situação em que o outro ergue verdadeiras paliçadas para defender sua posição e atacar a nossa dói. Pois bem, se fizermos isso também, a realidade se torna muito mais complicada. Porque se existem nutrientes essenciais em todo vínculo afetivo, eles são o respeito e a compreensão

Como lidar com o entrincheiramento emocional no casal? A primeira coisa é decodificar esses mecanismos defensivos. Saiba por que eles aparecem. Vamos dar uma olhada nessas estratégias.

1. Descobrir o que está por trás das barricadas

Quando um casal se posiciona em barricadas antagônicas há mais do que apenas uma discrepância. O entrincheiramento emocional no casal esconde realidades subjacentes.

Conseqüentemente, é decisivo saber o que escondemos atrás de nossas barricadas: é raiva, é despeito, é desconfiança? Em caso afirmativo, o que o motiva, qual é o problema que não estamos abordando?

Muitas vezes há necessidades mútuas que estamos negligenciando como casal.

2. Negociar requer fazer concessões

Se realmente queremos derrubar essas barricadas e conseguir uma aproximação, é preciso saber negociar e chegar a acordos. Essas são as habilidades que devemos desenvolver.

  • Aprender a ouvir com empatia.
  • Aprender a se comunicar de forma assertiva e respeitosa.
  • Ter uma vontade clara de chegar a acordos.
  • Respeitar as diferenças e buscar pontos de união.
  • É preciso entender que o fato de o casal ter opinião contrária em algum aspecto não é uma ameaça. Tampouco nos amam menos por não aceitarmos nossas perspectivas. O respeito mútuo e a aceitação sempre criam pontes de aproximação.

Para concluir, às vezes, para alcançar uma reconciliação e um acordo, devemos também deixar cada um dos nossos próprios territórios entrincheirados, esses que nem sempre vemos. Um deles, talvez o mais importante, é o orgulho.


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