Espronceda: a biografia do poeta romântico

Espronceda é um dos maiores expoentes do Romantismo espanhol. A obra de Espronceda é bastante conhecida, mas será que sabemos interpretá-la? Sabemos qual herói se esconde por trás do pirata? Além de seu incontestável trabalho literário, ele se viu envolvido em uma infinidade de conflitos como consequência de sua ideologia.
Espronceda: a biografia do poeta romântico
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O grande poeta do primeiro romantismo na Espanha é, sem dúvida, José de Espronceda. Seu nome, junto ao de Larra ou Bécquer, embora este último seja mais tardio, se destaca especialmente quando falamos de Romantismo.

A poesia de Espronceda é muito conhecida no âmbito literário. Não é muito difícil encontrar estudos sobre sua obra e até podemos nos deparar com estudos comparativos entre o espanhol e Lord Byron.

Sua poesia se caracteriza por um certo apreço pelo contraste, pelas descrições, pela abundância de adjetivos, etc. Espronceda se inspira em figuras oriundas da história, mas também de tempos lendários. É um romântico rebelde, desesperado, que também participa da política. Por isso, de alguma maneira, nos recorda profundamente de outro romântico, o romântico dos jornais: Larra.

Espronceda cultivou vários gêneros, como o do romance, Sancho Saldaña, ou o do teatro, além de exercer o jornalismo em várias ocasiões. No entanto, sua atividade mais reconhecida é a poesia. De fato, nas escolas espanholas é comum ensinar às crianças os versos que compõem A Canção do Pirata.

Neste artigo, convidamos você a descobrir um pouco mais sobre a vida e a obra desse autor. Quando refletimos sobre A Canção do Pirata, surgem algumas perguntas: Por que um pirata como protagonista? Será que um pirata pode ser um herói romântico?

Barco à deriva

Vida

José de Espronceda nasceu em Almendralejo (na província de Estremadura, na Espanha) em 1808. A política e a literatura marcariam sua vida. Já na juventude, tentou vingar a morte de Rafael de Riego e fundou uma associação secreta revolucionária que o levaria a ser confinado em um monastério. Nesse momento, ele começou a compor Pelayo, um poema épico sobre a conquista muçulmana na Espanha que ficou incompleto.

Após sair de sua reclusão, voltou à Madri, mas não ficou por muito tempo. O contraste de suas ideias com a realidade do país o levariam ao exílio. Primeiro esteve em Gibraltar, depois em Lisboa e, por fim, em Londres. Sua vida foi marcada por detenções e expulsões consequentes de sua ideologia. Posteriormente, após uma estadia em Paris, voltou à Espanha.

Espronceda claramente recebeu influências de Lord Byron. Byron introduziu uma despedida final após seus cânticos, algo que Espronceda também faria em alguns dos seus cantos. Ambos citam Platão e Horácio, explicam as fontes de seus poemas e têm Aristóteles como modelo de arte. O crítico literário Esteban Pujals dedica um estudo a essa relação que está reunido em Espronceda e Lord Byron (1951), no qual afirma que enquanto Byron se destaca no épico e no narrativo, Espronceda é superior como poeta lírico.

Paralelamente à sua carreira literária, ele desenvolveu uma importante atividade política. Em seus últimos meses de vida, como consequência de sua atividade política, foi parlamentar do Partido Progressista. No entanto, morreu de forma prematura aos 34 anos como consequência da difteria. À época de sua morte, era considerado um grande poeta e havia alcançado o sucesso. Por isso, seu enterro reuniu muitas pessoas e foi um dos mais dolorosos da Espanha.

Classificação de suas poesias

  • Poemas políticos, patrióticos e libertários: com “A la patria” (“À pátria”, em tradução livre), o autor ataca o despotismo reinante na Espanha, lamentando a morte dos exilados. Nessa mesma categoria, encontramos o soneto “A la muerte de Torrijos y sus compañeros” (“À morte de Torrijos e seus companheiros”, em tradução livre).
  • Poemas sobre a hostilidade dos românticos às convenções sociais e sua aspiração a uma liberdade absoluta: nesse ponto, destacam-se canções, como: “El reo de la muerte” (“O réu da morte”, em tradução livre), “La Canción del Pirata” (“A Canção do Pirata”, em tradução livre) ou “El verdugo” (“O carrasco”, em tradução livre). As canções falam de personagens marginais e próprios do romantismo. Com “El Canto del Cosaco” (“O Canto do Cossaco”, em tradução livre), adquire uma dimensão social e humanitária, e aborda uma poesia dominada pela coletividade.
  • Poemas filosóficos: nesse agrupamento, encontramos: “A Jarifa en una orgía” (“À Jarifa em uma orgia”, em tradução livre), “A una estrella” (“A uma estrela”, em tradução livre) e “Himno al Sol” (“Hino ao Sol”, em tradução livre).

Por outro lado, poderíamos incluir seus poemas de transição, nos quais Espronceda imita seus modelos: Jovellanos, Wordsworth… São poemas em que o “eu” romântico torna subjetivas a paisagem e a realidade, parecendo uma visão do locus amoenus.

As canções de Espronceda

Deixando de lado El Diablo Mundo (O Mundo Diabólico, em tradução livre), Las Canciones (As Canções, em tradução livre) é sua produção mais inovadora. Essa obra é composta por seis canções que, como já adiantamos, apresentam tipos marginalizados. A primeira canção pode ser encontrada em seu romance Sancho Saldaña e recebe o nome de “La Cautiva” (“A Cativa”, em tradução livre) e, embora não seja a mais inovadora, fala de questões como a rebeldia e a submissão.

“La Canción del Pirata” (“A Canção do Pirata”, em tradução livre) é a mais conhecida. Nela, ocorre, enfim, a exaltação do herói romântico, esse pirata cujo único objetivo é viver em liberdade, sem se submeter. O pirata representa o herói individual, um personagem que podemos encontrar na tradição romântica europeia. Por não gostar dos valores do mundo, ele se lança ao mar, à liberdade mais absoluta que pode existir.

“O que é o meu barco? Meu tesouro; O que é meu deus? A liberdade; Minha lei? A força do vento; Minha única pátria, o mar”.
-Espronceda, Canção do Pirata

Não é de admirar que tenha sido considerado o primeiro poeta romântico espanhol. Além disso, Espronceda se serve desses heróis para projetar a si mesmo; ele, assim como o pirata, ama a justiça e a liberdade acima de tudo. Em “El Verdugo” (“O Carrasco”, em tradução livre), denuncia as penas injustas e excessivamente severas do sistema, defendendo penas adequadas aos delitos cometidos.

Seus heróis são projeções simbólicas do próprio “eu” do poeta. Representam símbolos da rebelião individual frente a uma burguesia acomodada que carece de sensibilidade. Por isso a escolha de personagens marginalizados, como o mendigo ou o pirata, que vivem alheios às normas estabelecidas ou que servem de denúncia para as coisas das quais não gosta no mundo em que vive. Assim, Espronceda hasteia sua bandeira com heróis que representam a liberdade.

Livros em biblioteca

Espronceda: poemas extensos

El estudiante de Salamanca (1840) (O estudante de Salamanca, em tradução livre) é um poema narrativo extenso que aborda a obsessão de um personagem, Don Félix, de conquistar qualquer dama em qualquer situação. É dividido em quatro partes: apresentação do herói; retrato da vítima, Dona Elvira; vingança e morte do vingador; e, por fim, um passeio noturno pela cidade de Salamanca. Nessa obra, destacam-se algumas das principais características do romantismo, como a exaltação do “eu”, os amores de contraste, a liberdade absoluta, etc.

A ação se situa em uma longa e intensa noite na qual ocorrem diversos acontecimentos. O conquistador Don Félix seduz Dona Elvira, mas a esquece no dia seguinte, deixando-a mergulhada em uma profunda dor que a leva à morte. Don Diego, irmão de Elvira, vai tentar vingar a morte de sua irmã. A partir desse momento, a magia ocorre, o sobrenatural envolve a noite e o mistério se apodera dos versos.

El Diablo Mundo (O Mundo Diabólico, em tradução livre) é uma obra que Espronceda começou a escrever em 1839, mas que não conseguiu acabar antes de sua morte. Trata-se de um dos poemas mais interessantes e ambiciosos do autor. Nele, podemos apreciar o profundo pessimismo dos últimos anos de Espronceda, o pessimismo do romântico revolucionário.

Condena os conservadores, possui uma forte carga metafísica e simbólica, explora questões como a liberdade, a existência de Deus, etc. O mal é encontrado em qualquer canto, inclusive nos corações dos homens. A sociedade foi corrompida pela hipocrisia e pela ignorância perante a dor alheia. A liberdade parece não existir e, no mundo, não há espaço para a pureza, nem para a inocência.

El Diablo Mundo (O Mundo Diabólico, em tradução livre) é um canto à revolta contra o estabelecido, contra as leis que regem o mundo. É um mundo caótico, imerso na desesperança… Espronceda, como um bom romântico, conseguiu deixar evidente em seus versos seu desejo pela liberdade individual, essa liberdade que parece não existir, que nos foi tirada e da qual somente um pirata pode se aproximar.

“É Deus o Deus frívolo, injusto e tirano sem piedade que arranca a esperança do coração do homem e o prende, e ao pecador condena à eterna morte?”
-Espronceda, O Diabólico Mundo


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  • Pujals, E., (1951): Espronceda y Lord Byron. Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas.

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