Estamos presos na idade emocional do desamor

Estamos presos na idade emocional do desamor
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 23 abril, 2020

A falta de amor é uma carência que marca, especialmente, certas idades ou certos momentos da vida. Tanto que muitas vezes ficamos completamente presos na idade emocional do desamor. Em outras palavras, a ausência de afeto detém nosso desenvolvimento e não podemos avançar até que se cure essa ferida.

O conceito de maturidade é basicamente isso: um conceito. Na prática, todas as pessoas carregam consigo várias idades. Algumas delas predominam, mas as outras estão presentes. Isso é uma sorte, já que torna possível que possamos desfrutar de um jogo como crianças e assumir os problemas com a sabedoria de um adulto.

No entanto, há circunstâncias que nos fixam em uma idade determinada. Em particular, ficamos presos na idade emocional do desamor se não trabalhamos essa falta. Isso pode ter tido origem em uma idade muito precoce. Se assim for, mesmo as pessoas idosas podem ser emocionalmente como uma criança que temia e se magoava por não contar com laços significativos.

“Escrevo de causas e não descrevo os efeitos? Escrevo a história de uma carência, não a carência de uma história”.
– Andrés Rivera –

A primeira idade emocional do desamor

Na infância, todas as experiências causam um impacto profundo. É nessa fase que se formam as bases do que somos e do que seremos. Isso não quer dizer que nas fases posteriores não permaneça essa necessidade de afeto, mas, sim, que nos primeiros anos sua incidência é decisiva.

Quando uma criança tem entre 1 e 2 anos e carece de afeto, a primeira coisa que fica ferida é sua sensação de confiança. Ela espera da mãe, ou de quem exerça esse papel, a atenção para suas necessidades.

Se isso não acontecer, ou chegar a ela por meio de rejeições e agressões, provavelmente será muito difícil confiar nos outros a partir de então. Assim como confiar em si mesmo. Essa é a primeira forma na qual alguém corre o risco de ficar preso na idade emocional da falta de amor.

Criança dando a mão para adulto

O desamor, a autonomia e a independência

Aos 2 ou 3 anos de idade, a criança começa formalmente seu caminho em direção à autonomia. Isso tem a ver, em primeiro lugar, com o controle dos esfíncteres. Paralelamente, há todas as atividades que lhe permitem ficar sobre seus próprios pés no mundo.

Nessas idades, uma mãe amorosa, ou quem exerça esse papel, promove essa autonomia com carinho e sem pressa. Não pede à criança mais do que ela pode dar de acordo com seu nível de desenvolvimento e sua história de aprendizagem, nem impede o desenvolvimento fazendo para a criança o que ela poderia fazer sozinha. O amor não deve converter-se em dependência, nem a promoção da autonomia em abandono.

Esse processo de independência se estende ainda mais durante o período compreendido entre os 3 e os 6 anos, geralmente. Nada no ser humano tem datas exatas. Seja como for, é essa a idade de grande exploração do mundo. Uma criança amada vivencia essa aventura sem temores. Caso contrário, provavelmente se inibirá e terá medo, ainda que não haja perigo.

Na idade escolar, a criança desenvolve o amor pelo trabalho e pela diligência. Claro, se uma mão amorosa a guiar. Caso contrário, assumirá seus deveres escolares com um sentimento de inferioridade. É outra forma de ficar preso na idade emocional do desamor.

Menina se escondendo atrás de árvore

Os efeitos na idade adulta

Percebemos que ficamos presos na idade emocional do desamor quando exibimos certos traços de personalidade em nossa vida adulta e não sabemos explicar o porquê. Também não conseguimos mudar, por mais que pensemos que isso seja o adequado.

Alguém que arraste carências afetivas desde a infância será inseguro, tímido e cheio de temores. Será muito difícil se reafirmar, saber o que quer e expressar o que sente. Terá muitas dificuldades para estabelecer metas e apostar nelas; seu medo será maior que sua esperança. Principalmente, será uma pessoa muito passiva, inclusive em sua vida sexual, o que vai ser algo difícil de desfrutar.

O que fazer então? As feridas pela carência do afeto podem ser curadas em grande medida. Entretanto, isso não acontecerá naturalmente – é necessário trabalhar nelas. Uma boa ideia é buscar meios para que essa criança carente se expresse abertamente. Deixe-a falar, assumir o papel dessa criança e permitir que diga o que sente, seja por escrito ou com um terapeuta. É uma boa maneira de romper com essa idade emocional do desamor.

Imagens cortesia de Ofra Amit


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