A estratégia terapêutica de transformar a raiva em compaixão

A estratégia terapêutica de transformar a raiva em compaixão

Última atualização: 20 abril, 2017

A raiva é uma emoção que poderia ser considerada venenosa e que nasce da percepção de ameaça e perigo. Sua finalidade evolutiva é motivar-nos a lutar contra o que pode nos machucar e até mesmo acabar com nossas vidas. Além disso, como todas as emoções, se bem regulada, contém uma grande quantidade de energia que podemos utilizar a nosso favor.

Geralmente se manifesta com a tensão, tanto dos músculos como da mandíbula, palpitações aceleradas no coração, transpirações e, sobretudo, um profundo sentimento de injustiça ou de que estão tirando proveito de nós de alguma forma.

Normalmente, quando nos deparamos com uma pessoa que sente irritada, a julgamos de uma maneira negativa, levantamos uma barreira defensiva e até mesmo a confrontamos. Com este comportamento refletimos que entendemos muito bem o poder destrutivo que essa emoção tem, sabemos que além de receber os danos causados por essa raiva, corremos o risco de nos contagiarmos dela e entrarmos em uma espiral de escalada com o outro.

Seja com um cliente, com nosso irmão ou nosso parceiro, a raiva é uma das emoções que mais podem colocar à prova a nossa capacidade de regular as emoções. É muito fácil que qualquer gesto ou “besteira” aumente a sua intensidade, de modo que terminemos perdendo o controle e descontando na pessoa que menos merece.

Vale a pena sentir raiva?

A resposta é não. A raiva não resolve qualquer problema, pelo menos nenhum que exija uma reação rápida porque a nossa existência está comprometida. Se este fosse o caso, a raiva supõe uma enorme dose de energia para reagir de maneira rápida e com força diante dessa ameaça.

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Porém, é provável que na atualidade aconteça algo assim? Hoje em dia sentimos raiva porque exigimos que tudo funcione como gostaríamos: as pessoas ao nosso redor e a nossa própria, e isso é simplesmente uma ilusão que jamais será cumprida. Assim, podemos dizer que na maioria das situações nas quais sentimos raiva não há um grande perigo para nós, é a nossa mente que disfarça de gigantes as pequenas ameaças.

Pense que essa raiva tenta que você coloque todos os seus recursos em ação e aja contra o problema, mas acontece que o problema não é um problema em si, mas é apenas a vida, a realidade, e contra isso há um monte de estratégias mais inteligentes. Ninguém pode através da “força bruta” mudar o que aconteceu, está acontecendo ou vai acontecer.

Também ocorre, como já dissemos antes, que quando vemos alguém com raiva, especialmente se for direcionada a nós, nos defendemos. Uma defesa que muitas vezes envolve colocar para fora a nossa ira com a justificativa de que “essa pessoa não deveria…”.

Trocar a raiva por compreensão e compaixão

A comprenssão é uma grande vacina contra os danos que sofremos quando nos expomos à raiva dos outros. Se pensarmos que a pessoa com raiva não está consciente e que age sob o feitiço da emoção que a invade, será mais fácil de manter a nossa raiva controlada e podemos até mesmo intervir para acalmá-la.

Se pensarmos dessa forma, deixando de lado as demandas absolutistas, será impossível sentir raiva desta pessoa. Ao contrário do que podemos acreditar, se formos capazes de mudar nossos pensamentos, começaremos a sentir compaixão por aquela pessoa.

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Obviamente, para pode chegar a pensar dessa forma, devemos contar com umas boas reservas de amor próprio -e não de ego- e estar muito seguros. Esta é a única forma de não nos sentirmos ameaçados também, para deixar de lado o orgulho e agir com amor para com as pessoas que pretendem nos prejudicar e o fazem sem más intenções.

Sei que você está pensando que é uma atitude conformista e que ninguém deveria se deixar ser pisoteado, e é possível que você tenha razão, mas apenas parcialmente. A assertividade, a capacidade de estabelecer limites e expressar nossos direitos sem prejudicar o outro, é a opção adaptativa que podemos escolher quando alguém nos faz sofrer. Pense que a assertividade é uma atuação guiada pela nossa consciência e com a qual nós protegemos nossa posição sem machucar o outro, não tem nada a ver com uma reação desproporcionada e instintiva.

Então, quando você perceber a raiva ao seu redor, tente processar essa informação mais além da posição defensiva que se sente inclinado a tomar. Se perceber que isso é maior que você e não pode ajudar essa pessoa com raiva, é preferível que saia da situação antes que ela o contagie. Pense que ter várias pessoas agindo sem medir as consequências do que elas fazem é um dos “explosivos” que causa mais danos.

Para terminar, gostaríamos de deixar claro uma diferença entre agir com raiva e não agir. Referimo-nos especialmente às situações de abuso. Nelas, por mais que o malfeitor aja sob a influência da raiva e como vítimas possamos compreendê-lo, somos obrigados a denunciá-lo por respeito a nós mesmos e a todas as pessoas que poderiam ser suas vítimas em potencial. Até esmo para ele, para que possa receber ajudar.


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