Os estudos de Donald Redelmeier e o feitiço da Lua
Os estudos de Donald Redelmeier sobre os efeitos da Lua foram publicados no British Medical Journal. De acordo com eles, a lua cheia aumenta o número de acidentes de trânsito e mortes trágicas. Foi o que esse cientista concluiu depois de coletar e analisar uma série de dados em vários países do mundo.
A publicação dos estudos de Donald Redelmeier foi feita na edição de Natal da prestigiada revista. Esses tipos de edição são feitos todos os anos e incluem pesquisas engraçadas, impressionantes ou surpreendentes, sempre baseadas em “fatos científicos”.
O feitiço da Lua é discutido há muito tempo. Inspirou poetas, amantes e cientistas de todas as épocas. Brilha na noite como um oásis no meio do mistério. Mas, será que ela realmente exerce uma influência que causa acidentes e mortes trágicas? Os estudos de Donald Redelmeier parecem provar isso.
“Há noites em que os lobos estão calados e a lua uiva”.
– George Carlin –
Os estudos de Donald Redelmeier
Os estudos de Donald Redelmeier têm uma base estatística. Este cientista, pesquisador da Universidade de Toronto, juntamente com seu colega Eldar Shafir, pesquisador da Universidade de Princeton, fizeram uma análise peculiar. Eles monitoraram acidentes de trânsito entre 1975 e 2014, nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália.
Eles buscavam padrões e os encontraram, mas não exatamente o que esperavam. Graças a suas pesquisas, foram capazes de detectar um fato impressionante: durante as noites de lua cheia, os acidentes de trânsito aumentam e, como consequência, o número de feridos e mortos também.
Segundo os dados encontrados, durante o período estudado houve 988 noites em que não houve lua cheia. Nessas noites, ocorreram 8.535 acidentes de trânsito, o que produziu uma média de 8,64 mortes.
No mesmo período, ocorreram 494 noites com lua cheia. Nessas noites, ocorreram 4.494 acidentes de trânsito, com uma média de 9,1 mortes por noite. A média durante as chamadas “superluas” aumentou para 10,6.
A culpa foi do feitiço da Lua. Verificou-se que muitos motoristas ficam encantados com a sua beleza e dispersam sua atenção. É isso que dá origem aos acidentes.
O feitiço da Lua
Os estudos de Donald Redelmeier são uma maneira anedótica de responder a uma pergunta que os seres humanos se fazem há milhares de anos. Qual é a influência que a lua exerce no comportamento humano?
A lenda do “lobisomem” é uma maneira fantástica de responder: os instintos mais animalescos emergem no ser humano quando há lua cheia.
Deixando a fantasia de lado, não são poucos os que postularam uma estreita relação entre a Lua e o comportamento humano. Aristóteles estava convencido de que ataques de loucura e epilepsia ocorriam em uma relação direta com as fases da lua. Plínio, o Velho, um naturalista romano, concordava plenamente com essa apreciação.
De fato, a palavra “lunático” foi incorporada na linguagem popular para se referir às mudanças bruscas que ocorriam no comportamento das pessoas, especialmente nas noites de lua cheia.
Existem vários estudos científicos a esse respeito. Nenhum deles é totalmente consistente, exceto um. Vejamos a seguir.
Uma pesquisa interessante
O psiquiatra David Avery, do Reino Unido, teve um paciente muito particular. Ele sofria de transtorno bipolar e também era alguém muito metódico, com espírito investigador. Por isso, ele decidiu manter um registro completo de suas mudanças de humor, que eram extremas.
Quando Harvey estudou as anotações do seu paciente, percebeu que as flutuações do sono coincidiam com as flutuações das marés lunares.
Porém, essa conclusão foi um tanto absurda para o psiquiatra e ele esqueceu o assunto. No entanto, outro conhecido psiquiatra, Thomas Wehr, publicou um artigo em que destacava que 17 pacientes com transtorno bipolar tinham uma regularidade impressionante nas mudanças de humor, que coincidiam com os ciclos das marés lunares. Esse estudo foi baseado em observações feitas ao longo de vários anos.
Então, os dois psiquiatras se encontraram e uniram forças. Ambos apresentaram as suas conclusões em vários fóruns e, a partir do ponto de vista empírico, elas estão corretas. De fato, existe a coincidência. No entanto, outros cientistas acreditam que existe algum outro fator que influencia esse fenômeno e que ainda não foi detectado.
Além disso, a maioria se recusa a considerar seriamente essa relação entre a Lua e o comportamento, porque não existem bases físicas que possam comprová-la. Mesmo assim, os dados de Wehr e Avery não podem ser replicados. Certamente haverá novos estudos que projetarão luz onde ainda existem sombras.
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Avella-García, C. B. (2010). Evidencia sistemática vs. creencias o conocimiento popular: el caso de la Luna y la patología psiquiátrica. Revista Colombiana de Psiquiatría, 39(2), 415-423.