Eu não acredito na psicologia

Eu não acredito na psicologia

Última atualização: 28 abril, 2017

Eu não acredito na psicologia. Esta é uma das frases que mais ouvimos daqueles que a criticam. Como se a psicologia fosse uma questão de fé, e não de ciência. Embora curiosamente também seja uma frase dita por aqueles que nunca consultaram um psicólogo.

No que estas pessoas se baseiam para dizer isso sem sequer conhecer um psicólogo? Bom, claramente elas se baseiam nos mitos que existem entorno da psicologia. Mas nem tudo o que é dito é verdade, já que é preciso esclarecer que os psicólogos não são meros charlatões que usam palavras e frases bonitas, mas sim que há todo um ramo de conhecimento por trás da sua atuação.

A psicologia é o ramo da ciência que se ocupa do comportamento humano e sua relação com os processos de pensamento, emocionais e aprendizado. Sim, é um ramo da ciência porque, entre muitas outras coisas, utiliza o método científico em seus projetos e, também, para comprovar seus resultados.

Além disso, a psicologia, em uma de suas vertentes, é uma atividade de saúde, mas esta não é sua única face. Uma parte importante da psicologia se dedica a outras áreas, como social, empresas, publicidade, educação, etc. Mas essas áreas não são tão menosprezadas, pois é a psicologia de saúde a que conta com uma série de mitos. Mitos estes que descrevo a seguir:

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Mito 1. A psicologia é uma especialidade “light” para a saúde mental

Esta é uma mentira que parte do desconhecimento da função da psicologia na saúde mental. Por outro lado, é mentira não apenas porque eu estou dizendo, mas sim porque a própria Organização Mundial da Saúde  recomenda os tratamentos psicológicos para todo tipo de patologias mentais, incluindo as mais graves, como a esquizofrenia.

Isso porque o melhor tratamento para patologias como a esquizofrenia, o transtorno bipolar ou a depressão grave, é uma combinação do tratamento farmacológico junto com uma terapia psicológica. Algo a respeito do que diferentes Manuais de Atuação internacionais concordam entre si.

Além disso, recomenda-se utilizar, acima de tudo em crianças em adolescentes, a psicoterapia. Isso acontece porque a farmacologia tem muitos efeitos colaterais que podem ser altamente prejudiciais em cérebros em desenvolvimento, como é o caso das crianças.

Mas se a doença mental existe porque algo não está funcionando corretamente no cérebro , ou seja, algo biológico, como os psicólogos podem ajudar? Porque o ser humano não é apenas biologia, e os transtornos mentais muito menos. Isso pode ser claramente percebido se falarmos sobre patologias concretas, como a depressão.

Descobriu-se que, na depressão severa, há baixo níveis de um neurotransmissor chamado serotonina, entre outros indicadores. Então, os fármacos conhecidos como ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) fazem com que esta aumente e, portanto, que os sintomas melhorem, mas foram encontrados resultados similares relacionados à psicoterapia cognitivo-comportamental.

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Mito 2. É necessário um divã na psicologia

Esse é o meu favorito. O divã vem das pessoas quererem igualar a psicologia com a psicanálise freudiana. O ruim é que nem mesmo a psicanálise atual segue ao pé da letra o que Freud propunha, já que foi evoluindo. Não podemos nos esquecer de que a teoria freudiana surgiu no começo do século XX.

Para que você tenha uma ideia, no começo do século XX a medicina realizava sangrias para pessoas que tinham gripe. Ou seja, extraíam grandes quantidades de sangue porque supunham que, assim, o vírus seria eliminado. Isso tem a sua lógica, não uma ciência, pois era sabido que as partículas “danificadas” circulavam pelo sangue. No entanto, o que as pessoas não sabiam era que as defesas também estavam no sangue.

Aconteceu o mesmo na psicologia. Por exemplo, a introdução do termo “inconsciente” é uma das maiores e mais certeiras aplicações da teoria freudiana, mas assim como outros termos, percebeu-se que eram mais um produto da cultura da época do que uma aplicação certeira.

Aconteceu o mesmo com o divã; seu uso é prescindível, de fato não existe um na maioria dos consultórios psicológicos. Isso porque o papel do paciente mudou na terapia, já que ele não é mais considerado um sujeito passivo que vai à terapia apenas para contar seus problemas.

Mito 3. Os psicólogos irão lhe dizer o que fazer

Se em algum momento você foi ao psicólogo e ele lhe disse exatamente o que você deveria fazer, você foi a um péssimo psicólogo. Os psicólogos ajudam a resolver perguntas e a escolher caminhos ampliando o ponto de vista do paciente e, inclusive, lhe mostrando outras opções, mas nunca dizendo o que o paciente deve fazer da sua vida.

As respostas para os problemas são encontradas pelo próprio paciente: os psicólogos são guias em seu  caminho , mas não substituem seus próprios passos. Em doenças mentais sérias, são apresentadas habilidades para que o paciente viva melhor diariamente e para que aprenda a viver com uma melhor qualidade de vida.

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Mito 4. Ir ao psicólogo é jogar dinheiro fora, você só precisa de tempo

Bom, se você só precisa de tempo, é porque não precisa ir ao psicólogoassim, se você precisa ir ao psicólogo e decide esperar que o tempo resolva o problema, o normal é que os problemas piorem enquanto você espera que o tempo os elimine, como se fosse a maré com os desenhos feitos na areia.

O tempo é apenas um meio no qual o paciente precisa se situar, integrar uma narração, aceitar os fatos que aconteceram e encontrar uma esperança que, talvez, no momento em que passa pela primeira vez na porta do consultório, não tem. Especialmente se ele não procurar ajuda de forma voluntária, ou motivado por alguém e não por ele mesmo.

Mito 5. Pare de me analisar!

Que psicólogo nunca ouviu isso quando diz para alguém com o que trabalha? Talvez essa seja uma das coisas mais ouvidas, juntamente com o detalhe de que eles leem mentes. Não sei você, mas se os psicólogos pudessem ler mentes, não leriam a sua, especificamente.

Os psicólogos não leem mentes e nem estão analisando todo mundo constantemente. Da mesma forma como um cardiologista não está o tempo todo analisando se o que você faz é bom ou não para o seu coração quando não está em seu consultório, ou como um açougueiro não está pensando em transformar seu cão em filés de carne.

Fazer psicoterapia não é tão simples como escutar alguém e pronto. Fazer psicoterapia envolve uma ampla formação que é constante e se estende por toda a vida de um psicólogo. Fazer psicoterapia ou psicologia requer um enquadramento adequado e é uma atividade mentalmente extenuante, não é tão simples como passar 24 horas tomando um chopp.

Se mesmo depois de ler tudo isso você continua não acreditando na psicologia, só posso sugerir que continue se informando. A psicologia é uma das ciências mais complicadas que existem porque se dedica ao estudo do ser mais complicado do mundo, o ser humano.

É uma ciência jovem e, como todo jovem, imprudente em alguns casos, mas isso não deve fazer com que desacreditemos em sua utilidade, especialmente porque ela é a principal alternativa com a qual contamos para diagnosticar e avaliar transtornos mentais.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.