Eu Não Sou Um Homem Fácil: a realidade invertida
Hoje falaremos de um filme lançado recentemente. O cinema francês, sempre comprometido com causas sociais, nos trouxe este longa da diretora Eleonore Pourrait. ‘Eu não sou um homem fácil’ é uma comédia romântica que inverte os papéis de gênero e que acaba por ser, na realidade, bastante trágica. Um filme cheio de clichês e estereótipos facilmente reconhecíveis e normalizados que se tornam tremendamente dolorosos quando é o sexo oposto que sofre com eles.
O filme, que pode ser encontrado na Netflix, mostra um mundo no qual as mulheres estão em posições de liderança, são “chefes de família”, e no qual os homens sofrem assédio na rua, violência sexual e discriminação de todos os tipos. Uma realidade paralela na qual o feminino é considerado inferior, só que desta vez é o que caracteriza os homens. Um mundo que se revela absolutamente ridículo, mas cujo espelho, a nossa realidade, é completamente normal.
Eu não sou um homem fácil: o argumento
Damien é o protagonista deste filme. Um personagem tremendamente machista, com atitudes claramente patriarcais. Ele trata as mulheres como objetos sexuais a seu serviço. Ele construiu uma carreira brilhante no mundo da publicidade, muitas vezes usando todos os clichês machistas imagináveis. Damien se sente muito bem em sua própria pele, desempenhando o papel machista que o sistema patriarcal lhe concedeu.
Depois de um forte golpe na cabeça, Damien acorda em um mundo que não reconhece. É a sua vida, mas tudo está de cabeça para baixo. Ele acorda em um mundo exatamente como o dele, só que nesta realidade são as mulheres que se comportam de maneira masculina, machista e patriarcal. Os homens foram relegados aos mesmos papéis que as mulheres têm em seu antigo mundo.
Uma realidade paralela: a inversão de papéis
A abordagem de ‘Eu não sou um homem fácil’ é muito hábil. Este filme não nos mostra um mundo diferente, não nos mostra um mundo com valores femininos. Os valores predominantes permanecem masculinos, mas neste caso não são os homens que os impõem, e sim as mulheres.
Desde o cuidado das crianças e familiares, a subvalorização do trabalho, a piada fácil sobre os seus corpos, o assédio sexual, a depilação, a infidelidade, a violência sexual, a solteirice… Todos os clichês patriarcais são absolutamente normais neste mundo, mas atacam os homens.
Damien, horrorizado pelo tratamento discriminatório que sofre, se junta a um grupo de “masculinistas”. Os “masculinistas” são homens que lutam pelos seus direitos contra a opressão de um sistema que os considera inferiores. Um sistema que atribuiu papéis aos homens que dificilmente podem ser deixados de lado. Por esta razão, ele também é atacado e difamado. Não só pelas mulheres, mas também por muitos homens que acusam os masculinistas de homossexuais. Também não acreditam que haja algo a mudar nesta realidade abusiva contra os homens.
Existe um retorno à realidade original?
Quando Damien acorda neste mundo paralelo, ele conhece uma mulher que é o seu reflexo. Uma mulher dominante, bem-sucedida, manipuladora, sexista e arrogante que considera os homens algo que pode ser usado em seu benefício. Eles começam uma história de amor muito estranha e uma espécie de redenção de Damien. Embora o fim de ‘Eu não sou um homem fácil’ possa parecer previsível, não é. De fato, o filme todo é um esforço para mostrar o absurdo dos papéis de gênero e como é fundamental educar em equidade.
O filme é uma aposta para destruir de uma vez por todas as diferenças de gênero e mostrar que elas são construções arbitrárias, sem nenhuma base biológica. No entanto, foram criadas e mantidas para subjugar uma parte da população. Um filme altamente recomendado, cujo final nos convida à reflexão pessoal sobre o ridículo e prejudicial de atitudes machistas, dos micromachismos e do sistema patriarcal. ‘Eu não sou um homem fácil’ é uma obra-prima que nos oferece a oportunidade de vermos claramente a natureza desigual da nossa sociedade, e o faz nos mergulhando em uma completa dissonância cognitiva.