O experimento de Harlow e sua teoria do apego
A teoria do apego se concentra nos fenômenos psicológicos que acontecem quando estabelecemos laços afetivos com as outras pessoas. A forma como fazemos isso estará condicionada à forma como nossos pais se relacionaram conosco durante a infância. Sendo assim, muitas vezes, se o relacionamento não foi positivo, podem acabar acontecendo alguns tipos de relações tóxicas ou que terminem em dependência emocional.
As crianças que foram separadas de seus pais procuram, em suas relações futuras, um apego que foi tirado delas no passado.
Bowlby foi o precursor dessa teoria do apego e descobriu que a privação materna pode afetar seriamente os bebês. Chegando a ser tão prejudicial que, inclusive, as crianças poderiam adquirir um atraso intelectual e assimilar uma forma muito ruim de se relacionar com as emoções. Harlow, um psicólogo americano, decidiu comprovar a teoria do apego de Bowlby fazendo uma experiência que muitos, se não todos, consideram cruel.
A experiência com macacos Rhesus
Harlow utilizou os macacos Rhesus em sua experiência, uma espécie asiática que se acostuma muito facilmente à convivência com os seres humanos. A intenção era estudar seu comportamento em laboratório para comprovar a teoria do apego de Bowlby. Como era de se esperar, Harlow separou os filhotes de suas mães para ver como eles reagiam.
Mas Harlow não se limitou apenas a observar o que acontecia, ele utilizou uma curiosa metodologia. Havia dois objetos nas gaiolas onde os filhotes estavam: uma mamadeira que lhes proporcionava uma alimentação adequada e uma pelúcia, um boneco, que se assemelhava a um macaco adulto. A pelúcia não tinha nenhum tipo de recurso alimentício para oferecer ao filhote.
O que os filhotes escolheram? Isto era algo que Harlow queria descobrir não só para provar a teoria do apego de Bowlby, mas também para descobrir a realidade do amor incondicional. O resultado mostrou como os filhotes preferiam o boneco, apesar dele não lhes proporcionar nenhuma alimentação.
Os filhotes se agarravam ao boneco quando tinham medo, pois ele proporcionava uma grande segurança a eles.
Isso permitiu a Harlow comprovar como a relação/apego é tão importante entre os filhotes e suas mães. Apesar de não alimentá-los, escolhiam o boneco para que ele adotasse o papel de mãe. Eles preferiam passar seu tempo com o boneco. O outro objeto era um mero alimento que não lhes dava calor nem carinho.
A teoria do apego mais dolorosa
Harlow não se conformou com tudo que já havia comprovado. Decidiu ir além, sem ter em conta o bem-estar dos macacos Rhesus. Os colocou em espaços ainda menores, nos quais havia apenas comida e bebida. Assim ele poderia observar como eles iriam se comportar em absoluto isolamento.
Muitos macacos ficaram meses presos dentro destas pequenas gaiolas, alguns até mesmo anos. Privados de todo estímulo social e sensorial, os macacos começaram a demonstrar alterações em seu comportamento, fruto de todo esse isolamento. Os macacos que ficaram um ano presos ficaram em estado catatônico. Se mostravam passivos e indiferentes a tudo e a todos.
Quando os macacos presos chegavam à idade adulta, não conseguiam se relacionar com os demais de forma correta. Não encontravam parceiros, não tinham nenhum tipo de necessidade em procriar e, em algumas ocasiões, sua passividade lhes fazia deixar de comer e beber. Muitos morreram.
As fêmeas tiveram ainda menos sorte, se assim podemos dizer. Ao levar sua pesquisa ao extremo, Harlow percebeu que as fêmeas não conseguiam ficar grávidas, já que elas não tinham nenhum interesse em procriar. Por essa razão, num suporte para reprodução forçada, fecundou as fêmeas contra sua vontade e interesse.
Para gerar apego é necessário apego
O resultado foi completamente aterrorizante. As mães violadas se desentendiam completamente com seus filhotes, os ignoravam, não lhes alimentavam, definitivamente não amavam os filhotes. Tanto era assim que muitas delas mutilavam seus filhotes para que eles morressem.
Apesar de ser apenas um boneco, um brinquedo, os macacos consideravam a pelúcia como se fosse sua mãe e acudiam a ela quando necessário.
Além de verificar ou não a teoria do apego de Bowlby, o que o macabro experimento de Harlow deixou claro é que as necessidades dos macacos foram muito além da obtenção de alimento ou da possibilidade de descanso. Para um desenvolvimento saudável, os filhotes preferiam suprir a necessidade de “calor” antes de suas necessidades nutricionais.
Por outro lado, com essa experiência também ficou clara a importância que as primeiras relações têm no comportamento dos macacos em sua fase adulta. Assim, viu-se que a privação de um estímulo social em idades muito jovens fez com que os macacos deixassem de ter interesse por este tipo de contato mais tarde, quando tinham a oportunidade.
A privação de carinho nos seres humanos
Levando estas conclusões aos seres humanos, as crianças que não recebem o afeto necessário desde pequenas, que se veem isoladas ou que são rejeitadas, têm mais dificuldades em desenvolver relações saudáveis. Uma falha que não pode ser apagada, que deixa carência afetivas e uma necessidade de buscar por alguém que lhes proporcione “a qualquer preço” aquilo que não tiveram durante seus primeiros anos de vida. Falamos da dependência emocional, é claro.
*Nota editorial: felizmente hoje em dia os requisitos éticos que uma pesquisa devem cumprir, seja com pessoas ou com animais, são muito mais estritos e este experimento terrível não poderia ser realizado de forma alguma. Infelizmente também não podemos reparar a tortura à qual estes animais foram submetidos, mas podemos fazer com que seu sofrimento seja honrado, não nos esquecendo do que eles nos ensinaram.