Filosofia da liberdade, a disputa entre o livre-arbítrio e o determinismo

A liberdade é um conceito problemático por causa de sua multiplicidade de significados. Neste artigo, exploraremos duas perspectivas: livre-arbítrio e determinismo.
Filosofia da liberdade, a disputa entre o livre-arbítrio e o determinismo

Última atualização: 07 julho, 2023

Ser livre parece um fato inquestionável. No entanto, especificar um conceito a esse respeito pode implicar em uma resposta vaga. A filosofia reflete muito sobre a liberdade e, com base nisso, neste artigo iremos propor respostas para essa questão. Além disso, explicaremos o que diz respeito ao livre arbítrio e ao determinismo.

E é que os filósofos discutiram exaustivamente a liberdade, para que seus argumentos fossem esclarecedores ao estabelecer uma posição a respeito do fenômeno da liberdade. Vamos começar.

Quem vive com medo nunca será livre.

~ Horacio ~

O que é liberdade segundo a filosofia?

A história da filosofia mostra que ainda hoje não há um consenso absoluto para responder o que é liberdade. No entanto, é possível destacar características que ajudam a esclarecer essa questão.

A inicial é sua etimologia. A palavra liberdade vem do latim libertas, que significa ‘a condição do homem que é livre’. Ou seja, refere-se ao cidadão que é autônomo. Essa noção está intimamente associada à concepção de Aristóteles como um animal político.

De acordo com esse filósofo, a liberdade é a capacidade dos seres humanos de decidir de forma autônoma por meio da razão. É uma liberdade política na medida em que podemos participar da vida social, desde que não sejamos privados dela, como no caso de escravos e pessoas submetidas.

Portanto, pode-se dizer que a filosofia da liberdade considera esse conceito como uma faculdade natural, uma condição ou um estado próprio do ser humano. Dessa forma, entramos na disputa entre as noções de livre arbítrio e determinismo. Que significam? Por que é uma disputa? Esse debate tem solução? Vamos investigar.

Livre arbítrio: uma perspectiva desde a filosofia da liberdade

Segundo a Standford Encyclopedia of Philosophy, o livre-arbítrio é um conceito filosófico que é utilizado para designar a capacidade que o ser humano tem de decidir entre várias alternativas. Em outras palavras, para a filosofia trata-se da liberdade de escolha sem qualquer tipo de pré-condição para orientar a decisão.

Este termo, assim considerado, é problemático para vários filósofos. Um deles, Spinoza, defende que a liberdade que acreditamos ter não deve ser reduzida à capacidade de decidir.

Isso porque podemos conhecer os motivos que guiam nossos desejos, mas não as causas que determinam a ação. Nesse sentido, o desejo ou o querer não pode ser a única causa de nossa liberdade, deve haver algo mais profundo.

Apesar dessa ressalva que Spinoza faz, filósofos antigos como Platão e Sócrates defendem a liberdade à sua maneira.

Chamo de livre o que existe e age simplesmente pela necessidade inerente à sua natureza; e chamo de forçado aquele cuja existência e ação são determinadas por outra coisa de maneira exata e fixa.

~ Spinoza ~

Concepção platônica de liberdade

Aristóteles não foi o único filósofo antigo que relacionou a liberdade com a natureza do indivíduo e seu papel social. Um artigo publicado na Revista Archai sustenta que a liberdade para Platão tem a ver com autocontrole e com a realização de desejos de acordo com o lugar social que ocupam na cidade.

Nesse sentido, Platão defende que a liberdade está no domínio racional de nossos desejos irracionais. Além disso, a verdadeira liberdade reside na realização racional dos desejos que nos correspondem, de acordo com o lugar que ocupamos na cidade.

Então, não faria sentido querer governar quando nosso papel é ser sapateiro. Lembremos que, para esse filósofo, a sociedade é dividida em classes que vêm por natureza. Ou seja, ocupamos o lugar que nos corresponde por dita natureza.

Concepção socrática de liberdade

O conceito de liberdade de Sócrates é semelhante ao de Platão, embora com uma diferença fundamental. A esse respeito, a Revista da Faculdade de Educação de Albacete sustenta em um ensaio que a liberdade para esse filósofo tem a ver com autocontrole e autarquia.

No autocontrole trata-se do sujeito se controlar e não se deixar levar pelos prazeres, impulsos ou necessidades corporais; exigindo grande conhecimento e controle pessoal.

Por sua vez, autarquia refere-se à autonomia: não precisamos de nada externo e superficial para viver. Assim seremos verdadeiramente livres, pois não temos necessidades vazias, fruto do nosso próprio autocontrole.

Determinismo e sua implicação na liberdade da filosofia

A Revista UNICA de Artes e Humanidades alega em artigo que nessa forma de conceber a liberdade existem causas, alheias a nós, que determinam nossas ações. Essa posição é alimentada pela física e sua abordagem de que existem leis pré-determinadas, independentes dos seres humanos.

Nesse sentido, não seríamos seres completamente livres porque há causas que nos precedem e determinam o curso da ação.

Essa perspectiva não se fundamenta apenas na física. A filosofia tem duas posições para considerar o mundo: a dualista e a monista. O dualismo se refere à divisão entre sujeito e mundo, ou seja, eu existo, mas também existe algo que não sou eu e funciona de acordo com suas próprias leis. Por outro lado, no monismo há uma unidade entre esses dois pólos separados, negando ou apagando os contrastes entre eles.

O determinismo, então, situa-se na posição monista: somos determinados por leis causais da natureza. Mas e quanto ao sujeito, será que ele não tem algo a contribuir para essa natureza determinística?

O Determinismo de Nietzsche

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche tem uma concepção particular de liberdade, não totalmente aderida ao determinismo, mas certamente nega o livre arbítrio. A Revista Veritas de Filosofia e Teologia compartilhou uma publicação indicando que, para Nietzsche, a sociedade é quem determina a norma geral da liberdade; fala-se de determinismo.

No entanto, o filósofo se opõe a essa determinação de liberdade imposta pela sociedade, pois impede o desenvolvimento da verdadeira liberdade do ser humano. Essa ideia ou noção significa para Nietzsche sermos nossos próprios criadores. Em outras palavras, ser livre é pensar e falar por nós mesmos e não pelas opiniões que os outros dizem.

Portanto, podemos dizer que para o filósofo alemão nossa liberdade social é restrita; enquanto o real reside em nós e não nos outros.

Então a liberdade é livre-arbítrio ou determinismo?

Não podemos estabelecê-lo claramente. Os filósofos continuam o debate e a questão, de modo que parece não ter fim. Porém, é possível resgatar de tudo o que foi dito que nossa liberdade é um fato.

Quer a consideremos de forma restrita por forças exteriores a nós, quer apostemos na capacidade de decidir o rumo das nossas ações, temos liberdade. As nuances são importantes, mas refletir sobre isso em uma sociedade que parece exigir cada vez mais de nós pode nos dar um pouco de tranquilidade.


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