O fogo da raiva nos consome, mas também queima os outros

O fogo da raiva nos consome, mas também queima os outros

Última atualização: 28 janeiro, 2017

Todos já vivemos situações que nos deixaram tão zangados que sentimos como se a raiva aumentasse sem poder ser remediada. Quem não notou como uma simples faísca acendia um fogo que se estendia por todo o nosso ser? O pior é que esta fúria incontrolável nos levou a dizer e fazer coisas das quais nos arrependemos profundamente mais tarde.

O fato é que não nos sentimos mal apenas por nós mesmos, mas também pelas pessoas que nos rodeiam. Acontece que muitas vezes machucamos os nossos entes queridos com a nossa raiva. Isso acontece inclusive quando não há relação com a causa da nossa irritação. Na verdade, essas pessoas muitas vezes recebem a nossa ira por tentarem nos acalmar.

O que é a raiva e quais são as implicações para aqueles que a sentem?

Vamos começar pelo princípio: o que é a raiva? A raiva é uma emoção que produz sentimentos desagradáveis para quem sofre dela. Ela faz com que o corpo passe de um estado de tranquilidade para um estado de grande ativação, para responder através da defesa ou do ataque.

Costumamos senti-la sobretudo em situações interpessoais, ou seja, quando estamos nos relacionando com outras pessoas. Se, em uma dessas situações, avaliamos que a pessoa está nos atrapalhando de forma injustificada e intencionada a atingir uma meta valiosa, surge a raiva.

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Neste momento, sentimos que os nossos interesses estão sendo ameaçados e que devemos agir para defendê-los. O fato é que a raiva geralmente começa com níveis relativamente baixos de desconforto. Mas se não gerirmos essa irritação inicial de forma eficaz, ela pode ir aumentando até explodir.

Já foi demonstrado que apresentar uma tendência elevada para responder com raiva em condições distintas influencia a saúde de forma notável. Em primeiro lugar, gera um conjunto de situações desagradáveis para quem a sente. Mas não é só isso, esse é também um indicador da presença de transtornos afetivos, como a depressão.

Além disso, é uma variável que se deve ter em conta no tratamento e na reabilitação de diversos problemas neuropsicológicos, como aqueles associados com o dano cerebral traumático ou com o alcoolismo, como demonstra um estudo da Universidade Camilo José Cela. Por outro lado, isso influencia vários problemas físicos. Alguns exemplos são os transtornos cardiovasculares, o câncer, as úlceras, o tabagismo, etc.

Quando sou invadido pela raiva, como as pessoas ao meu redor percebem isso?

A raiva influencia não só a nossa própria saúde, tanto física como mental, mas também tem consequências no nosso ambiente social. Olhando pelo outro ponto de vista, como nos sentimos quando alguém fica irritado e projeta sua ira em relação a nós?

A resposta pode variar em função de uma série de circunstâncias: se realmente somos nós os “culpados” justificados de sua raiva ou não; as estratégias que a outra pessoa utilizou para nos informar; se atuou de forma medianamente tranquila ou se, pelo contrário, desenvolveu condutas altamente agressivas em relação a nós. Estes, entre outros fatores, vão influenciar as interpretações que fazemos da situação e, em consequência, as emoções que irão aparecer.

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Com base nisso, temos que ter em mente que quanto mais descontrolada for a raiva e quando os comportamentos provocativos forem mais agressivos, o outro vai se sentir mais atacado. Isso vai fazer com que a pessoa também fique irritada e tenha dificuldade para se controlar. Todos nós podemos imaginar o resultado dessa situação, não é? Quem nunca teve uma discussão por uma razão que tanto você quanto a outra pessoa consideraria boba e que terminou em uma batalha com feridas sérias?

Esse tipo de situações pode gerar um número considerável de emoções negativas na outra pessoa. Começando pela tristeza, pode passar para a própria irritação, incompreensão ou impotência. Também pode gerar sentimentos de rejeição em relação à pessoa que reagiu assim conosco. De fato, se agirmos de maneira irritada com os outros de forma habitual, podemos fazer com que eles se afastem cada vez mais e com que fiquemos cada vez mais sós.

Existe relação entre a minha forma de ser e a raiva que sinto?

A raiva, além de uma emoção, pode ser encarada como uma tendência estável para agir com irritação em diferentes situações. Ela pode fazer parte da nossa forma de ser. Isso quer dizer que há pessoas cuja forma de ser é mais colérica do que a de outras pessoas. Estes indivíduos respondem com maiores níveis de raiva diante de um maior número de condições e com uma maior ativação do corpo.

São observadas semelhanças com as pessoas com baixa predisposição à irritabilidade em relação ao tipo de situação que lhes gera raiva. No entanto, as diferenças estão no fato de que reagem com uma maior intensidade e com maior frequência com raiva em sua vida diária perante condições de perturbação.

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Foi descoberto que certas características da personalidade influenciam no processo de aparição da raiva:

  • Hostilidade. A pessoa hostil apresenta atitudes negativas para e com os outros, tendo uma tendência maior a experimentar raiva e a responder com comportamentos agressivos com o objetivo de machucar os outros.
  • Extroversão. As pessoas introvertidas informam que sentem mais raiva do que as extrovertidas.
  • Neuroticismo. Este conceito se refere à instabilidade emocional que a pessoa pode apresentar. Estas pessoas com um maior neuroticismo experimentam mais frequentemente sentimentos de raiva. Elas também têm uma maior tendência a responder de forma agressiva.
  • Autoestima e narcisismo. Os indivíduos que têm uma autoestima mais baixa, combinada com uma personalidade narcisista, são mais propensos a responder de forma irascível. Além disso, eles apresentam um menor controle na hora de expressar essa emoção.

Como vimos, a raiva prolongada tem muitas implicações negativas na nossa vida. Isso faz com que seja importante controlá-la quando sai a primeira faísca, já que, uma vez que o fogo for espalhado, será mais difícil contê-lo.

Por outro lado, uma vez que o fogo tiver desaparecido e baixarmos de novo nosso nível de ativação, pode surgir uma gama de emoções negativas. Então nos damos conta das consequências das condutas que realizamos, assim como do dano que infringimos aos nossos entes queridos. Pense que se você enfrentar a raiva quando ela for pequena, se não deixar que ela se misture com o ego ou o orgulho, depois não vai ter que curar as feridas grandes e profundas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.