4 formas sutis de abuso psicológico

O perigo nas formas sutis de abuso psicológico é a sua própria natureza. No início, geralmente passam despercebidas: só aparecem quando já causaram danos profundos à vítima. Portanto, a melhor forma de prevenção é a informação.
4 formas sutis de abuso psicológico
Angela C. Tobias

Escrito e verificado por a psicóloga Angela C. Tobias.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

As formas sutis de abuso são muito perigosas devido à complexidade da sua identificação. Esses comportamentos aparentemente inofensivos enfraquecem gradualmente as vítimas, criando consequências psicológicas importantes. Mas como são essas formas sutis de abuso e em que elas consistem?

Neste artigo, explicaremos quatro formas sutis de abuso que podem ocorrer em contextos familiares ou de relacionamento. Além disso, falaremos sobre os indícios que podem nos ajudar a identificá-las, prestando uma especial atenção às consequências que têm nas vítimas.

Formas sutis de abuso

É comum que, quando se fala em abuso físico, seja feita referência às formas mais óbvias de identificação. Pelo contrário, as formas sutis de abuso psicológico se caracterizam por serem veladas, ambíguas e passíveis de uma interpretação mais generosa em relação aos interesses do agressor.

Pesquisas indicam que as formas sutis de abuso são muito mais comuns do que outras que deixam sinais mais óbvios, como o abuso físico. No entanto, o dano causado por essas formas sutis de abuso pode ser mais profundo a longo prazo.

Formas sutis de abuso psicológico

A dificuldade em identificar a agressão, os sentimentos reprimidos e o silêncio que elas produzem fazem com que a intervenção venha mais tarde e, portanto, é mais complicado sair da situação ou revertê-la.

As formas sutis de abuso podem parecer comentários ou comportamentos aparentemente inofensivos. Algumas das maneiras pelas quais aparecem são difamação, humilhação, formas de chantagem ou controle. Esse tipo de agressão pode ocorrer em diferentes contextos, como dentro de uma relação amorosa, entre pais e filhos, ou até mesmo em outros tipos de vínculo, como a amizade.

Por outro lado, essas formas sutis de abuso são caracterizadas por gerar sentimentos e sensações muito específicos na vítima. Geralmente, fazem com que a vítima se sinta indigna de ser amada, culpada por todas as situações ou fortemente desconfiada.

1. A lei do gelo

A chamada “lei do gelo” ou “lei do silêncio” é uma das formas sutis de abuso. É caracterizada por realizar ações que visam ignorar a vítima, como lhe retirar a palavra por um tempo ou fingir que ela não é ouvida ou vista. Isso é uma chantagem em relação à vítima, que não se livrará dessa indiferença até que se curve aos desejos do outro.

A lei do gelo revela a imaturidade emocional do agressor e a falta de habilidade de comunicação. As consequências para a vítima podem ser extremamente prejudiciais. Ser ignorado leva a sentimentos de medo, tristeza, raiva e, acima de tudo, muita angústia. A vítima se culpa pela situação, por não entender por que está sendo tratada dessa forma.

2. Gaslighting

Cunhado como gaslighting por Hollywood, esta é uma das formas mais sutis de abuso. É caracterizada pelo esforço do agressor em fazer a vítima duvidar dos seus próprios critérios, julgamentos ou até mesmo da sua própria percepção ou memória. 

Nessa forma de chantagem, o agressor se refere à vítima imaginando ou exagerando certas situações vivenciadas, consciente ou inconscientemente. Assim, em uma discussão, a vítima deixará de expor sua posição quando uma dúvida surgir dentro dela se a experiência não for realmente o que ela pensava ou se lembrava. Situação que, repetida ao longo do tempo, acaba com a confiança da vítima, deixando-a em situação de extrema vulnerabilidade diante do agressor.

As consequências dessas formas sutis de abuso passam por fortes sentimentos de dependência, sentimentos de despersonalização e perda de controle. Vítimas de gaslighting frequentemente relatam ter a sensação de enlouquecer ou perder o controle das suas vidas.

3. A superproteção

A superproteção não tem nada a ver com proteção, muito pelo contrário. Nessas formas sutis de abuso, o atendimento prestado tem efeitos limitantes nas vítimas. Em outras palavras, essa proteção é prejudicial para a autonomia da vítima, e é uma forma negligente de parentalidade.

A superproteção assume muitas formas, desde a baixa capacidade de estabelecer limites claros, o veto às próprias iniciativas ou a prevenção de qualquer tipo de frustração a todo custo. As consequências dessas ações geram na vítima sentimentos de medo, dependência e baixa tolerância à frustração que a limitam em seu cotidiano.

4. O conflito de lealdade

O conflito de lealdade é uma das formas sutis de abuso que, embora possa ocorrer em vários contextos, geralmente está relacionada à separação de casais com filhos. No conflito de lealdade, os pais separados lutam para que o filho se posicione incondicionalmente com um deles, sem esquecer que lealdade a um implica deslealdade a outro.

É comum os pais desvalorizarem a figura do outro na frente dos filhos, colocar o filho no papel de juiz ou fazê-lo se sentir culpado por gostar do outro pai.

As consequências desse tipo de abuso em crianças estão associadas a sintomas de ansiedade, somatizações, e podem comprometer seriamente a sua estabilidade emocional.

Pai acalmando o filho

Formas sutis de abuso: as pequenas feridas

As formas sutis de abuso são caracterizadas por ser ambíguas. No entanto, são mais comuns do que outros tipos de abuso mais notórios, e podem ter efeitos muito prejudiciais para as vítimas a longo prazo. Essas condições podem agravar o prognóstico das vítimas.

A chamada lei do silêncio se baseia em comportamentos que visam ignorar a vítima para conseguir algum tipo de mudança em seu comportamento. Da mesma forma, o gaslighting ataca diretamente a confiança que a pessoa deposita em seus critérios. Essas formas sutis de abuso, comuns em um contexto de relacionamento, causam medo, raiva e angústia nas vítimas.

A superproteção e o que é conhecido como conflito de lealdade são mais comuns em contextos familiares, de pais para filhos. Os pais criam comportamentos de proteção que limitam a autonomia dos filhos e os colocam como desamparados. No conflito de lealdade, ambos os pais pressionam os filhos para que estes escolham um ou outro progenitor.

As formas sutis de abuso desgastam as vítimas. Ou seja, a reprodução de pequenas ações que, por si só, não provocariam maiores danos acaba, ao ser mantida ao longo do tempo, causando feridas profundas.

São fórmulas corrosivas cujo maior perigo reside na dificuldade de identificá-las. Portanto, a informação é uma das variáveis ​​mais importantes nos planos de prevenção psicológica.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.