Freud e outros ateus que mudaram o mundo

Freud e outros ateus que mudaram o mundo

Última atualização: 28 março, 2017

A relação do homem com Deus ou a ausência total da mesma tem sido uma questão que gerou grande parte dos mais belos relatos ou das mais amargas polêmicas desde a antiguidade. Normalmente os indivíduos costumam se denominar ateus, agnósticos ou crentes se questionados sobre a ideia de Deus.

Esta ideia tem sido definida e estendida pela maioria das religiões monoteístas do mundo, tem impactado milhões de pessoas, e em torno dela se organiza um grande número de sociedades. Às vezes o ceticismo com relação aos elementos religiosos vai mais além, e não apenas nega-se esta idade de divindade, como também outras de perfil intuitivo ou energético, tais como a Lei do Karma e a Lei da Atração.

Esta crença não torna a sua vida melhor ou pior

Poderíamos dizer que muito além de terem recebido uma educação religiosa ou não, existem pessoas “descrentes” e outras que não são, assim como afirmava o grande ator Fernando Fernán Gómez. O que é fato é que esta crença, em si mesma, não torna a sua vida melhor ou pior, pois são outras variáveis que determinam as nossas histórias e nossos relacionamentos.

Apesar disto, uma experiência recente criada por Jean Decety, neurocientista e psicólogo da Universidade de Chicago, com crianças entre 5 e 12 anos em seis países de culturas muito diferentes (Canadá, EUA, Jordânia, Turquia, África do Sul e China), descobriu que as crianças que não recebiam valores religiosos na sua família eram mais generosas quando se tratava de compartilhar os seus tesouros com outras crianças desconhecidas. Minimamente curioso.

“O meu ateísmo se acende quando a crença privada se transforma em um assunto público e quando, em nome de uma patologia mental pessoal, se organiza o mundo também para o próximo. Porque da angústia pessoal à manipulação do corpo e da alma do outro existe um mundo no qual fervem, intocados, os aproveitadores dessa miséria espiritual e mental.”
-Michel Onfray-

Sem analisar com profundidade o que é mais adequado acreditar ou não, pois não existe resposta clara para isso, não deixa de ser interessante conhecer como ao longo da história diversos personagens se autodenominaram ateus e o fizeram com firmeza e convicção, mesmo correndo o risco de sofrer represálias. Simplesmente expressaram suas crenças com liberdade e a sua forma de perceber os relacionamentos humanos e sociais a partir de uma ótica radicalmente diferente.

Vejamos alguns dos ateus mais famosos e controversos:

Ateus que mudaram o mundo

Ayn Rand

Muitas vezes relacionamos o pensamento marxista com a forma mais antagônica de entender a sociedade com relação a que é proposta pela religião. A criadora do “objetivismo” se opõe a ambas as posturas, defendendo que para qualquer pessoa que aspire ser alguém diferente, ideias como a religião e o comunismo são nefastas.

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“Realmente, se quero resumir a minha atitude quanto a questão de Deus, é esta: de tudo que sei, a definição de Deus é ‘o que a mente humana não consegue entender’. Sendo uma racionalista, de mente literária e crendo que é uma obrigação moral acreditar verdadeiramente no que a própria pessoa diz, pego literalmente a palavra dos que adotam esta definição, concordo com eles e os obedeço: não os entendo.”
-Ayn Rand-

Ayn Rand expõe uma filosofia neoliberal agnóstica que tem sido muito bem aceita por alguns círculos intelectuais e artísticos, que consideravam que esta ideologia individualista não pudesse ser explicada de forma mais profunda. Embora ela mesma tenha caído em contradições ao longo da sua vida em algumas das questões sociais e políticas, o que sempre sustentou foi o seu ateísmo até a morte.

Albert Einstein

Se existe uma personalidade questionada a respeito de se sustentava ou não a ideia de Deus, é este cientista super conhecido e autor da Teoria da Relatividade. Einstein era um ateu convicto, embora na verdade se declarasse agnóstico publicamente, tentando evitar inimizades acadêmicas.

Não lhe interessava para nada a religião, e para ele o conceito de Deus não era uma coisa central nem na sua teoria, nem na sua vida, conforme explicou em uma das suas declarações respondendo ao enorme interesse em conhecer a sua opinião sobre esta questão.

Einstein explicou que para ele, se Deus existisse, seria muito parecido ao que descreveu Spinoza: um Deus extensivo e sem natureza dualista que contradiz totalmente a ideia convencional e aceita pela maioria das pessoas que seguem uma religião monoteísta.

Hipatia de Alexandria

Hipatia foi provavelmente a filósofa mais importante da antiguidade, junto com Aspasia e Hiparquia. A sua figura ficou relegada ao ostracismo por causa da ocultação da sua enorme influência na história de diferentes ciências que ainda estavam nascendo. Foi a sua condição de mulher e agnóstica que provocou tal fato.

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Não foi uma pessoa comprometida com os acontecimentos religiosos que se deram na sua cidade e que seriam os que derivariam em seu terrível assassinato por parte de uma hierarquia religiosa. Uma hierarquia que via nos seus conhecimentos sobre matemática, astronomia ou filosofia um inimigo que temiam. Infelizmente, a sua morte foi um prelúdio do controle religioso que existiu na Idade Média.

Karl Marx

Karl Marx foi um intelectual alemão de origem judaica que, junto com Friedrich Engels, fundou o socialismo científico, o comunismo moderno, o marxismo e o materialismo histórico. A obra desse pensador é impossível de ser sintetizada, mas o que é óbvio é que rejeitava de frente a ideia de Deus, a religião e a existência de classes sociais.

“Assim como na religião o homem é dominado pelo produto da sua própria cabeça, na produção capitalista é dominado pelo produto da sua própria mão.”
-Karl Marx-

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Embora, a priori, estas ideias não pareçam ter relação, no seu desenvolvimento encontram a sua lógica e perfeita coerência: uma sociedade, para ser mais livre, precisa procurar ser o mais igualitária e justa possível, algo que se alcança mediante a ação e a razão social. Se abandonamos essa razão e nos entregamos a ideais como os de Deus ou do dinheiro como forma de solucionar os problemas, a sociedade e a sua organização ficam à deriva.

Sigmund Freud

Atualmente, no mundo da psicologia, a figura de Sigmund Freud é venerada e odiada em partes iguais. Algumas poucas pessoas adotam uma atitude intermediária sobre este polêmico neurologista e reconhecem o trabalho que realizou na sua época, mas pensam que seu peso na atual psiquiatria é totalmente desproporcional, considerando que apenas uma ínfima parte da sua teoria encontrou respaldo cientifico.

“Seria muito simpático que existisse um Deus, que tivesse criado o mundo e fosse uma benevolente providência; que existisse uma ordem moral no universo e uma vida futura, mas é um fato muito surpreendente que tudo isso seja exatamente o que nós nos sentimos obrigados a desejar que existisse.”
-Sigmund Freud-

Sendo assim, poderíamos definir a Freud como um apaixonado do estudo do ser humano, alguém em permanente busca do porquê do complexo comportamento dos adultos, obstinado em dar uma explicação global e bela a nosso plano mais íntimo e subjetivo.

Nesse âmbito subjetivo, para Freud a ideia de Deus não tinha sentido algum para explicar as complexas relações humanas, e supunha um retrocesso na maturidade e no compromisso de cada um dos indivíduos.


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