Geofagia: você sabe do que se trata?

Geofagia: você sabe do que se trata?
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Geofagia é o hábito de consumir barro cozido. A ingestão deste barro é realizada em pequenos pedaços ou triturado em pó. Embora haja documentação sobre o consumo de barro em outros países desde o século X, na Espanha este estilo é muito mais posterior, tornando-se moda entre as senhoras da corte do século XVII.

A historiadora Natacha Seseña, especializada no campo etnográfico da cerâmica, aponta que este hábito chegou à Espanha através dos mouriscos. O barro, de cor vermelho intenso, era cozido e moldado em pequenos vasos ou recipientes que as senhoras enchiam de água perfumada e, depois de consumir o conteúdo, ingeriam o vaso. Essas “iguarias” eram importadas de outros países, como Portugal ou México.

A prática medicinal de comer argila existe desde os tempos antigos, mas a ingestão de vasos (recipientes de barro cozido) em pequenos pedaços ou em pó é um assunto peculiar.

Registros documentais sobre a geofagia

As referências ao consumo de vasos e suas propriedades são contínuas em todas as artes, especialmente na literatura:

  • “Menina de cor quebrada, ou você tem amor ou você come barro” de Góngora.
  • O que você traz nessa bolsa?… Alguns pedaços de vaso que minha senhora come; você pode comê-los, que eles têm âmbar” da obra La Dorotea por Lope de Vega.
  • “Para Amarili que tinha alguns pedaços de vaso na boca e estava muito perto de comê-los” de Quevedo.
Argila

Na pintura, a referência mais significativa é encontrada no quadro de “Las Meninas” de Velázquez. Mostra como é oferecido ao bebê Margarita um vaso que repousa sobre uma bandeja fina, possivelmente para se refrescar, respondendo justamente ao modelo que na época se destinava à geofagia. Sendo conhecedores do assunto, alguns estudiosos interpretam a palidez do rosto do bebê com um comportamento habitual do consumo de barro cozido.

Qual é o propósito buscado consumindo esses vasos de barro cozido?

Na Espanha do Século de Ouro, o protótipo da beleza exigia manter um tom esbranquiçado da pele, com um aspecto quase doentio; a ingestão de barro cozido causa clorose com a consequente redução de hemácias no sangue e, consequentemente, esse aspecto de palidez intensa.

Outra propriedade atribuída à ingestão deste barro cerâmico foi a sua utilização como método contraceptivo, já que a obstrução ou opilação intestinal, diminui ou faz desaparecer o fluxo menstrual. Os efeitos alucinógenos e narcóticos dos vários componentes dos vasos provocavam nas mulheres da época uma dependência dessas substâncias, sendo muito difícil abandonar esse hábito de consumo.

A geofagia ainda existe no século XXI?

Embora a geofagia, que significa o consumo de pequenos vasos de barro, tenha sido diluída com tempo, como tantas outras modas, podemos dizer que hoje em dia o consumo de argila voltou a ser tendência, sendo administrado tanto por via interna, isto é, por ingestão oral, ou externamente, na forma de cataplasma.

Argila em pó

Podemos encontrá-la no mercado triturada em pó e livre de impurezas e areia (porque se a argila não for tratada previamente para consumo, pode conter elementos como chumbo ou arsênico, muito prejudiciais à nossa saúde). Assim, existem opiniões muito diferentes entre os defensores e detratores do consumo de argila em nossa sociedade:

  • Os psicólogos classificam o consumo de argila como um tipo de “transtorno alimentar viciante”, no qual há um desejo irresistível de comer substâncias não nutritivas.
  • Os médicos alertam sobre o perigo de consumir argila e rotulam-no como uma “moda passageira” sem uma explicação científica comprovada. Embora seja verdade que em alguns países tropicais e africanos o consumo de argilas é comum devido à carência de algum mineral, em uma dieta saudável e balanceada pode causar danos irreversíveis ao organismo.
  • As atrizes, blogueiras ou celebridades em geral declaram seu “vício” no consumo de barro e argila e expõem nas redes sociais os benefícios do mesmo, atribuindo incríveis propriedades terapêuticas, afirmando, por exemplo, que ajuda a desintoxicar o corpo, favorece a perda de peso e combate a anemia.

Seja como for, o debate está servido. O consumo de argila é benéfico ou prejudicial? É saudável ou causa dependência? Culto ao corpo ou espetáculo em meios de comunicação social? Se lhe interessa esta nova tendência, é melhor consultar o seu médico antes de consumir argila descontroladamente, evitando assim causar problemas de saúde em seu organismo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.