Georg Wilhelm Friedrich Hegel: a biografia de um filósofo idealista

Após a morte de Hegel, seus seguidores se dividiram em duas áreas opostas: os hegelianos de direita e os de esquerda, como Karl Marx.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel: a biografia de um filósofo idealista
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um divisor de águas dentro do pensamento filosófico na Europa ocidental e também na Rússia do século XIX. Foi um grande admirador de Platão, Descartes e Kant, e o idealismo alemão adquiriu sua máxima expressão nesse pensador. O que é mais interessante é que ocorreu um grande avanço na teoria da evolução da consciência graças a ele.

Se há algo que a maioria de nós sabe é que ler Hegel não é algo simples. Seu livro mais conhecido, Fenomenologia do Espírito (1807), é uma amostra desse legado intelectual denso mas também determinante dentro do que conhecemos como a dialética histórica.

Ainda assim, cabe assinalar que são muitos os que viram em suas teses – como por exemplo na sua definição de Estado – as bases dos pensamentos mais radicais que serviram de inspiração para o nacionalismo alemão. O próprio Hitler, por exemplo, viu certa justificativa na filosofia hegeliana para suas ideias ao ler frases como “só o mundo germânico, como encarnação do verdadeiro cristianismo, representa a autêntica liberdade”.

Não obstante, Friedrich Hegel foi muito mais que esse tipo de enunciado isolado. Seu pensamento foi como um pavio responsável por iluminar e gerar um sem fim de reações teóricas e filosóficas. Inspirou o materialismo marxista, assentou as bases do preexistencialismo de Søren Kierkegaard, o conceito metafísico de Friedrich Nietzsche e inclusive a dialética negativa de Theodor W. Adorno.

Hegel foi, em essência, um filósofo que nos convidou a pensar que entre nós mesmos e o mundo não há barreiras, que somos criadores da nossa verdade. Introduziu também o conceito da dialética para nos explicar que a história e nosso próprio pensamento são o resultado do movimento contínuo entre soluções e contradições.

“A independência do homem consiste nisso: em saber o que o determina”.
-Georg Wilhelm Friedrich Hegel-

A vida de um acadêmico admirado por seus alunos

Hegel na biblioteca

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, em 27 de agosto de 1770. De família protestante e com uma boa condição, desde sempre esteve rodeado do ambiente cultural mais avançado da Alemanha do século XIX. Desenvolveu diversas amizades com referências da época, como o filósofo Friedrich von Schelling e o poeta Friedrich Hölderlin. Além disso, desde muito cedo, foi sempre um ávido admirador das obras de Immanuel Kant e Schiller.

Estudou filosofia e teologia na Universidade de Tubinga e, depois de receber uma herança após a morte de seu pai, pôde se dedicar plenamente e com tranquilidade ao mundo acadêmico. Após apresentar sua tese “Órbitas planetárias”, não tardou muito em obter um posto como catedrático, podendo assim aprofundar-se também em uma ampla área de saberes como a matemática, a lógica e o direito.

Em 1807 publicaria o livro a Fenomenologia do Espírito, no qual se aprofundou em aspectos como o sentido da consciência, a percepção e o conhecimento. Nessa obra ele enfatizou a única coisa que para ele era verdadeira, que não é outra além da razão. Depois que esse trabalho teve grande repercussão, não tardou em ser chamado por outras universidades para formar outros alunos em Heidelberg e Berlim. 

Friedrich Hegel, dias de êxito e cólera

Hegel dando aula para alunos

Suas aulas eram famosas em toda a Europa. Seus alunos diziam que ele era capaz de dar uma resposta e um sentido profundo a quase qualquer coisa. Que sua mente era a de um titã do conhecimento e que Hegel devia ser como o próprio Platão na Grécia Antiga.

Sua análise sobre filosofia do direito e o sistema estatal fez com que diversos grupos desejassem estudar suas diferentes teorias, dissertações e pontos de vista. A elite cultural e a classe política da época viram nele uma referência para aprender e se inspirar em algum sentido, como Karl Marx fez quando chegou o momento. Não obstante, ele não chegou a ver todo o impacto de sua obra.

Friedrich Hegel faleceu em 14 de novembro de 1831, de cólera. Foram os seus alunos que se encarregaram de divulgar seus escritos e anotações em todas as áreas do saber nas quais ele havia se aprofundado: história, religião, estética…

“O homem que não é capaz de lutar pela liberdade não é um homem, é um servo”.
-Georg Wilhelm Friedrich Hegel-

A filosofia de Friedrich Hegel

Hegel era conhecido, sobretudo, por introduzir a história na filosofia. Até esse momento, os discursos filosóficos partiam de um vazio, de uma enteléquia onde alcançar o sentido da verdade andava separado das referências dos acontecimentos sociais.

Nesse contexto, fatos como a Revolução Francesa foram os que mais marcaram o discurso de Hegel, assim como essa mudança na mentalidade que reinava na Europa na época. Conceitos como a liberdade adquiriram enfim uma grande fama, e Friedrich Hegel foi decisivo como um porta-voz desse pensamento.

Vejamos agora os conceitos mais relevantes do seu legado filosófico.

O idealismo

Homem com uma nuvem no lugar da cabeça

Quando alguém fala de Hegel, é comum definir seu pensamento como a essência do idealismo alemão. O que, no entanto, isso realmente significa? O idealismo é uma teoria filosófica que defende o seguinte:

  • As ideias são a coisa mais importante e elas podem existir de maneira independente.
  • Aquilo que nos rodeia não existiria se alguém não o percebesse e não fosse consciente dele.
  • Para Hegel o mundo é belo, é metafisicamente perfeito, porque a própria beleza simboliza a razão.

Desse modo, e dentro desse ponto de vista, defendia-se frequentemente que a felicidade não devia ser a meta principal do ser humano. O mais importante é o conhecimento e a razão.

A dialética

Hegel definia a razão como um processo dialético. Alguém pode afirmar um fato e negá-lo logo em seguida, para mais tarde superar essa contradição. Desse modo, o movimento dialético teria para ele os seguintes passos:

  • Tese: afirmação de uma ideia.
  • Antítese: a negação da própria tese.
  • Síntese: superar a contradição formulada.

A liberdade

Hegel opinava que a autêntica liberdade devia partir de uma base específica: o próprio Estado. É só a partir desse cenário basal que a própria pessoa pode se sentir realizada e adquirir, por sua vez, um sentido autêntico de dignidade. Ou seja, o ser humano necessita de um marco legal ao qual pode se submeter.

Além disso, dentro desse esquema hegeliano, é mediante o cristianismo que a pessoa pode adquirir a autêntica liberdade. Como bem podemos supor, essas ideias marcaram, mais tarde, outras correntes de maneiras diferentes.

A lógica

Se estamos falando de filosofia, é essencial aprofundar-se também na área da lógica. E dentro dela é obrigatório compreender a tese mais famosa de Hegel: a contradição. Dessa forma, e segundo esse princípio, uma coisa é ela mesma e não é ao mesmo tempo.

Ou seja, todos mudamos, todos nos transformamos e passamos de um momento para outra realidade como resultado da própria vida, da mudança. A vida é uma contradição constante.

A estética

Quadro de Kaspar

Hegel definiu uma interessante distinção entre o belo natural e o belo artístico. O primeiro faz referência ao mais maravilhoso, porque é autêntico, é livre e representa o espírito natural das coisas. O segundo, a beleza artística, é criado pelo próprio espírito e é o que nos permite, por sua vez, uma pesquisa estética para adquirir conhecimento.

Friedrich Hegel é hoje em dia uma das referências mais notáveis da filosofia. É admirado por muitos e visto com incômodo por outros. Talvez por seu conceito de Estado e do idealismo alemão, ou pelo eurocentrismo. Também há quem o veja com uma certa reticência pela complexidade de seus textos.

Não obstante, suas ideias marcaram um momento muito importante da Europa. Hoje em dia livros como a Fenomenologia do Espírito seguem sendo uma leitura quase obrigatória.


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