Gosto de fazer pausas e me limitar apenas a sentir

Gosto de fazer pausas e me limitar apenas a sentir
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Fazer pausas, nossos parênteses de solidão, silêncio e desconexão sensorial são vitaminas reais para nossos corações e cérebros. É uma forma de reiniciar, de tomar consciência de outros tipos de percepções mais profundas: aquelas que surgem de nosso interior e que nos permitem restaurar o equilíbrio, a harmonia mental e o bem-estar com nós mesmos.

Hoje vamos refletir sobre o conceito de “pausas”. Como as definiríamos? Se perguntássemos a qualquer pessoa, ela provavelmente nos dirá que, durante o dia, faz inúmeras interrupções em sua rotina. Ela as realiza quando anda de trem ou ônibus e aproveita para ler, quando sai do trabalho para comer e retorna depois de meia hora ou uma hora, ou quando vai para a academia.

“O começo da sabedoria é o silêncio.”
-Pitágoras-

Agora, esses exemplos são um autêntico reflexo do que devemos considerar como “pausas”? A resposta é não. De fato, essas situações poderiam entrar dentro do que hoje se conhece como “pausas ativas”, isto é, atividades em que, apesar de não estar se realizando uma tarefa de trabalho, geramos uma série de movimentos e dinâmicas em que mente e corpo estão “ativos”.

As pausas reais são aquelas em que estabelecemos uma desconexão real com nossos ambientes, com nossas obrigações e, mais ainda, com o fluxo opressivo de nossos pensamentos. São momentos em que presenteamos a nós mesmos: neles não há pressões nem ruídos ou conversas para manter sem vontade, não há espera nem exigências ou tarefas a cumprir, nenhum mundo para agradar

Fazer pausas e tomar um café

Por que é tão difícil fazer pausas verdadeiras em nosso dia a dia

Temos que admitir que, para muitos de nós, fazer pausas é sinônimo de não fazer nada, e não fazer nada é pouco mais do que um sacrilégio no meio desta sociedade onde o tempo é “ouro”, isto é, “dinheiro”. Reduzir a velocidade, parar as engrenagens do tempo e optar por dedicar uma hora a nós mesmos não é um objetivo fácil de cumprir. Assim, algo tão simples como fechar as portas para o que os outros esperam de nós, para nos limitarmos apenas a “ser e estar”, não é uma tarefa com a qual estamos acostumados.

Fomos convencidos de que as pausas são um privilégio, não um direito. Isso foi o que alguém nos disse uma vez e isso também é o que continuamos a transmitir às gerações atuais. Vemos isso todos os dias, quando nossos filhos chegam da escola, temos que olhar suas agendas: eles estão cheios de tarefas para cumprir. No entanto, antes disso, eles devem ir para suas aulas extracurriculares, ao inglês, à música, ao basquete, às aulas de apoio para matemática e, talvez, ao psicopedagogo para tratar sua dislexia ou sua hiperatividade.

As pausas para brincar ou simplesmente para não fazer nada já são um privilégio no mundo infantil. Eles as acessam apenas quando se comportam bem, se cumprirem suas tarefas com adiantamento. Tudo isso é razoável, é claro, porque cada um de nós tem nossas obrigações; no entanto, não é difícil ver, ao chegar à idade adulta, como somos incapazes de desfrutar de autênticas pausas…

Homem cansado no trabalho

É difícil nos convencermos de que sim, são nosso direito, de que colocar o resto do mundo no modo de espera para nos reencontrarmos não é uma ofensa, nem um sacrilégio, na verdade é um sinônimo de saúde. No entanto, uma grande parte da população ainda possui esse tipo de dificuldade na hora de fazer pausas:

  • Sentimento de culpa. “O que esse amigo ou familiar irá pensar de mim se eu disser que não, que prefiro estar sozinho?”
  • A prioridade é atender às expectativas dos outros.
  • Pensamentos distorcidos ou disfuncionais: as pausas são sinônimo de não fazer nada, de ser preguiçoso…
  • Dar a sua própria saúde como certa. Nos dizemos que tudo vai indo bem, que não precisamos descansar, que podemos dar mais de nós mesmos, quando na verdade estamos queimando todos os nossos recursos e nossa própria saúde.

Sim a fazer pausas diárias de uma hora

Daniel Goleman disse em seu livro “Focus” que a habilidade de fazer uma pausa é vital para recuperar o controle de nossa atenção. Só então deixamos de agir por impulsos e de forma automática, como se não fôssemos donos de nossas próprias vidas. Dar o passo, assumir esta chave de saúde, também tem muito mais benefícios do que podemos acreditar.

Vamos ver alguns a seguir:

  • Nosso córtex pré-frontal lateral é ativado com maior intensidade. Quando conseguimos dedicar a nós mesmos entre meia hora ou uma hora de relaxamento, essa parte do cérebro irá nos ajudará a ver as coisas a partir de uma perspectiva mais racional, lógica e equilibrada.
  • É uma área que também está envolvida na modulação de respostas emocionais, como o medo ou a ansiedade. Além disso, o fluxo de pensamentos automáticos é reduzido para nos ajudar a estarmos mais presentes.
  • Por sua vez, também poderemos melhorar outra estrutura cerebral muito valiosa: o córtex pré-frontal medial. É uma parte do cérebro que os neurologistas definem como o “centro do eu” … É aqui onde se processa toda a informação relacionada ao nosso estado físico e emocional, para refletir sobre nossos relacionamentos, nossa felicidade, o que gostamos ou o que não gostamos…
Homem meditando diante de cérebro no céu

Para concluir, fazer pausas todos os dias, colocar o telefone em silêncio, dizer aos outros que você vai dedicar um tempo para si e que por um momento você escolheu apenas ser e sentir, não fará de você uma pessoa menos válida ou produtiva. Pelo contrário, você estará ganhando em saúde, em crescimento pessoal, em força emocional.

Afinal, a vida e a natureza também tomam seus tempos, suas pausas, as nuvens também ficam silenciosas, os mares têm seus momentos de calma, e a Lua seus momentos de observação e reflexão…


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.