Herbert Spencer: biografia e obra

Herbert Spencer foi o pai do darwinismo social e um autor muito influente na psicologia da época. Conheça a vida e obra deste autor controverso.
Herbert Spencer: biografia e obra
Bernardo Peña Herrera

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña Herrera.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

O britânico Herbert Spencer foi um dos maiores pensadores do seu tempo. Filósofo, psicólogo, sociólogo e naturista, foi a figura mais destacada do evolucionismo filosófico e do positivismo na sua época. Portanto, não é de surpreender que as fontes de muitas de suas ideias sejam provenientes de Lamarck e Darwin.

Herbert Spencer aplicou as leis evolucionistas à filosofia e à sociedade. No entanto, essas aplicações darwinistas justificavam a dominação de alguns povos sobre outros, bem como a supremacia de uma raça humana sobre outra.

Essas ideias penetrariam profundamente no Ocidente durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Isso se reflete, principalmente, no sucesso do seu trabalho. Spencer foi um autor que chamou a atenção de inúmeros pensadores de áreas muito diversas.

Alguns autores se dedicaram ao debate, se inspiraram em suas ideias ou o citaram como influência. Nomes como Émile Durkheim, George Edward Moore ou Thomas Hill Green têm sido frequentemente associados à figura de Spencer. Sem dúvida, um autor muito prolífico, embora muito polêmico.

Óculos sobre livros antigos

Biografia de Herbert Spencer

Herbert Spencer nasceu em uma família humilde em 1820 na cidade de Derby (Inglaterra) e morreu em 1903 em Brighton (Inglaterra). Embora ele tenha ido para a escola cedo, não aprendeu a ler até os sete anos de idade. Em sua adolescência, estudou ciências, mas nunca se destacou como um ótimo aluno.

De um modo totalmente autodidata, se formou engenheiro e trabalhou no setor ferroviário entre 1837 e 1846. Durante todos estes anos, continuou os seus estudos por conta própria e publicou alguns livros sobre ciência e política. Anos depois, em 1848, conseguiu um emprego como editor na revista The Economist.

Sua obras

Essa mudança significou o fim de sua carreira como engenheiro e o início do seu trabalho como escritor e filósofo. Em 1851, ele publicou o seu primeiro livro, Social Statics Economist, no qual previu que a humanidade se adaptaria a viver em sociedade sem precisar de um Estado.

Spencer costumava ir a reuniões e encontros frequentados por vários pensadores contemporâneos. Como resultado dessas reuniões, ocorreu o seu primeiro contato com alguns autores positivistas. A partir deste contato, escreveu Princípios da Psicologia em 1855, uma publicação na qual ele argumentava que a mente humana era governada por leis naturais e que elas poderiam ser explicadas por meio da fisiologia e da biologia.

Anos depois, publicou o System of Synthetic Philosophy. Com esta obra, ele pretendia demonstrar que os princípios da evolução se aplicavam tanto à filosofia quanto à psicologia e sociologia. Foi um trabalho gigantesco, composto por mais de 10 volumes, e levou 20 anos para ser concluído.

Não é comum que obras filosóficas alcancem grandes vendas. Talvez possam alcançá-las com o passar do tempo, mas é estranho encontrá-las entre as primeiras posições, pois o habitual é que as maiores vendas do mundo editorial estejam ligadas à literatura.

No entanto, Herbert Spencer se destacou como um pensador cuja influência era imensa, chegando a vender mais de um milhão de cópias dos seus livros em vida. Ele foi até indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1902.

Herbert Spencer e a psicologia

Herbert Spencer escreveu a sua obra antes de Darwin. Portanto, ele integrou o associacionismo e a fisiologia com a teoria da evolução lamarckiana. Dessa forma, Spencer se antecipou em décadas à psicologia da adaptação. Ele conceituava o desenvolvimento como o processo pelo qual as conexões entre as ideias refletiam com precisão as conexões entre os eventos dominantes no ambiente.

As conexões seriam estabelecidas pelos antigos princípios de proximidade e contingência. Portanto, o desenvolvimento da mente representaria um ajuste adaptativo às condições do ambiente. O autor britânico conceituou o cérebro como um registro organizado de experiências. Por outro lado, ele acreditava que os instintos eram hábitos associativos bem aprendidos.

Ele defendia, por sua vez, que os processos mentais que podem ser realizados por espécies diferentes são reduzidos ao número de associações que podem ser realizadas pelo cérebro de um animal em particular. Isto é, para Spencer, as diferenças entre as capacidades mentais das diferentes espécies seriam quantitativas.

Herbert Spencer e o darwinismo social

De uma maneira muito controversa, Spencer argumentava que os grupos sociais têm diferentes capacidades para dominar a natureza e estabelecer a sua primazia. Dessa forma, os ricos seriam mais aptos do que os pobres, já que alguns estariam no topo da sociedade, enquanto os outros estariam na base.

Para Spencer, a sociedade funcionava de maneira semelhante a um ser biológico. Assim, justificava a dominação dos povos e raças superiores, defendendo o desaparecimento dos mais fracos. Desse modo, as políticas imperialistas e o racismo contavam, a partir deste momento, com um apoio teórico.

Em suma, os mais fortes deviam se impor na luta pela sobrevivência, cujo objetivo devia ser evitar a degradação e a degeneração da sociedade. Caso contrário, se os fracos ou menos capazes superassem em números os mais dotados (fisicamente e intelectualmente), o país corria o risco de se deteriorar.

Herbert Spencer

Reflexões sobre a sua vida e obra

Para concluir, Spencer defendeu uma visão positivista, biologicista e evolucionista da filosofia, psicologia e sociologia. Dava uma importância fundamental à aprendizagem e à adaptabilidade física e psicológica do ser humano. Por outro lado, a sua obra foi mal interpretada por muitas pessoas, que a viam como um substrato científico para as suas ideias racistas e supremacistas.

Que o trabalho de um autor seja mal interpretado e adaptado não é algo exclusivo de Spencer, mas tem sido assim ao longo da nossa história. Algo semelhante aconteceu com Maquiavel ou mesmo Nietzsche, cuja obra foi interpretada a partir da perspectiva do nazismo e do antissemitismo quando, na realidade, o seu ‘Übermensch’ não tem nada a ver com essas ideias. Não é fácil falar de assuntos polêmicos sem gerar controvérsias.

Além disso, ambos os trabalhos filosóficos e literários devem ser tratados com uma certa perspectiva. Ou seja, devemos saber em que época e contexto foram concebidos para, assim, entender um pouco mais o pensamento do autor. Controvérsias e reflexões à parte, não há dúvida de que Herbert Spencer conseguiu se destacar como um grande pensador multidisciplinar em seu tempo e por combinar diferentes teorias que geraram um grande impacto.


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  • Spencer, H. (1917). Principios de psicología. Revista del Centro de Estudiantes de Filosofía y Letras1(2).
  • Spencer, H. (1884). El individuo contra el Estado. Editorial MAXTOR.
  • Spencer, H. (1867). Creación y evolución (Vol. 16). Escuela Moderna.
  • Spencer, H. (1942). La ciencia social. Nueva biblioteca Filosófica.

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